Love Knows

Prologo

A encarei por alguns minutos pensando nas diversas possibilidades de estar numa daquelas merdas de jogada do destino.

Era como olhar para a imagem do fracasso. A mais perfeita e gostosa imagem do fracasso.

Estava largada, sentada em posição fetal na calçada em frente a minha casa. A cabeça estava abaixada deixando a vista apenas seu grande e emaranhado cabelo ferrugem.

Poderia ser qualquer uma, pensei. Mas eu reconheceria aquele cabelo selvagem em qualquer lugar.

Olhei envolta da vizinhança silenciosa que nos rodeava. Já passava das cinco da tarde, o vento gelado chegava aos poucos até nós, talvez ela estivesse aqui a horas...

- Hey- Dei dois chutes leves em seu pé para chamar sua atenção.

Ela voltou a se mexer, levantou a cabeça de vagar e me encarou com a testa franzida. Seus olhos castanhos me analisaram durante o mais longo dos minutos.

Agora vendo seu rosto tive total certeza que era ela. Um lindo e sombrio passado que custei para esquecer.

Poderia dizer que estava bem desde a ultima vez que a vi. Poderia, mas não mentiria. Ela esta uma merda.

Seu cabelo esta assustadoramente armado, sua pele parece mais pálida que o normal e suas roupas estão amassadas e sujas. Havia um pequeno corte perto do olho direito e um rastro de sangue já seco em sua testa, o cabelo provavelmente escondia um possível hematoma ali perto.

- Quem é você?- Ela pergunta. Sua voz estava baixa e rouca.

Ah merda!

Soltei a respiração. Não me lembro de ter prendido ela e por alguma razão fiquei mais nervoso que o normal ao ouvir isso.

Olhei na direção da rua.

Essa é com certeza a merda de uma jogada irônica do destino.

Voltei a encara-la por mais um minuto, era quase engraçado demais pensar que até dois ou três dias atrás a vi correndo as pressas pela estação de trem. Carregava uma bolsa e alguns livros que mal conseguia segurar sozinha e tinha um olhar determinado que expressava pura raiva.

Dei uma boa olhada em sua bunda quando a vi passar por mim e pude ter certeza que aquela seria a bunda da mulher da minha vida.

- E você?- Pergunto colocando as mãos no bolso da jaqueta- Quem é?

Ela arqueia as sobrancelhas:

- Eu perguntei primeiro.

- E você esta na minha calçada.

Ela faz uma careta e olha na direção da casa atrás dela. Volta a me encarar como se duvidasse do que eu havia dito. Seus olhos descem e me analisam de cima a baixo, havia interesse neles. Não o tipo de interesse que tinha por sua bunda mas parecia curiosa o bastante para me comer com os olhos.

- E você é o que?- Ela pergunta- Não se veste como o dono da rua.

- Com certeza não- Me sentei ao seu lado na calçada e estiquei as pernas. Estava começando a esfriar conforme a tarde vinha chegando ao fim.

A encarei por um minuto analisando seu rosto. Podia ver o rastro das sardas que tomava a maior parte dele. Era bonita para uma porra.

- Gostou do que viu?- Ela pergunta. Pisco, ela esta me encarando novamente.

Tinha olhos grandes. Parecia tão calma para uma imagem tão acabada.

- O que houve com a sua cabeça?- Peguntei por fim. Não pude pensar em nada melhor que uma cantada babaca que de longe é a melhor opção de assunto pela forma como ela se encontra.