Capítulo 02

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Perséfone abandonou um vaso com lírios brancos sobre a grama. Sua mente vagando novamente para a lembrança das palavras de Hades. Se eu entrar nesse jardim... Ele deixaria de ser um jardim. De certo modo, ela conseguia entender tais palavras. Relembrava-se da grama seca, escura e sem vida que servira de rastro para ele quando o viu pela primeira vez, antes que tudo acontecesse.
            Ela, internamente, o agradecia por aquela preocupação. Ele havia disposto a criar aquele pequeno espaço, tão aconchegante, para que ela pudesse se sentir em casa. A ruiva deixou que seus olhos brindassem o local. Amores-perfeitos, lírios, orquídeas, cravos, rosas, violetas, jasmins, e vários outros tipos de flores pareciam dançar na grama verde e sempre bem cuidada. Sorriu, bem silenciosa. Precisava encontrar um método de agradecer a Hades por toda a preocupação que ele vinha tendo consigo.
            Ergueu-se do chão, limpando o vestido azul de algodão e pegando as sandálias de tiras entre os dedos. Correu para o corredor, trancando o portão gradeado atrás de si, um outro aviso de Hades para que ela não esquecesse, e seguiu o corredor, cantarolando uma música que havia aprendido com as ninfas. Parara na porta do quarto quando viu o Senhor do Mundo Inferior, caído na cama.
            Hades dormia, tão serenamente que mais parecia um anjo. Ela deixou as sandálias no canto do quarto sem fazer barulho e, pé ante pé, aproximou-se da cama. Encarou o rosto pálido. A ferida provocada por Cerberus, o cão-fantasma, havia cicatrizado, deixando um rastro rosado pela face. Os cabelos negros escorriam pela colcha negra da cama. Perséfone aproximou-se mais ainda, notando as feições sutis da face de Hades. Ele tinha nariz fino e bem localizado. Os cílios, negros e longos, curvavam-se sobre as pálpebras. O peito subia e descia, delicado, juntamente a respiração.
            Deixou que seus dedos acariciassem os fios negros que dançavam no colchão, deitando-se ao lado do moreno. Suspirou lentamente, aproximando-se dele e inalando o aroma de terracota e hortelã que exalava de suas roupas. Fechou os olhos, sentindo o sono a invadir, lentamente. Adormeceu antes que pudesse impedir.
            Hades acordou, cerca de algumas horas depois, com Perséfone aninhada em seu peito. A cabeça depositada gentilmente sobre seu ombro. Franziu o cenho, mas a alegria parecia visível em sua face. Afastou-se da mulher, tomando cuidado para não acordá-la. Ouviu um resmungo baixo escapar por entre os lábios da ruiva, mas fora apenas isso. Ele sorriu, cansado. Os fantasmas que escaparam haviam sido recuperados e o local de escape, restaurado. Como punição, ele condenara-os a centenas de anos presos nos campos de punição.
            Voltou a encarar a deusa. Ela parecia uma fada, presa em um sonho perfeito. Por um momento Hades questionou-se sobre o conteúdo dos sonhos de Perséfone. Provavelmente algo envolvendo o céu, sol e flores. Algo quente e aconchegante. Algo que, com toda certeza, não teria nada a ver com ele e aquele local. Suspirou, puxando a coberta para cima dela. Pegou o elmo entre os dedos e desapareceu porta a fora.
            Caminhou por entre os corredores. Esqueletos brindavam seus ligeiros “passeios” enquanto batiam continência ou simplesmente se curvavam, derrubando um ou outro osso no processo. Seus passos cessaram no salão principal quando encarara a figura feminina parada no ponto mais alto do cômodo, próxima a dois tronos de ouro e granito. Hera sorriu ligeiramente debochada para o homem.
− A que devo o desprazer de sua visita? – a pergunta a atingiu em cheio e ela ergueu os ombros, desdenhando a piada gerada. – O que você quer?
