Capítulo 1

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No dia seguinte eu já estava com as malas prontas. Mamãe e eu passamos a noite as fazendo para que de manhã eu, Sr. Jhonson e Lady Sophie pudéssemos ir para o aeroporto e pegar o avião particular de sua propriedade e assim partir para a Inglaterra - onde, por pedido da minha... da mãe do meu pai, eu deveria passar uma temporada até me sentir confortável e melhor com tudo o que aconteceu. Supostamente ela queria me conhecer. Eu não compartilhava do mesmo querer, mas não queria entristecer ainda mais minha mãe, por isso aceitei de bom grado.

Àquela altura eu já havia parado de chorar, ou ao menos agora disfarçava melhor. Era tudo muito recente e de uma loucura sem tamanho. Passei quinze anos da minha vida, ou melhor dizer, quase dezesseis - já que faço aniversário no mês que vem -, achando que meu pai era só um norte-americano qualquer. Mas de repente eu descobri que ele era herdeiro ao trono. E isso com certeza foi um choque para mim, um choque que ainda percorria as veias do meu corpo me fazendo ficar eufórica a cada passo dado.

— Por que você não pode ir? — perguntei à minha mãe quando saímos do quarto.

Ficamos um tempo paradas no corredor, perto da escada, com as malas pesadas a reclamar ao nosso redor.

— Porque sua avó quer esse tempo só com você. — Ela me olhou com pena, o mesmo olhar que eu lançava para ela, e deu um sorriso fraco, quase imperceptível. — Eu sei que você deve estar muito confusa, e sei que deve estar ansiando por uma explicação — ela se aproximou de mim e me envolveu num abraço desengonçado por causa da mala que eu segurava na frente do corpo. — Mas na hora certa você vai entender. E não cabe a mim te contar. Acho que esse era o último desejo dele: que você soubesse a verdade.

Franzi o cenho.

— Que verdade?

Mamãe não respondeu, apenas alargou o sorriso e pegou a mala da minha mão, colocando em cima da que ela segurava e assim descendo as escadas com ambas deitadas em seu colo. A cada degrau em que ela pisava, fazia uma pausa para conferir se estava pisando certo.

Fiquei imóvel por um tempo. Agora que eu estava começando a perceber que eu iria deixar tudo o que conheço para ir para a Inglaterra, onde supostamente o meu pai, que era um príncipe, morava quando tinha a minha idade. A ficha caiu de uma só vez e quase me levou com ela. O que eu estava fazendo; por que eu estava fazendo? Qual é a verdade que ele queria que eu descobrisse e por que precisou morrer para que eu soubesse disso?

Tantas perguntas, mas nenhuma resposta.

Quando enfim me mexi e comecei a descer a escada, Sr. Jhonson apareceu na porta, fazendo com que eu levasse um pequeno susto e recuasse para trás com a mão no peito e a respiração acelerada.

— O senhor me assustou, senhor. — Falei com a voz trêmula.

Ele continuou parado, sem nenhuma expressão em seu rosto - o que não facilitava as coisas para mim e muito menos fazia eu me sentir mais à vontade.

— Sua mala, por favor, senhorita. — Foi a primeira vez que eu o escutei falar, e confesso que para o seu porte eu esperava uma voz mais grossa. No entanto, ele soava como Dan, nosso vizinho de treze anos.

Entreguei minha maior mala a ele e sorri, como em agradecimento. Ele não retribuiu o sorriso. Pelo contrário, pareceu fechar ainda mais a cara.

— Essa é a última vez que eu tendo socializar com ele, juro. — Sussurrei no ouvido da minha mãe quando saí de casa e a encontrei parada ao lado da porta.

Ela riu baixo.

— Dê tempo ao tempo, querida. Às vezes as pessoas têm seus melhores dias, e às vezes os piores — ela se virou para mim. — Ele deve estar em um dos piores. — Ela piscou disfarçadamente e sorriu. — Não pense demais, ok? Aproveite esse tempo com a sua avó.

— ... A que eu acabei de descobrir que tenho. — A cortei.

— E você pode descobrir mais coisas, se permitir. — Ela me abraçou. — Nos vemos no natal, está bem? — perguntou, olhando fixamente nos meus olhos.

— Está bem... — Antes de eu sair ela deixou um beijo na minha testa.

Me aproximei do carro nada discreto para quem quer passar despercebido e esperei que slenderman, apelido carinhoso que acolhi para chamá-lo, abrisse a porta para mim. Lady Sophie... Minha avó, estava sentada do outro lado do banco, com as mãos sobre o colo e um óculos de sol que me impedia de ter uma ideia de como ela estava se sentindo.

Após me sentar, abri a janela para acenar para a minha mãe.

— Na hora certa, você vai saber. — Ela falou sem emitir som e, eu, com algumas aulas que tive sobre ler lábios, entendi o que ela quis dizer.

Assenti para ela e devolvi o beijo que ela me mandou pelo ar.

Quando o carro ligou e começamos a sair, arrisquei olhar para o lado. Sophie permanecia sem se mexer e comecei a me perguntar se ela era mesmo de verdade.

Foi quando ela abriu a boca que eu recuei de volta para a minha janela e me afundei no banco.

— Pode fechar o vidro? Por favor? — Ela tinha uma voz meiga, mas intrigante.

— Claro.

E essa foi a única interação que tivemos antes de chegar ao aeroporto.

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⏰ Última atualização: Oct 18, 2020 ⏰

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Um Príncipe Tentando Sobreviver À RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora