A Maldição da Mansão Bly

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Ao decorrer da vida, vamos construindo pedaços de nós mesmos, pequenos fragmentos reunidos em um corpo de carne e osso. Idealizamos pais perfeitos, amigos perfeitos, amores perfeitos, profissões perfeitas e sem perceber vamos criando um enredo no qual nos apegamos e vivemos muitas vezes sem questionar.

Vítimas de nossas próprias histórias, estando em meio a liberdade e no lugar de desfrutá-la, passamos a vida criando gaiolas, umas mais bonitas que outras, umas mais espaçosas que outras, umas mais chamativas que outras, mas todas ainda gaiolas.

Apegados a essa ideia, a essa perspectiva, passamos a viver o início de nossas vidas no futuro e o fim das mesmas no passado, mas e o meio? Nessa perspectiva não há meio, pois os muros do presente e do passado esmagam qualquer possibilidade de agora e o que seria o agora além de longos meios esquecidos entre a angústia do início e a melancolia do fim de nossas vidas?

Minha vida é uma cena de A maldição da mansão Bly, pois muitas vezes, cercada pelos monstros que eu mesma criei me vi completamente perdida e atônita. Quantas vezes fui aquela que se fez ausente da família por acreditar não pertencer aquele lugar, quantas outras não fui a forasteira procurando fugas e resoluções do passado assombrado em outros lares e outras vidas. Já fui aquela que acredita que um grande amor se baseia em posse e que o outro não deveria viver sem mim. Também já fui aquela, que perdidamente apaixonada, dei de posse ao outro a minha vida e mesmo não sofrendo uma morte física, a cada partida uma de mim morria e ali permanecia. Já fui aquela que se apegou tanto a algo que fez daquilo uma completa maldição, que afundava quem quer que estivesse ao meu lado junto de mim em meu lago de ideias rasas e fixação profunda. Eu já fui aquela que vive, se entrega e conta pra si a mesma história, de um tempo bom, para não ter que encarar a própria realidade.

Por mais que idealizamos uma linha do tempo de vida ou estimamos algo que vivemos, devemos nos lembrar do quanto a vida é mutável e que se agarrar a algo que viveu ou a expectativa de algo que quer viver, só fará de nossas vidas um eterno filme de terror, com monstros cada vez mais bem elaborados e prontos para nos prender dentro de nós mesmos. Assim como o amor nunca se tratou de posse, mas sim de doação, a vida exige de nós a entrega de viver o hoje, pois só assim é que realmente se vive, afinal o que somos nós além de histórias presentes de um passado contadas em um possível futuro?

A vida dói e muitos momentos não serão de felicidade. Haverá mudanças, haverá permanências, pessoas novas, pessoas antigas, novos amores, velhos amores. Será sempre uma luta constante de você, seus monstros do passado e seus monstros do futuro, brigando pelo controle de se viver o hoje. Muitas vezes, será preciso dizer adeus, teremos de nos sacrificar em prol de algo maior e deixar que uma parte nossa se afunde para que novas vidas dentro de nós mesmos possam ascender, e isso não fará da parte que se foi algo para ser esquecido ou transformado em monstros, pois o que seria de nós hoje sem nossas partes que se tornaram damas do lago ontem?

Haverão muitas fugas. Haverão milhares de devaneios, mas lembre-se, assim como se é viver um grande amor, na vida Você, Eu, Nós, podemos e devemos adormecer, acordar e caminhar para que depois possamos adormecer, acordar e caminhar uma vez mais e até o fim.

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⏰ Última atualização: Oct 17, 2020 ⏰

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