− Apenas curiosidade. – justificou suavemente. – Como anda a vida de casado? Agitada? Se bem lhe conheço, Perséfone deve estar morrendo de tédio.
            Ele evitou a vontade de revirar os olhos, sentimento provocado pela presença inoportuna da deusa. Hera sorriu divertida, sentando-se no trono que Hades havia mandado construir para a esposa. Era ligeiramente menor que o seu, em granito negro com detalhes em ouro e alguns diamantes encrustados. Ela bateu as palmas das mãos sobre o apoio para braço, conferindo a resistência.
− Esse é um belo trono. – ela disse rapidamente. Hera era basicamente uma deusa patética presa a modernismo, elegância e o sinônimo de família perfeita quando na verdade não era nada mais que neurótica, psicótica e mãe nada exemplar. – Talvez melhor que os do Monte Olimpo.
− Provavelmente. – disse Hades dando de ombros. – Foram construídos por Hefesto... – ao ouvir tal nome, o corpo de Hera retesou e ela ergueu-se rapidamente, porém tratou de evitar o pânico a sentar-se em outro trono feito pelo deus-ferreiro. – Tenho certeza que conhece o trabalho de seu filho. Eu, por exemplo, o admiro.
− Claro, claro. – ela disse aparentemente desconfortável com o rumo tomado pela conversa. – E você é um tolo por confiar cegamente nele.
            Hera estava errada quanto a isso. Hades não confiava em Hefesto. Ao contrário, a lista de deuses em que conjugaria o verbo confiar era minúscula, talvez nula. Conhecia bem a família que tinha e sabia que, a qualquer momento, qualquer um deles poderia usar-se da suposta confiança para traí-lo e destrona-lo. E na lista de desconfiança, Hera era praticamente aquela que a encabeçava.
− Mas quanto ao nosso acordo... – murmurou a mulher, vendo o olhar tenso de Hades mover-se para suas próprias costas, em direção ao corredor. Ela sorriu. Provavelmente ele não havia contado nada a Perséfone. Pobre tola garota. – Espero que o mantenha. E que cumpra sua parte.
− Não me esquecerei. – disse. – Agora, sei perfeitamente que detesta minha moradia. Foi um prazer tê-la aqui, conversando comigo, irmã. Tenha um bom dia.
            Hades ainda viu um sorriso brincar no rosto de Hera antes que ela se desmanchasse em uma rajada de fogo vermelho e dourado. Ele piscou suavemente após isso e caminhou de volta ao quarto. O acordo selado com a deusa, às margens do Estige, seguiu-o, batucando sua razão. Lembrava-se palavra por palavra do juramento que fizera. E, se pudesse voltar ao tempo e desfazer todas elas, o faria. Suspirou quando encontrou a porta do quarto. A abriu, silenciosamente, esperando encontrar Perséfone ainda adormecida. Mas assustou ao vê-la sentada sobre a cama, as pernas unidas ao corpo, as mãos desenhando círculos imaginários sobre o colchão.
− Esperava que viesse. – ela murmurou breve e suavemente. – Estive pensando o tempo todo. Prometera-me que eu poderia passar meio ano com minha mãe. – a conversa seguia em uma direção duvidosa. Hades ainda conseguia recordar as principais ideias sobre o acordo com Demeter sobre a permanência de Perséfone no Mundo Inferior. – Eu gostaria de saber se poderia permitir-me vê-la.
− Perséfone... – ele começou. Estava prestes a dizer que ela apenas poderia ver a mãe em seis meses, mas o olhar entristecido no rosto da deusa o fez questionar suas opiniões. O plano de Hera era ver Perséfone sofrer ao ser mantida cativa naquele local. Ele apertou os punhos tão forte que sentiu o sangue querer molhar suas unhas. – Está bem... – a raiva de Hera era tanta que ele faria qualquer coisa para ver a Rainha dos deuses, enfurecida. Ela não o controlava. – Pode ir para sua mãe. Mas realmente espero que esteja aqui em seis meses.
