Príncipe Cativo

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Se perguntassem a Laurent, ele saberia dizer o momento exato que seu inferno começou.

Foi no exato instante em que Auguste morreu.

Quando seu irmão foi assassinado sua vida inteira desmoronou.

Quando perdera a mãe, Auguste estava lá. Ele lhe abraçou, permitiu que chorasse em seus braços e adormecesse em seu colo. Ele lhe consolou no funeral, segurou sua mão e não a soltou. Não saiu do seu lado em momento algum.

"Vai ficar tudo bem." Ele lhe prometera. "Nós vamos ficar bem. Eu estou aqui com você. Eu sempre vou estar aqui para você."

E Laurent acreditou em cada uma daquelas promessas.

Só que elas eram mentiras.

A perda da rainha de Vere fora uma tragédia que enfraqueceu a nação. E sabendo disso, Akielos atacou.

Laurent já havia brincado de guerra com seu irmão antes. Mas aquilo era diferente. Aquilo era real. E ele sentiu isso quando viu o irmão trocar a clássica espada de madeira que usavam, por uma lamina de aço afiado; as roupas comuns do dia-a-dia veretiano, por uma pesada armadura completa.

"Nosso povo tem de saber que seu príncipe luta por eles." Dissera Auguste, quando Laurent lhe implorara que não fosse para a batalha.

"Então eu também irei. Também sou príncipe." Lembrava-se de ter dito.

Mas Laurent era jovem.

Jovem demais.

Mal tinha a capacidade de erguer uma espada verdadeira.

Ninguém em sã consciência mandaria um menino de treze anos para o campo de batalha, muito menos o próprio filho. Por isso foi uma surpresa para todos quando o irmão mais novo do rei conseguiu convence-lo a permitir que Laurent fosse, mesmo que estivesse completamente cercado pelos homens do pai.

Laurent se lembrava daquele dia. Lembrava como se sentira orgulhoso de si mesmo por ter recibo essa permissão, de ter se sentido um homem e não mais um menino.

Mas Auguste não gostara. E ele nem mesmo precisou falar para que seu irmão percebesse isso. Estrava escrito em seu rosto, nos lábios apertados e tensos, no modo como toda a sua postura se tornou cautelosa.

Apenas muitos anos depois Laurent entenderia o que havia acontecido realmente.

Auguste foi para o front. Liderar os soldados era seu dever como príncipe herdeiro, e era bom nisso. Auguste era excelente em tudo o que fazia, por isso Laurent admirava tanto o irmão mais velho.

Ao príncipe mais jovem não foi permitido sequer chegar perto da linha de frente.

Ele se separou do irmão, com mais uma promessa que seria quebrada.

"Eu vou voltar logo pra você."

As noticias das mortes de seu irmão e seu pai chegaram quase ao mesmo tempo.

Naquele dia Laurent sentiu seu mundo desabar.

Seu irmão fora assassinado, disseram-lhe. Numa luta um contra um. Príncipe contra príncipe.

Damianos de Akielos matara seu irmão. Damianos, o matador de príncipes.

Já seu pai morrera com uma flecha akielon em sua garganta. Não era possível rastrear o arqueiro. Uma flecha perdida em meio à confusão da batalha atravessara o pescoço do rei, e ninguém soubera quem a disparara.

Laurent, em um curto espaço de tempo, perdera tudo o que mais lhe importava na vida. Mais do que uma coroa, mais do que um trono ou um reino; sua família era tudo. Seu irmão era tudo o que mais importava, era quem mais amava.

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