you'll find someone.

     A não ser por sua cabeça, apoiada confortavelmente em um travesseiro, Wonwoo estava tecnicamente deitado em sua cama com um de seus livros preferidos, "textos cruéis demais para serem lindos rapidamente". O livro já era antigo, Wonwoo o havia comprado a anos atrás quando estava passando por momentos difíceis, e tão seja pelo fato do livro ter o ajudado tanto, que ele acabou se tornando seu preferido.

     Essa cena não era nenhuma novidade, assim como o fato de Mingyu estar em seu apartamento. Sempre que podiam eles estavam juntos, seja em um encontro ou até mesmo no apartamento um do outro.

     Quando Mingyu entrou no quarto de seu namorado já era tarde, ele havia acabado de sair do banho e Wonwoo já podia sentir o típico cheiro de seu sabonete.

     Wonwoo ainda centrado em seu livro acabou por nem perceber a aproximação do mais alto que, após passar a cabeça entre um dos braços do mais velho que segurava o livro, agora se encontrava deitado no peito de Wonwoo.

     "O travesseiro deve estar mais confortável.." diz Wonwoo suavemente.

     Mingyu logo murmura, negando levemente com a cabeça, "é aconchegante... e quentinho".

     Somente com o modo que seu namorado pronunciou as simples e curtas palavras, Wonwoo havia percebido que talvez este não tivesse tido um bom dia no trabalho. "está tudo bem?"

     O mais velho não recebeu uma resposta de imediato como da última vez, porém o silêncio do garoto em seu peito já explicou tudo.

     "Leia para mim" diz Mingyu, ao invés de responder à pergunta de Wonwoo.

     "O que?"

     "Leia um dos textos do seu livro"

     "Você pode ler comigo" Wonwoo diz, abrindo um pouco mais o livro para que Mingyu seja capaz de ler o mesmo.

     "Por favor.. quero ouvir sua voz" Mingyu diz suavemente.

     Wonwoo sorri fraco e logo folheia algumas páginas, encontrando seu texto favorito do livro. Ele solta o lado esquerdo do livro e começa a se ajeitar, afim de que pudesse acariciar o cabelo do mais jovem com a mão vaga, e então começa a ler.

     "Você vai encontrar alguém que goste de você, daquilo que você é, da sua imagem interna e externa, de tudo que você carrega como bagagem emocional, física e psíquica. Alguém maduro o suficiente pra não te empurrar pra esses joguinhos afetivos. Alguém maduro o suficiente pra te lembrar que o amor se constrói juntos, mas que antes disso vem o próprio, que se constrói a duras penas. Alguém que vai rir da maneira como você toma sorvete. Alguém que te levará a festas, mas que também fará carnavais particulares e bem mais barulhentos dentro de você. Alguém que te levará a todos os cinemas alternativos da cidade. Alguém que fará de sua própria casa um cinema alternativo pra vocês dois. Alguém disposto a lutar por você.
     Alguém que te lembrará diariamente o quão maravilhoso, forte, brilhante e inteligente você é. Alguém que, sem rodeios, vai dizer que te ama. Alguém que se esqueceu do relógio social pra se expressar e se expressa assim mesmo. Que vai te carregar no colo por pura espontaneidade. Alguém capaz de enxergar a dor em você e querer cuidar dela. Não como se ele fosse o herói ou o salvador; mas sim como quem diz: "ei, estou aqui, você não precisa carregar isso sozinho". Um dia você encontrará alguém que te lembrará o porquê de você ter estado sozinho por tanto tempo..."

     Ao terminar da leitura, o silêncio se instala e Wonwoo se questiona se o mais novo acabou dormindo no meio da leitura. Ele coloca o livro ao seu lado na cama e assim que o mais velho se vira de frente para Mingyu, ele percebe o mais novo o encarando.

     "Você encontrou esse alguém?" pergunta Mingyu calmamente.

     Talvez fosse somente a luz da lâmpada refletindo nos olhos de seu namorado, mas Wonwoo realmente prefere acreditar que aqueles olhos estavam brilhando com sua própria luz, assim como duas estrelinhas.

     "Sim, eu encontrei" sussurra Wonwoo, olhando para aqueles mesmo olhos que o fizeram se apaixonar pelo mais alto no dia em que se conheceram.
   
     "Como ele é?" Mingyu questiona, e Wonwoo acredita que já pode ver uma curva nos lábios do namorado.

     "Ele é bom" Wonwoo diz simplicista e, ao ver o rosto de desapontamento do namorado, sorri mais ainda e continua sua frase. "eu diria que "nem os livros. nem os terapeutas. nem os discos. nada explica, tudo o que se move aqui dentro quando você me olha" Wonwoo cita um poema, de mais um de seus livros.
 
     "Quando "você me olha"? esse você parece estar fazendo referência a mim, não?" Mingyu zomba, agora sorrindo.

     "Hm... podemos deixar assim, acho que desse jeito serve" os dois riem por um tempo e depois voltam a se encarar.

     Mingyu, diferentemente de alguns minutos atrás quando chegou em casa, estava sorrindo e se sentia muito sortudo por ter o único homem mudar seu humor de uma hora pra outra com coisas simples, deitado bem a sua frente. Já Wonwoo estava feliz por saber que a mudança no humor do namorado foi causada por ele mesmo, ele se sentia sortudo por poder dirigir seus mais queridos textos e poemas para a pessoa que mais ama em todo o mundo. Quem visse poderia achar clichê ou simples demais, porém para Wonwoo aquilo significava muito, era o jeito de demonstrar seu imenso amor ao garoto mais alto, e Mingyu sabia disso, somente ele era capaz de sentir o privilégio de ter os poemas de amor, recitados por Wonwoo, dirigidos a si mesmo.

     "Acho que no fim não seria um péssima idéia usar um de seus poemas para pedir sua mão pelo resto da vida, hm?" Mingyu sussurra, como se estivesse contando um segredo.

     Wonwoo se sente mais quente com as palavras do namorado porém não consegue conter o sorriso. "Seu idiota" o mais baixo murmura, dando um leve soquinho no peito do homem em sua frente.

     Mingyu segura o rosto do namorado e calmamente se aproxima, "vou considerar isso um "não meu amor, não seria uma péssima idéia" então é melhor se preparar" o mais alto dita entre os beijos deixados no rosto de Wonwoo, a cada palavra, um beijo.
 
     "Espero que possa lidar com as devidas consequências que você receberá após pedir minha mão" Wonwoo ri e logo sente os lábios do namorado colados aos seus.

     "Não é como se isso fosse me fazer desistir da proposta" Mingyu sorri e espera o mais baixo voltar a abrir os olhos, assim que o mesmo os abre Mingyu logo sussurra, "eu te amo".

     E Wonwoo sabe, talvez não seja só o olhar do menino que cause a bagunça interior em si mesmo, talvez seja tudo, seu toque, seu abraço, seus beijos, seu sorriso, suas palavras... E ele tem certeza que essa bagunça não vai terminar nunca, pois todas as vezes que Mingyu diz tais palavras, Wonwoo sente seu coração prestes a sair da boca. São emoções tão quentes e, ao mesmo tempo tão extravagantes e que alvoroçam tanto o garoto, que a única coisa que sai de sua boca de imediato é o "eu também te amo".