            Perséfone sorriu divertidamente. Pulando na cama enquanto Hades a observava. Para ela, o jardim não parecera ter sido o suficiente. Demeter estava certa. Perséfone precisava do sol, do calor, da terra e das plantas. Ela era a vida, completa de luz e alegria. Se permanecesse trancada naquele espaço escuro, mórbido e torturante, acabaria por desfalecer-se. Era fato que deuses não morriam, mas eles podia se inibir a ponto de tornarem-se apenas lembranças, mortos por dentro. E ele não desejava aquilo para Perséfone. Ele saiu pela porta enquanto a ouvia cantarolar algo dentro do quarto. Suspirou, deixando o corredor para trás e seguindo em direção aos campos de punição.
            O quarto parecia silencioso demais durante a noite. Perséfone havia partido para superfície durante o entardecer. Hades encarou o cômodo, amplo demais depois da ida da deusa. Suspirou, deitando-se sobre a cama. Os olhos foram presos no teto. A imagem de dor brincava com sua mente. Pensou em subir a superfície, admirá-la a distância mais uma vez, mas desistiu da ideia antes que ela tomasse mais força. Aquela época já havia passado, sido deixada para trás. De perseguidor, ele havia evoluído e tomado o lugar de marido de sua caça. Fechou os olhos. A mente invadida por imagens dançantes, brilhantes e animadoras de Perséfone. O sorriso quente dela embalou seus sonhos quando finalmente adormeceu.
[...]
            Perséfone caminhava, levemente arrependida. Sentia-se feliz de poder ver sua mãe novamente, mas sentia-se mal por ter deixado Hades assim. Ela se sentia terrível por simplesmente abandoná-lo, como se sua companhia fosse a pior em todos os momentos. Passou as mãos sobre as rosas brancas do campo. Fechou os olhos, imaginando as feições sutis do rosto dele. O som de sua risada baixa e levemente rouca, invadiu sua mente. A mão, grande e quente, quando ele a tocou pela primeira vez. O leve rimbombar de sua respiração enquanto adormecido e como seu corpo era, definitivamente, quente ao contrário do que diziam os boatos.
            Demeter aproximou-se da filha, estranhando o silêncio que seguia-se dela. As pernas cederam e ela sentou-se ao lado da mais jovem. O vestido marrom de colheita dançava com a grama rasteira. Perséfone ergueu o rosto, assustada com a aparição repentina da mãe. Torceu para que a vermelhidão em seu rosto passasse desapercebida pela mulher, afinal, em seus pensamentos, as coisas começavam a sair do nível de pureza e seguiam algo mais ardente. Inevitavelmente, Perséfone pegou-se pensando quando aquele comportamento havia surgido em si.
− O que houve minha pequena brisa de primavera? – a voz de Demeter fez-se audível. O vento fresco chocando-se em seu rosto e fazendo com que os cachos brincassem, divertidos. Os olhos castanhos de Demeter fixaram-se na figura de Perséfone. Ela parecia ligeiramente desconfortável e seriamente corada. – Aconteceu algo? Você está completamente corada.
− Não há nada. – disse rapidamente a outra deusa. Perséfone ergueu-se, limpando o vestido de algodão com as mãos. Algumas folhas caíram no chão com esse movimento, fazendo a atenção de Demeter prender-se, definitivamente na filha. Um sorriso desastroso escapou pelos lábios da mais velha. Perséfone, ao notar a reação da mãe, respirou o mais profundamente que pudera. – O quê?
− Desde que você chegou tem andado estranha. – comentou a deusa da agricultura, erguendo-se também. – Passei duas péssimas semanas sem você aqui, em meus braços. Inúmeros pensamentos, cada um pior que o outro, brindavam minha mente quando eu a imaginava sozinha no Mundo Inferior com ele. O que ele fez com você? Por acaso, ele forçou você a fazer algo? – Perséfone corou mais ainda com as perguntas de sua mãe e virou-lhe as costas. – Perséfone!
