Quem é essa menina?

18 1 0
                                    

Eu tinha acordado tarde naquele dia e tia Andrea estava na cozinha arrumando um buquê de ervilhas-de-cheiro, era fim da primavera e como ela amava flores sempre colhia algumas para mim. Desde pequena morei com ela e meu tio Nikolas, um homem alto de cabelos escuros, o que era um engraçado contraste de tia Andrea, uma mulher baixinha de cabelos loiros, "Não dá para negar, todas as McKinnon tem um apreço por homens altos". Outra curiosidade de nossa família era a ligação que tínhamos com a natureza, tia Andrea era louca por flores e seus significados, já minha mãe gostava das estações e tudo que elas significavam, e tinha eu que por minha vez gostava dos animais principalmente os mágicos.

 -Bom dia, querida. Como passou a noite? - a voz de minha tia se adiantava aos meus ouvidos enquanto ela me via descer as escadas.

 -Maravilhosamente bem. Que lindo vaso, de que tipo são essas? - perguntei me sentando a mesa e pegando um das flores para cheirar. Ela olhou para mim e deu um sorriso sentando-se ao meu lado.

-Ervilhas-de-cheiro. São novas no jardim.

-São realmente muito lindas, é como sentir o cheiro de saudade. - Sem me responder diretamente Tia Andrea olhou para as flores e voltou a cozinhar. As férias estavam terminando, logo as aulas em Durmstrang iriam começar. Não que eu estivesse animada, já algumas aulas me eram proibidas.

-Querida já arrumou suas malas? Eles irão te levar hoje.

-Tia, as aulas só começam na próxima semana. Além do mais eu... - Minhas palavras foram interrompidas pelo barulho de Nikolas abrindo a porta. Me calei. Por mais que minha tia fosse tranquila com o fato de ter uma sobrinha bruxa nós escondíamos isso do meu tio.

-Chegou cedo, querido. - Titia falou o vendo passar da sala para cozinha.

-Não podia deixar Jazz ir embora sem me despedir. - Naquele mesmo instante olhei para ele e vi a flor que estava em seu paletó, a mesma que titia havia colocada na mesa quando acordei. "Mais é claro, como não percebi? As flores, me deixar dormir até tarde e minha comida favorita seria o almoço." Nikolas ainda falava comigo e sua esposa, mas minha mente o ignorava pensando alto e imaginando o que estava por trás daquela mudança no cronograma. Mantive-me quieta durante o almoço, apenas respondendo o que meus tios perguntavam. Por dentro tinha milhares de perguntas para tia Andrea, mas nem mesmo se eu entrasse em sua mente teria respostas. Após o almoço fui para meu quarto e arrumei minhas malas em silêncio, o que por só já demonstrava que eu não estava bem.

Era quase hora do chá quando a campainha tocou e tio Nik foi atender, na porta tinha um homem grande, de barba e cabelos comprido. Suas vestes eram meio surradas como se trabalhasse em uma fábrica e sua altura ultrapassava Nikolas, que por si só era um homem bem alto.

-Prazer sou Rubeus Hagrid, estou aqui para levar à senhorita... - Ele começara a dizer segurando junto a si uma coruja com uma carta na pata

- McKinnon. - Tia Andrea o interrompeu entrando na frente do marido. - Querido, porque não ajuda Jazmine com as malas. - A mulher disse como se quisesse se livrar do marido e assim ele fez. Desci as escadas junto com tio Nik, ele com uma mala de mão e eu com minha mochila, assim que ele colocou a mala no chão dei-o um abraço apertado (que para uma menina baixinha como eu era como ser engolida por uma almofada cheirosa) e fui retribuída com um beijo na testa. Titia me abraçou em seguida, colocando os lábios perto de meu ouvido e com um breve sussurro se despediu:

-Em nossa Astromélia vejo Tulipas Vermelhas e Ervilhas Cheirosas me representam agora. De ti eu peço Miosótis Azuis e para seu futuro seu nome tem. - Sentia as lágrimas presas em sua garganta pelo tom de voz e com o intuito de não chorar a abracei forte e beijei seu rosto recebendo com carinho a flor de jasmim enrolada a um miosótis.

***

Passei a viagem toda em silêncio assim como Rubeus, no entanto por mais que sua voz não falasse via facilmente em seu rosto a mistura de alegria e preocupação, eu bem sabia que era a causa de uma delas sendo quem eu era.

