Eu nunca pensei que fosse me apaixonar. Para mim, o amor era uma mera ilusão, uma história que os adultos contam às crianças quando estão entediados. E, de certa forma, eu não estava totalmente errada, mas sim sendo precipitada. Nem todos os romances têm finais felizes, assim como alguns podem ter. E, portanto, eu não queria arriscar a sorte; pois, de duas uma: ou eu me apaixonaria ardentemente, ou eu quebraria meu coração e sofreria por tempo indeterminado.
Então eu me fechei. Eu me isolei de tudo e todos. Bom, na verdade é quase isso. Eu só não dei mais brecha para que nada podesse começar e, desta forma, não podesse terminar. Até porque, o que o olhos não veem, o coração não sente, não é? Então o que o coração não sente, os olhos não veem.
Mas de repente tudo mudou. As coisas já não eram mais como antes e eu sequer me reconhecia mais. Passei de uma pessoa normal, de um bairro normal, de uma cidade normal... para uma pessoa que pertence à realeza.
Mas não foi assim do nada... Quer dizer, foi para mim. Mas não vai ser para vocês. Tenho intensões de contar como tudo aconteceu, ou como eu acho que tudo aconteceu.
Quando eu tinha quinze anos, mamãe e papai me levaram para a Itália. Fomos a vários lugares e eu não pude deixar de me apaixonar por aquele país. Mas eu não ficaria lá, então ignorei as circunstâncias para não me apegar. Porém, eu não contava que gelato era mesmo assim tão bom; sempre achei que fosse superestimado... Mas, advinha? Não é. Ao menos não para mim.
Quando pegamos o avião de volta das nossas férias para casa, tive outra surpresa: não estávamos voltando para os Estados Unidos, mas sim indo visitar a Inglaterra. Foi uma grande surpresa. Eu não imaginava e muito menos esperava por isso. E, como escrito no meu diário, dito nos portas retratos do meu quarto, insinuado no papel de parede do meu celular e no chaveiro da minha mochila: a Inglaterra era a minha viagem dos meus sonhos. Desde que me entendo por gente ansiava em conhecê-la.
Mas nem tudo saiu como planejado... Ou melhor dizer: como esperado, já que eu não estava planejando nada.
Papai passou a semana toda em que ficamos lá estranho. Quando saíamos juntos, ele dava um jeito de escapar para algum canto somente para falar ao telefone. Só que ele não contava que eu o observava em todas as vezes que ele fazia isso. E sempre era a mesma coisa: cara e bocas estranhas, preocupadas, exageradas.
Duas semanas depois eu vim entender por quê: papai estava com câncer terminal e não sabia se tinha sequer mais um mês de vida. Seu plano era conhecer toda a Europa. Mas ele preferiu me levar aos lugares mais importantes para ele, que marcaram a sua vida.
Eu estava muito cega para não ver, mas o tratamento que ele andara fazendo sem me contar o estava substituindo por uma figura vazia, distante, sem vida. Papai estava tão abatido e eu não consegui notar isso debaixo do meu próprio nariz.
Quatro semanas depois ele se foi.
Foram os dias mais intensos da minha vida, os mais tristes e deploráveis. No dia do enterro eu fugi da minha mãe e fui para a casa de Mary, minha melhor amiga e um pouco fora das regras. Eu precisava dar um jeito de acabar com aquela dor horrível que sentia, e pensei que beber ajudaria. Mas eu me enganei, me enganei feio. Só consegui ficar bêbada e, para uma pessoa, um pouco escrota. Eu sabia que Mary teria bebida na casa dela, e sabia que ela usava outras coisas. Então foi a primeira vez em que fumei também.
Enquanto eu fazia isso, não sentia nada. Mas depois que o efeito passou, senti vergonha de mim, nojo, raiva.
Papai ficaria decepcionado em saber que eu fiz uma coisa dessas. E pode ser que ele tenha me visto o tempo todo. Eu não sei para onde ele foi, mas me falaram que ele estaria sempre comigo.
Eu saí da casa de Mary devastada. Agora eu tinha comigo que nunca mais me permitiria ser feliz. Que não me envolveria com ninguém, nem faria novas amizades. Eu não merecia isso.
Eu era uma hipócrita.
A minha percepção sobre o amor veio à tona quando pisei os pés no gramado de casa. Quando meus olhos encontraram a janela aberta e de dentro de casa eu pude ver minha mãe sentada no sofá com a cabeça apoiada nas mãos e o corpo todo tremendo, eu percebi que aquilo era amor.
Então eu respirei fundo, juntei a coragem que eu precisava para entrar e quando dei um passo à frente, tudo ao meu redor começou a girar e foi questão de segundos para eu me virar e vomitar na grama.
Que vergonha de mim.
Mamãe abriu a porta após me escutar soltando tudo o que eu havia ingerido nos últimos dias e sua expressão me entregava o desgosto que ela sentiu de mim naquele momento.
Porém, o choque maior veio quando uma senhora e um cara demasiado grande saiu de detrás dela. Eles mantinham uma feição séria. Pareciam até robôs, não tinham lá muitas expressões no rosto.
Mamãe levou a mão à boca e demorou um tempo para processar o que havia acontecido. Depois ela se apressou a correr até mim para vir me ajudar. Eu não desviei meus olhos da senhora e do cara bombadão por nem um segundo.
Quem eram eles e o que estavam fazendo aqui?
Quando percebi que eu estava apoiando meu corpo na grama com as mãos e olhando para eles como se toda a raiva que eu acumulei na vida fosse entrar em erupção agora, desviei meu olhar e procurei minha mãe. Ela olhava para mim com os olhos tristes, marejados, inchados. Seu rosto estava vermelho e sua respiração ofegante. Ela devia estar chorando desde a última vez que a vi, no enterro.
Mamãe estendeu a mão para mim, que aceitei a ajuda e com um impulso me levantei. Ela colocou uma de suas mãos no meu ombro direito e assentiu para ver se estava tudo certo. Assenti de volta, como que concordando com ela. Mas não estava nada certo.
Nos aproximamos dos estranhos na porta e eu hesitei quando senti um calafrio percorrer meu corpo. Aquela senhora era incrivelmente familiar e aquele homem era extremamente assustador.
— Querida — mamãe começou, sem muita emoção na voz. —, estes são Lady Sophie e Sr. Johnson.
Olhei para ela sem entender por que ela estava nos apresentando, então ela retomou:
— Lady Sophie veio da Inglaterra... Ela é a... — Vendo que mamãe não conseguia terminar de dizer, a tal Lady Sophie se apressou em tomar sua frente.
— Sou a rainha da Inglaterra, não a que você deve estar imaginando, mas mesmo assim rainha. E sou mãe de Louis William Tomlinson. — Congelei. Esse era o nome do meu... — E, portanto, sou sua avó.
Se eu precisava de algum gatilho para ter o mundo caindo sobre mim outra vez, aquele foi o mais preciso que alguém poderia imaginar.
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Um Príncipe Tentando Sobreviver À Realeza
FanfictionAmber viu sua vida mudar completamente após a morte de seu pai. Triste e sem saber como continuar, recebeu a notícia de que sua avó nunca apresentada a ela é a rainha da Inglaterra e veio aos Estados Unidos levar a menina para passar um tempo com el...