− Não houve nada, mãe. – disse. A voz embargada. De certo modo, ela esperava que Hades desse algum sinal, ou fizesse algo que demonstrasse que estava interessado nela, mas nada viera do atual marido. – Extremamente nada.
[...]
Seis meses depois
            Hades deixou os lábios abandonarem um suspiro aliviado. Os seis meses sem a presença de Perséfone haviam sido desgastantes e atordoantes. A pouca cor que existia em sua vida, parecia ter o abandonado. Detestava o maldito acordo com Hera, mas agradecia-o, pois assim poderia vê-la novamente. Soltou outro suspiro, dessa vez, cansado. Ao recordar-se do acordo, também recordara-se que deveria cumprir com sua parte e a simples menção a isso, já o deixava desconfortável. “Mas esse acordo só funcionará se vocês terem logo um bebê. Afinal, que casamento seria se não tivessem ao menos um filho?”, as palavras expressadas pela deusa infame ainda rondavam sua mente enquanto estava sentado na cama.
            Um esqueleto apareceu na entrada do quarto. Ele usava uma túnica negra cobrindo os ossos. Caronte, o barqueiro responsável por carregar as almas para o Mundo Inferior. Ele despejou uma pedra branca. O som da pedra rolando no chão de pedra fez com que Hades despertasse de seus devaneios. Ele franziu o cenho ao notar a presença do barqueiro ali, tão longe do Estige.
− O que houve, Caronte? – perguntou-o, pedindo já que não houvessem mais problemas envolvendo almas perdidas na superfície ou que Cerberus não tenha destruído outro pelotão de esqueletos para mordiscar os ossos. – Diga de uma vez por todas.
− Há um problema com o barco, meu Senhor. – a voz de Caronte era trêmula, sem vida. Hades ergueu uma das sobrancelhas e soltou um suspiro cansado depois. – As moedas estão escorregando do barco, caindo no Estige. A viagem tem sido agoniante para mim e para as almas dos mortos.
− Encontre Minos na entrada dos campos. – falou rapidamente o Senhor do Mundo Inferior. Hades deixou os cabelos negros escorregarem pelo colchão. Respirara profundamente, inalando os últimos resquícios do cheiro de Perséfone que haviam ficado no colchão. – Peça-o que mande alguém olhar esse problema. Provavelmente não é nada sério, apenas algumas novas reformas e ficará novo em folha. Iremos também indenizá-lo por suas perdas. – Hades comentou referindo-se as moedas do barqueiro que escorregaram para o Estige. – Apenas converse com Minos.
            Minos era, como ele gostava de dizer, um maldito rei que agora servia como juiz das almas. Ele e mais outros dois, que provavelmente foram tão ou mais ruins que ele durante a vida, julgavam as almas e as encaminhavam para os determinados campos, nos quais permaneceriam eternamente, ou até reencarnarem. Mas isso ia muito do humor de Hades.
            Caronte deixou do ambiente, fechando a porta atrás de si. Hades pegou um dos lençóis da cama. O mesmo que ele havia usado para cobrir Perséfone seis meses antes. O cheiro da deusa ainda inundava as fibras do tecido fino, inebriante, completamente desesperador. Fechou os olhos e, antes que pudesse evitar, agarrou-se ao lençol negro e adormeceu.
            Acordou com o som de passos ressoando no chão. Seus olhos abriram o suficiente apenas para notar cabelos ruivos caindo por sua face, desajeitados. Um rosto feminino e delicado mostrou uma expressão assustada quando ele a segurou, puxando-a para junto de si e invertendo as posições em que estavam. Perséfone sentiu suas costas chocarem-se ao colchão macio. Hades estava sobre si. As pernas dele, aberta, prendendo-a no centro. Uma mão dele erguia as duas mãos femininas, prendendo-as no topo de sua cabeça. A coroa de flores escorregou por sua cabeça, caindo ao lado.
