Slice of what I call "life"

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Beomgyu corria desesperadamente pelas ruas escuras e vazias de Seul. Tropeçou em um buraco ou outro, quase caiu de cara no chão e perdeu seu tênis, mas conseguiu chegar inteiro no ponto de ônibus.

Tanta correria pra nada, já que o ônibus em questão nem havia chegado ainda. O que talvez tenha feito o garoto se preocupar à toa pensando que havia perdido o último do dia, mas logo mudou de ideia quando ouviu o barulho característico de motor bem ao seu lado.

O jovem pegou sua mochila que havia apoiado no banco e subiu os degraus do veículo, tomando cuidado para não tropeçar (de novo). Só havia duas pessoas no interior do automóvel, o motorista e o próprio Beomgyu. Por conta disso, ele podia escolher qual assento desejasse, e optou pelo último do lado da janela.

Pôs seus fones de ouvido e escolheu uma música triste, que combinava bem com a situação atual que ele estava passando. Mas antes de narrar os acontecimentos recentes (ou talvez não tão recentes assim) você deve estar se perguntando: o que raios Choi Beomgyu estava fazendo cochilando na biblioteca da sua universidade?

Pois bem. Apesar de todas as escolas, faculdades, universidades e afins estarem de férias para os alunos, por conta da época do ano (final de agosto), o lugar onde nosso querido Beomgyu estuda fica aberto vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, quatro semanas por mês... enfim, você entendeu.

O Choi se aproveita dessa condição para passar todas as tardes possíveis nos terrenos do local e eventualmente cai no sono quando já é tarde da noite. Ele evita o máximo que pode quando o assunto é voltar pra casa, já que sua relação familiar não é das melhores.

Seus pais nunca foram ricos, mas também não tinham uma condição de vida ruim: era um meio termo. No entanto, quando a crise atingiu a Coreia do Sul, eles ficaram desempregados e desde então vivem à base de bicos.

Se o Choi já ouvia desde pequeno sobre importância do dinheiro, de se economizar e de seguir uma carreira lucrativa, agora então que não paravam de encher a cabeça dele com essas mesmas coisas. O único adicional é que além disso, começaram a colocar a culpa da condição financeira da família e o futuro dela para cima de Beomgyu.

Ele não aguentava mais ser chamado de imprestável, inútil, insuficiente e várias outras palavras que começam com 'in' que com certeza não eram ditas com a intenção de elogiá-lo. Coisas absurdas, já que ele sempre se esforçava e se sacrificava para ajudar seus progenitores.

O garoto passava noites em claro estudando para ser aprovado e bem sucedido e finalmente, em algum dia, ele poder ajudar com as despesas da casa. Também fazia tarefas domésticas e era praticamente independente, exceto pelo fato de que ainda morava sob o teto dos pais.

Por último, mas não menos importante, ele abriu mão do seu sonho, sua paixão, seu mundo inteiro: a música. Por quê? Infelizmente esse ramo não era muito bem visto pela geração mais antiga de Seul, pelo fato de não dar tanto dinheiro quanto outras profissões mais populares. Por isso, Beomgyu decidiu que iria cursar administração. Ele tinha um único objetivo: acabar com os problemas financeiros e, consequentemente, os familiares também.

E em questão de minutos, o ônibus faz a curva na rua 313 e chegamos na casa do protagonista, para a sua infelicidade. Ao passar pela porta frontal, ele toma o máximo de cuidado para não acordar ninguém. Afinal, já era tarde da noite e queria evitar perguntas direcionadas a si.

Ele andava de fininho pelo chão de madeira até o seu quarto, subindo a escada, devagar, com cuidado, paciência é uma virtude. Logo poderemos ouvir o som dos tambores imaginários anunciando a pequena vitória de Beomgyu ao chegar no seu destino e...

Creck.

É. Com certeza esse não é o som da vitória.

Foi muito azar ter pisado no degrau frágil, mas pior ainda foi ter acordado seu pai com o barulho alto causado por aquela ação. O velho Choi (não diga a ele que o chamei assim!) não estava de muito bom humor e já partiu para os insultos.

Blá, blá, blá. A mesma ladainha de sempre, Beomgyu pensou. Sua expressão neutra aos comentários do pai irritaram-no e ele acabou falando algo que o filho se questionou se não havia ouvido errado:

"Se você não arrumar um emprego até amanhã, eu te expulso de casa!"

Parece piada, né? Pois é, Beomgyu também achou que fosse. Mas não era.

Completamente abismado com o que havia acabado de escutar, decidiu que precisava de um tempo sozinho para descarregar a enchurrada de emoções negativas que tomaram conta de si. E claro que ele não deixou seu pai a par dessa informação; apenas disparou para fora de casa sem um rumo definido. Só quero ir para o mais longe daqui.

Depois de vagar por ruas tão parecidas que eram quase iguais, e quase se perder duas vezes, finalmente achou um lugarzinho para ficar. Era uma espécie de campo aberto com algumas árvores ao redor e algumas pedras grandes espalhadas pelo chão.

Sentou se em uma dessas pedras e se pôs a colocar para fora todas as mágoas, frustrações, tristezas e aborrecimentos por meio de suas lágrimas e alguns soluços. Estava completamente sozinho, então não tinha porquê se preocupar se alguém o veria ou não.

No entanto, tudo o que ele mais queria no momento era uma companhia.

Beomgyu não tinha a quem pedir ajuda. Não fez amigos em nenhum dos últimos períodos da universidade, e os que tinha no ensino médio se afastaram com a formatura do terceiro ano.

Ele não tinha ninguém além de si mesmo para rir, fazer coisas normais do dia a dia, muito menos para os momentos em que mais precisava de alguém, sendo aquele um deles. Ninguém.

E foi daquele jeito que adormeceu: largado sobre uma grande rocha escutando músicas que combinavam com seu humor. Seu último pensamento foi o desejo de que um milagre acontecesse e mudasse sua vida.

Quem diria que seu pedido seria atendido em um futuro não tão distante assim...

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⏰ Última atualização: Oct 15, 2020 ⏰

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