Carta

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Olhei de novo as horas, antes de suspirar de alívio pelo meu tão esperado fim de turno. Finalmente, podia tirar aquela bata branca e voltar a ser apenas mais uma pessoa normal...

O meu nome é Trafalgar Law, tenho 35 anos, e trabalho num hospital como médico-cirurgião, ou mais especificamente, como cirurgião da morte: o único do país que conseguira salvar todos os seus pacientes á beira do abismo. Ou pelo menos, assim pensava quem não conhecia a minha história...

O meu trabalho é tudo menos relaxante. Levanto-me cedo, saio tarde e não tenho tempo para nada, nem mesmo para mim. Estou nesta profissão desde os meus 19 anos e agora, me pergunto se era realmente isso que eu queria para a minha vida, ou se foi a decisão errada a tomar.
Podia ter sido tudo tão diferente se nada daquilo tivesse acontecido...

Cheguei a casa às onze da noite e fui direto para o quarto do apartamento onde vivia, tomei um duche e de frente para o guarda-fatos, procurava algum pijama lavado para vestir. Foi quando olhei para baixo e vi aquela caixa: o segredo que guardo com a minha vida e que me incentivava a continuar a salvar e a cuidar das pessoas, não me permitindo desistir de ser médico, de jeito nenhum... Se não fosse pela sua existência, nunca teria chegado até aqui.

Peguei nela com cuidado e coloquei-a em cima da cama. Apesar dos anos, ainda estava intacta como no dia em a guardei pela primeira vez. Na verdade, o pó parecia ser a única coisa que mudara e mesmo assim, só era notável no exterior. O seu conteúdo, aquilo que realmente era importante para mim, permanecia igual...

Aquelas fotos...

Aquele chapéu de palha...

Aquela carta que mudara a minha vida...

Peguei nela, abri o envelope, e com todo o cuidado que poderia ter, tirei de lá a carta escrita á mão, relendo mais uma vez o que estava escrito. Faziam dois anos deste a última vez que a li e dezasseis desde que a recebi e passei, pela primeira vez, os olhos sobre aquelas palavras.

"Olá Torao... E ai, já faz muito tempo, né? Você se lembra de mim?"

Claro que eu me lembrava. Como eu poderia esquecer?

"Eu acho que não. Não falamos faz muito tempo, então, acho que é normal se não se lembrar. Eu sou o Luffy. Gol D. Luffy... Lembrou agora?

Acho que sim, afinal, ainda está lendo isto não é?"

Sorri ao ler. Luffy e a sua estranha lógica, sempre deixavam qualquer um baralhado e ao mesmo tempo, nunca deixava de me surpreender com a sua simplicidade...


"Eu sei que você deve estar achando isto estranho... Afinal, porque eu te escreveria? Bom, só tem um motivo para eu estar fazendo isto... Estou com alguns problemas e terei de partir em breve, então, antes de ir embora, quero esclarecer tudo com você sobre o que sinto. Por isso, estou deixando isto escrito...


Law, eu... Realmente, amo você..."

Eu sei, e sei disso muito bem. Contudo, a primeira vez que o li, não acreditei e muito menos este pedaço de papel me interessou. Afinal, quantas vezes eu ouvira essas palavras? Dos casais da faculdade que em pouco tempo se separavam, dos meus pais que faleceram e me deixaram sozinho no mundo, das várias pessoas a quem eu salvei a vida e que nem ao menos me reconhecem se passarem por mim na rua.

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