1° Capítulo

203 13 106
                                    


A janela de Primorosa virou seu fiel refúgio para idealizar o antes e o agora de suas tardes e noites, que passou sem entender o que acontecera com ela nos passados dias, momentos como aquele eram raros, cuja a mesma sentira a quentura da noite subir-lhe a espinha.
Primorosa vivia uma vida pacata, embora fosse jovem e ingenuamente sedutora, sempre foi muito focada nos estudos e no sonho de se tornar uma grande apresentadora de meteorologia, meio que duvidoso a sua escolha por que tornará mais ainda pacata a sua vida já que lia e relia por horas os mesmos livros de geografia e atlas por curiosidade. A meteorologia surge pelo sentimento de ser mais notada, já que tem os cabelos médios cor caju, pele morena, cintura magra e ótima estatura física pronta para estar frente às câmaras.

Porém sua vida mudou na manhã de terça-feira com o caminhão de mudanças a parar em frente à sua porta, deixando móveis de solteiro, cabeceiras e umas tantas estantes e sofás. Aquele simplório caminhão trazia tantos móveis como emoções, ela de longe sentiu isto e como por magia seu coração bateu, seu chão estremeceu ao ouvir o nome do arrendatário da casa, um nome jamais ouvido por ela mas que mexera tanto mas tanto consigo que ficou a janela a espreita a espera do mesmo.

Não demorou muito para chegar aquele que parecia ser o proprietário dos móveis, de longe era um pouco velho para ser solteiro, mas sim, era ele o dono.
Um homem de boa altura, ótima forma física e careca, isto vi-o de perto, porém fechou a janela antes que o mesmo pudesse dar-lhe um olá.

- Clap, Clap, Clap!
Trancafiou-se a sete chave

Respirou fundo por duas vezes e tentou achar-se já que ficara sem entender o por que de um estranho estar a mexer com o seu psicológico, ela é uma moça de poucas paixonetas, emocionalmente estável, jamais alguém mexeu com ela assim tão de primeira, especialmente um careca.

- Ele nem cabelo tem, nem sua voz ouvi, tão pouco o toquei. - Falou para si em tom um pouco alto

Primorosa é simpática para quem conhece, e introvertida para novas amizades, mas isso deixou de lado e saiu para cumprimentar aquele que aparentemente seria seu novo vizinho.
O Dr. Ethan Steve, um profissional da saúde transferido.

- Eu conheço-o?
Falou em tom de Deja vu, sem que ninguém a escutasse

Primorosa deu o seu singelo olá e foi-se, colocou-se em sua scooter e lá foi trabalhar, embora seus pais tivessem o equilíbrio financeiro suficiente para que ela jamais colocasse os pés novamente naquele apertado escritório com um medíocre salário.

Primorosa era uma moça meiga e ingénua mas contudo decidida, e trabalhar para ela era tudo que tinha para sair da rotina. Só não sabia que aquele emprego deixava sua vida mais pacata ainda. Sua chefe, Mei Ling uma senhora de idade, com muito saber e conselhos sobre a vida amorosa que a mesma não tinha.

Toda manhã punha-se a perguntar sobre suas noites com seu amante, se a rapariga está satisfeita, Primorosa arranjava-lhe sempre desculpas, o que desencadeava a senhora toda manhã a filosofia de como a performance da mulher deve sobrepor-se à do homem na hora do sexo.

- Mei Ling é extremamente tagarela.

                               ******

   Era estranho para Primorosa ter que ouvir sempre sermões sobre Amor e Sexo, ouvia de tudo, que quase a tornava expert em algo que ela mesma nunca tivera feito. Divertido também o era porque a senhora Mei, tinha sempre suas estórias enfadonhas de suas loucas vivências.

- Uma vez dei um beijo daqueles num rapaz completamente estranho na rua que ele liga-me até hoje. - Disse a velhota olhando algures no horizonte, na tentativa de rebuscar a imagem

- Pare Senhora Mei, como haveria ele de ter o seu número se foi só um beijo? - Disse Primorosa gaguejando gargalhadas

- Um beijo com paixão, nunca é só um beijo, mas tu um dia vás entender. - Falou e saiu de fininho dando-lhe um estalido nas costas.

   A senhora Mei é sempre tão profunda a falar de amor e engraçada no sexo, não lhe queiram ver a falar dos dois, é uma confusão.

   Como sempre Primorosa saiu pela tarde do serviço e pôs-se a caminho de casa na sua pequena scooter, pensando na última estória que Mei Ling a tivera contado, aquela foi mais do que uma aventura sexual, foi uma estória de amor, uma estória que qualquer jovem gostaria de a viver, estória essa que a levou a pensamentos de quando viveria uma assim, foi então que de repente, tudo muito rápido aconteceu, esbarrou em carro muito mal parado e Primorosa foi ao chão, atingida pela adrenalina e congestionada por digerir demasiada açaí ao almoço, teve um desmaio. Pareceu ficar inconsciente durante um tempinho, mas enfim levantou-se, e lá foi para casa.


   Já em casa Primorosa toma uma água e vai direto para o duche, esquecendo do seu joelho ralado e da dor de cabeça horrível, só conseguindo pensar em quando viveria um romance tão lindo como o que a senhora Mei a tinha contado, digno de um filme, e não de um filme qualquer mas sim de um indicado a Drama do ano pelos Óscar, por seus personagens e enredo fantástico.
   Enfim colocou os pijamas e foi para cama com os mesmos pensamentos que a seguiram o dia todo.
   Morta de sono, apagou as luzes, dormiu e ressonou como nunca tivera feito.

   O despertador tocou e assim começa o sábado. Levantou-se e foi ao espelho. E aí mesmo teve o maior susto que alguma vez pudera ter. Estava a usar uma camisa azul bebé com risca giz masculina.

- De quem será isto? Como vim cá parar? O que fiz eu?
Perguntava-se incansavelmente

   - O que fizemos!
Ecoou do fundo do corredor, segurando duas chávenas de café puro

   Saiu para ver quem era e lá estava em frente dela sem camisa quase nu, um homem de 1,88 de altura, careca, com um peitoral moreno extremamente trabalhado

    - Quem és tu? - Perguntou ela assustada, perplexa e molhada certamente

   - Um amigo. Já nos conhecemos sou seu vizinho, não lembra?

   - Não, não lembro. - Engoliu a seco e falou meigamente. - Como cheguei aqui? Isto é um sequestro?

O mesmo a deixou falar sozinha e desceu para a cozinha. Deixando-a sem entender nada.

Pela quimera de meus laivosOnde histórias criam vida. Descubra agora