único: ninguém entende o conceito de brincadeira inocente

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Uma festa. No acampamento. Claro que vai dar ruim, ainda mais se Quíron teve que sair e se o deus das festas e do álcool foi deixado sozinho com um bando de adolescentes. Eu consegui passar metade da festa me escondendo pelos cantos, mas Jason me achou e arrastou para a rodinha do perigo vulgo nossos amigos. Me fizeram virar um shot de tequila e outro de vodka. E eu tenho 14 anos! Eu não queria de fato beber, mas com as insistências infantis do grupinho e uma maldita curiosidade, eu acabei cedendo. Eu não estou bêbado, só um pouco zonzo.
Me arrastaram para a "pista de dança”, e eu fiz o que? Rebolei, quiquei, fiz o quadradinho do funk, tremi e dancei até minhas pernas doerem. Tá, eu estou bêbado. Valeu, Grace!!!! Mas confesso que foi divertido. Dançar é legal. Na verdade, eu gosto, eu só não faço em público.
E grande parte dessa festa foi: bebe um pouco, dança, bebe mais um pouco, estapeia a vaca da Drew, bebe mais um pouco, rir até a barriga doer, dança mais uma música, bebe mais, vomita, senta um pouquinho, bebe de novo, dança outra vez, passa uma pequena vergonha, bebe outra vez, dorme um pouco numa posição estranha na cadeira, bebe mais, é mandado parar pelo seu melhor amigo que aliás, te trouxe pra essa bagaça, e assim eu ia indo. E agora, estamos jogando a "inocente brincadeira” de verdade ou desafio. Limite de 3 verdades. Contei que danço escondido, que tenho um vibrador (que na verdade eu nem sei porque eu tenho) e que tenho uma paixão pelo besta do Will, que não se toca de que eu estou a fim dele e insiste em uma amizade forçada. E agora, caiu em mim uma quarta vez. Bosta! E adivinha? McLean.

P:- muito bem, Niquito, agora esteja preparado para encarar o desafio!

N:- se for tentar consumir com a minha dignidade, saiba que eu nem sei mais o que é isso. Manda!

P:- eu te desafio a beijar o Will de língua. Um amasso! Dos quentes!

N:- O QUE??? VOCÊ TÁ LOUCA??? NEM PENSAR!!!

P:- nada disso, di Angelo, é pra cumprir!

N:- e se eu não cumprir, o que acontece?

P:- você fica com cara de covarde.

N:- quer saber? Se eu me importasse com as impressões que eu passo, eu já teria me matado a muito tempo. Então sem chance!

J:- a Nico, é só um beijo! Para de drama!

N:- não é drama, eu nunca beijei ninguém, e nem me sinto lá muito confiante pra isso!!

Percy:- se não vai cumprir o desafio, então se vire o resto da festa sozinho!

Grunhi, inconformado por ver todos os outros confirmando com essa sentença. Me levantei, cambaleando, e procurei a direção do chalé 13, mas sem sucesso. Dei voltas e voltas, totalmente perdido. Esse acampamento é tão grande assim?! Ao invés de achar o chalé, encontrei a praia. Estava surpreendentemente vazia. Ninguém. E não era a toa, estava um completo breu. Me guiei nas sombras e encontrei uma rocha meio plana, onde dava pra sentar. Aproveitei a brisa fresca e o cheiro de sal marinho, tirei o casaco, os sapatos e as meias, e pus os pés na água. Pude ver as estrelas, mas não havia lua. Apenas fiquei lá, apreciando uma paz impossível para um semideus. Não sei quanto tempo estive assim, só fazendo nada, mas vi com o canto dos olhos uma luz se aproximar, vinda da direção da festa.

W:- Nico? É você aí?

N:- não, é a loira do banheiro.

W:- caramba, finalmente te achei!

N:- e por que diabos você tava me procurando?

W:- eu fiquei preocupado, seus amigos disseram que você não cumpriu um desafio e agora estava sozinho pela festa.