            Ela havia imaginado, secretamente, este momento. Mais vezes que julgava necessário enquanto estava com a mãe na superfície. Sua respiração estava acelerada. Sentia uma corrente elétrica transpassar por seu corpo, fazendo com que cada nervo ascendesse aquela sensação quente e, literalmente, prazerosa. Entreabriu os lábios quando o rosto de Hades aproximou-se do seu.
            Não que ele nunca houvesse imaginado aquilo, mas ainda assim, tinha medo. Ele tinha medo do que Hera poderia fazer caso descobrisse que ocorreu tudo do modo como ela planejava. Ele cerrou o maxilar. As mãos afrouxaram o aperto nos pulsos de Perséfone o suficiente para que ela conseguisse movê-los. Contra todos os instintos que brandiam seu corpo, Hades se afastou, caminhando rapidamente para longe do quarto.
            Perséfone manteve-se inerte, na cama. Os olhos fixos no teto rebaixado. A respiração acelerada e agoniante. Apertou a colcha da cama, cedendo as lágrimas. Se ele não a quer daquele modo, então porque causou com ela? Apenas por capricho? Apenas para glorificar-se como o deus responsável por acabar com a alegria de sua mãe? Apenas para ser lembrado como um cretino que a raptara? Chorou. Chorou até não conseguir mais derramar lágrimas.
            Hades parou a poucos centímetros do jardim de Perséfone. Respirou profundamente. Seu peito inflava e o ar escorregava com dificuldade por seus pulmões. Ela estava mais linda do que antes. Os meses na superfície fizeram o maior bem para a deusa. O tom de pele pálido adquirido no Mundo Inferior fora substituído por um ocre dourado, bem como o de Artémis e de suas caçadoras. Os cabelos estavam mais longos e volumosos. O corpo, oh, sim, o corpo dela estava mais arrasador do que ele conseguia se lembrar.
            Encarou sua própria mão, apertando-a o mais forte que conseguia. A sua vontade era de retornar aquele cômodo e possui-la, bem como deveria fazer. Bateu a mão sobre a parede dando meia volta. Ele provavelmente se arrependeria. Provavelmente veria, no dia seguinte, que havia cometido o maior erro de sua vida. Parou na porta do quarto. O som acústico de soluços chegou a seus ouvidos. Perséfone se retraiu na cama, virando o rosto em direção a porta quando notou que ele havia retornado. Lágrimas finas escorriam por seus olhos e Hades automaticamente as assimilou ao medo. Normalmente era isso que vinha a sua mente. Ele a assustou demais com a ação repentina.
            Perséfone virou para ele, colocando as pernas dançando para fora da cama. Limpou ruidosamente as lágrimas de seu rosto e desceu da cama. Com passadas confiantes, ela aproximou-se do marido. Ele era muito mais alto que ela, então teve de contentar-se a olhar para cima ainda vários centímetros. Sentiu o corpo tremer por antecipação e não sabia bem o que isso queria dizer.
− Por que saiu correndo? – a pergunta de Perséfone pegou Hades desprevenido. Ele a encarou, confuso e surpreso com tal declaração. Os olhos azuis procurando alguma resposta na face da deusa. Perséfone aproximou-se mais um passo, ficando com o corpo ainda mais próximo do de Hades, separado apenas por uma resga de ar. – Por que não continuou? Por que me fez querer-te tanto a ponto de fazer-me chorar?
            Arregalou os olhos assim que ouviu tais palavras escaparem dos lábios finos de Perséfone. A mão dela aproximou-se de sua face, acariciando o resquício de cicatriz que ficara da tentativa de parar Cerberus. Ele fechou os olhos suavemente. Para Perséfone, aquela imagem parecia uma obra de arte, idêntica aquelas que Apolo, seu irmão, teimava em mostrar-lhe, sempre chamando-as de obra-prima. Para ela, Hades parecia uma obra-prima.