- Sabe de uma coisa, me admiro de você estar em silêncio esse tempo todo, Dumbledore havia dito que era tão falante quanto... - A voz grave de Hagrid cutucava meus ouvidos, mas eu me mantinha em silêncio. - Todos esperam poder estudar nessa escola, eu mesmo tive Hogwarts como meu lar.

- Ainda não entendi o que estou fazendo aqui. Eu estava muito bem em Durmstrang. - Disse em um tom seco. De certa forma eu sabia o porquê estava ali, mas temia pelo que poderia acontecer durante minha estadia em Hogwarts. Meus pensamentos se desviaram para a enorme porta que se abria à minha frente, um grande salão iluminado e cheio de pessoas me encarava. Em destaque um senhor de vestes cinza e cabelo grisalho olhava em minha direção.

- Bem na hora. - Hagrid disse em um tom baixo comparado ao tom que a mulher de vestes negras com brilho esmeralda usara para chamar meu nome.

- Jazmine McKinnon Black, à frente, por favor. - A única pessoa que me chamava assim era tia Andrea quando eu tentava usava magia em minhas tarefas de casa. Por alguns segundos aquele salão ficou em silêncio e só se ouviam os meus passos em direção ao outro lado do salão, quase nada era pior que aquela sensação.

Na verdade eu sabia bem como era sentir todos os olhos me encarando e ter aquele silêncio no fundo, isso era graças ao nome "Black" que eu carregava. Minha família bruxa era bem conhecida principalmente meu pai e minha tia, dois grandes assassinos. Segurei qualquer tipo de lembrança que pudesse me fazer chorar e me sentei no banco do lado da mulher que me chamara. Ela pegou um chapéu velho, de cor marrom e colocou em minha cabeça.

- Finalmente você chegou agora sim o show começou. - Pude ouvir o chapéu falar e pelos olhares seguidos de murmurinhos todos tinham ouvido. - Você tem o sangue dele e a força também. Protetora e preocupada, justa e paciente... Difícil dizer qual casa irá te receber. - O chapéu ia dizendo, mas meus ouvidos prestavam atenção nas conversas paralelas. Aqueles que chocados com meu sobrenome se perguntavam para qual casa eu iria.

"Se ela for como a tia, deve ir para Sonserina"

"Coitado do Harry se ela for para Grifinória"

- Acha que ela está aqui por que...

- Ron, não é hora para falar sobre isso - Um casal de crianças ruivas conversa ao me encarar, junto com mais 5 de cabelo parecido e um menino o qual eu reconheceria mesmo de olhos fechados. Era Harry Potter, a quem todos achavam que eu devia perdões simplesmente por ter nascido.

- Sem mais desculpas, sua casa será a Lufa-lufa.- Meus olhos piscaram três vezes e se focaram na terceira mesa, que tinha seus ocupantes com vestes pretas e amarelas. Eles estavam aplaudindo e fazendo festa, mesmo eu não sentindo não merecer, me levantei do banco e fui à direção deles. Todos me apertavam minha mão e me davam abraços com batidinhas como se me dessem boas-vindas

- Agora que estão acomodados tenho alguns avisos antes do banquete. Como vocês perceberam, a nossa escola passou a hospedar alguns dementadores de Azkaban, que vieram cumprir ordens do Ministério da Magia.

Ele fez uma pausa e naquele instante eu tinha entendido por completo o porquê da minha vinda para Hogwarts, meu pai estava de volta e claro que o ministério temia que algo acontecesse. Não que eles achassem que Black iria atrás de mim, claro que não, eles temiam que eu fosse como ele e como Hogwarts é o lugar mais seguro seria uma ótima Azkaban para uma garota de 13 anos, tinham até dementadores agora.

- Eles estão postados em cada entrada da propriedade e, enquanto estiverem conosco, é preciso deixar muito claro que ninguém deve sair da escola sem permissão. – Enquanto Dumbledore falava sentia um olhar vindo da mesa dos professores, um homem magro, de pele pálida e enormes cicatrizes no rosto divida seus olhares entre eu e Harry. A primeira vista não o reconheci até que o próprio foi anunciado como Remus Lupin, professor de Defesa Contra arte das Trevas. Olhei de canto para Harry esperando alguma reação, mas o garoto não parecia saber que ele era e por conseqüência não havia de saber quem eu ou meu pai éramos.

Nas sombras de um criminosoOnde histórias criam vida. Descubra agora