N:- não te disseram o desafio, né?

W:- não. Mas eu fiquei doido te procurando, alguém trouxe drogas pro acampamento, e agora elas estão circulando entre os campistas.

N:- meus deuses...

W:- pois é. Por isso comecei a tentar te achar.

N:- obrigado por se preocupar comigo, Will.

Ele hesitou. Acho que eu não costumo agradecer ele pelo que me faz.

W:- por nada. O que você está fazendo?

N:- só, sei lá, aproveitando essa quietude.

W:- hã, eu interrompi?

N:- não. Gosto de você por perto. Vem aqui.

Bati no espaço ao meu lado na rocha, Will hesitou de novo, mas veio até mim e se sentou. As estrelas refletiam uma luz muito suave nos olhos dele, era possível ver apenas sua silhueta, mas estar ali com ele, naquela calmaria, me fez sentir em paz como eu não sentia desde... Bom, na verdade nunca me senti assim tão bem. Encostei a cabeça no ombro dele, Will ficou levemente tenso, mas logo relaxou. Pôs uma das mãos no meu ombro, me fazendo quase derreter. Will era sempre tão meigo...

N:- eu gosto de você, sabia?

W:- v-você, o que???

N:- gosto de você. No sentido romântico da coisa. Coração acelerado, mãos suando, borboletas no estômago, nervosismo, tudo isso e muito mais quando estou com você. Amor sincero. Medo da rejeição. Sofrimento antecipado. Essas coisas.

Eu podia ouvir o coração de Will batendo forte e rápido, podia sentir ele tremer, podia escutar ele ofegar incessantemente. Fechei os olhos e deixei uma lágrima escorrer, eu não sabia o que esperar, mas a expectativa não apertava meu peito de maneira sufocante como normalmente fazia. Senti a mão de Will deslizar para minha cintura, para logo depois me puxar para seu colo, e eu fui sem protestar. Ele colou nossos corpos e testas, esfregou nossos narizes, e esperou que eu desse o último passo, como que uma confirmação de que eu falava sério. E eu falava sério! Meu primeiro beijo estava em andamento, com meses de sentimentos reprimidos vindo a tona. Lágrimas de alívio e alegria deixavam marcas em nossos rostos. Quando nos separamos para recuperar o fôlego, pude enxergar a face dele com muita clareza. Que estranho, ele havia desligado a lanterna que trouxera. Então como...?

W:- Nico, como você está fazendo isso?!

N:- fazendo o que?

W:- brilhando...

Realmente, eu emanava luz. Fiquei catatônico por um momento, mas me lembrei de algo que meu pai me disse uma vez, numa rara ocasião onde ele me apareceu sem exigir nada de mim.
"Os meus filhos costumam ser tomados por ódio, por tristeza e por dor. Mas, quando se fazem felizes, são irreconhecíveis. Meus filhos sabem o valor de uma vida, e quando recebem a oportunidade de ter uma, fazem dela a mais feliz possível. Os poucos casos onde minhas proles ficaram felizes são marcados por muita luz, alegria e prosperidade. É isso que eu quero para você, Nico. Uma vida de verdade. Como eu não poderia ter. Como a que você pode dar a quem te amar. Seja feliz, Nico.”
Marcados por muita luz... Eu não pensei que fosse literal. Mas... Feliz... Eu estava feliz. Cansado, meio bêbado, um tanto sujo e com certeza fedendo, mas feliz. Não pude conter minha risada.

W:- Nico?!

N:- calma, Will. Tudo bem. É assim mesmo. É só, bem, a prova de que você me faz feliz. Eu te amo.

W:- oh meus deuses... Nico, eu também te amo! Muito! Você fica lindo todo brilhante!

Lógico, eu vou matar o Jason amanhã. Ele e toda a galera. Mas agora, eu só quero aproveitar enquanto Will me leva no colo para meu chalé, me prometendo dormir comigo essa madrugada.

Verdade ou desafio - solangeloOnde histórias criam vida. Descubra agora