            Aproximou seu rosto do masculino. Os lábios finos chocaram-se, quentes, nos lábios de Hades. Uma corrente eletrizante percorreu o corpo do Senhor do Mundo Inferior. Ela, inexperiente, apenas aconchegou suas mãos próximas ao corpo de Hades, aninhando-se nele e puxando-o pelo pescoço. Hades abriu os olhos quando os lábios quebraram o contato. Os olhos dele buscaram os dela, repletos de uma sensação quente que tomava conta de seu ser.
            Apertou-a contra si, depositando novamente seus lábios contra os macios femininos. Hera não poderia espioná-lo em seu próprio domínio. Ali, ele e Perséfone, estavam protegidos das garras da megera. Empurrou o corpo feminino para dentro do quarto, trancando a porta atrás de si. As mãos de Perséfone remexiam-se sobre o abdômen de Hades, arranhando o tecido, ansiando por tocá-lo. Sentiu o colchão abaixo de si quando ele a deitou, ficando novamente por cima. Os lábios masculinos brincaram, escapando dos dela e descendo em direção ao pescoço alvo. Os dedos tentavam descer as alças da túnica branca que ela usava. As mãos de Perséfone esbarraram nas costas do moreno, pressionando as unhas sobre a pele pálida. Hades deixou um som escapar por seus lábios, separando-se apenas o suficiente para retirar a roupa que cobria seu busto.
            Os olhos de Perséfone admiraram a extensão dos músculos másculos. Passando as mãos por toda a extensão dos ombros de Hades, ela sentiu a única peça de roupa que a cobria, escorregar rasgada a distância. Suas mãos fugiram, tolamente tentando cobrir a própria nudez. A respiração era sôfrega. O ar parecia faltar-lhe e o olhar incandescente de Hades sobre si não ajudava a amenizar aquela sensação. A mão dele acariciou seu rosto, colocando uma mecha dos cabelos ruivos para trás.
− Você é linda. – suspirou ele aproximando o rosto do pescoço de Perséfone. O hálito quente chocando-se sobre a pele, arrepiando-a. O nariz fino acariciou-a, inalando o aroma de flores que exalava da pele. Ela tremeu ligeiramente enquanto passeou as mãos sobre os ombros dele, novamente. – Perséfone... Eu te amo.
            Aquelas três palavras que seguiram seu nome foi a última coisa que ouviu antes que uma dor aguda resmungasse no íntimo de seu ventre. Ele estava dentro de si, literalmente. Os braços pousados ao lado de sua cabeça. Os olhos fixos nos delas. A respiração entrecortada, o hálito morno. Perséfone mordeu os lábios quando sentiu-o mover-se sobre si. As pernas batendo no chão. Os quadris, chocando-se um ao outro. Os lábios dele, famintos, presos em seu pescoço. Ela o arranhara, suavemente. O calor percorrendo suas veias. A cor vermelha tomando conta de seu rosto, corado e suado. O brilho de prazer escapando por sua pele, bem como por seus olhos. Deixou um gemido gutural escapulir quando ele apertou um dos lados de sua cintura, aumentando o contato.
            Sentiu o quadril erguer-se, inconscientemente, buscando por mais contato, por mais dele. Hades deixou um sorriso manso escapar pela curva de sua boca. Chocou os lábios contra os delas, mordendo suavemente o lábio inferior de Perséfone. Ele jogou seu peso sobre ela quando, ainda mergulhada em uma onda de prazer alucinante, sentiu algo a desmanchar-se dentro de si.
            Ela suspirou exausta quando ele escapulira para fora de si. Os braços dele ainda prendiam sua cintura, bem como as nádegas, apertando-as. Mordeu os lábios, distribuindo beijos pelo rosto de Perséfone. Ela passou as mãos sobre os cabelos, agarrando os ombros masculinos em seguida. Hades deitou-se na cama, puxando-a para aninhar-se em si. Beijou o topo da cabeça dela, entre os fios ruivos. Sentiu a respiração dela amenizar até que notou que ela dormia. Ele sorriu, completamente exausto. Adormecera logo em seguida, nos braços daquela que amava.

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⏰ Última atualização: Oct 16, 2020 ⏰

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