Único - Lua inteiramente clara

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— Prontinho, novo novamente. – Doyoung falou após dar o último nó no curativo no braço do outro.

— O que seria de mim sem você? – Taeyong riu fraco antes de balançar o braço levemente, a dor ainda estava lá, mas bem menos intensa – Minha alcateia é muito sortuda por ter você como bruxo conselheiro.

— Não é para tanto, é apenas um jogo de trocas; eu cuido de vocês e vocês me mantém escondido. – levantou-se após se certificar que o curativo da perna ainda estava bem amarrado – Ainda não entendi como se meteu nessa briga. – sentou-se no chão ao lado de uma bacia, mergulhando o pano e vendo o sangue tingir a água.

— Aquele desgraçado do Moon, de novo. Estava ensinando os júniores a caçarem, aquele paspalho achou uma ótima ideia instigar uma alcateia diferente a invadir nosso território atrás de comida, precisei brigar para ensinar os mais novos como defender suas terras, quase que me custou um braço e uma perna.

— O Moon de novo? Achei que tivessem matado ele já.

— Bem que queríamos, mas nunca conseguimos ver ele. – suspirou frustrado, deitando-se no amontoado de tecidos que o Kim chamava de cama – É como se ele nem existisse, sabe? Ele é conhecido por todas as alcateias, por todos os vampiros, até mesmo as inúteis das fadas conhecem ele, mas ninguém viu sua face!

— Não chame as fadas de inúteis! Sabe o que você iria caçar sem a proteção delas? Seu próprio rabo! – seus joelhos estralaram quando se levantou, olhou ao redor e subiu alguns degraus de madeira para alcançar um de seus livros – Que horas vai voltar para lá?

— Sendo sincero? Não gostaria de voltar, eu gosto de ficar com você. – sorriu manhoso, o bruxo sentiu as bochechas esquentarem com o comentário – Para que pegou o livro? Vai fazer alguma poção nova? Faz uma para que eu fique imortal!

— Estou cansado de te explicar que a imortalidade é impossível, Taeyong. Vou apenas preparar uma bebida para conseguir meditar, vai querer um pouco?

— Qual o gosto?

— Amargo, diria que um pouco ácido, mas limpa todo o corpo por dentro.

— Com essa descrição acho que o derrete por dentro mesmo. – com certa dificuldade o bruxo conseguiu acender o fogo, pensando o quão fácil seria sua vida se fosse apenas um humano comum morando em alguma vila próxima vendendo tecidos ou seus belos pães que fazia quando sentia-se inspirado.

— Não fale assim dos meus chás, ou então da próxima vez eu arranco seu rabo fora quando aparecer machucado na minha plantação mais uma vez. – se estivesse como um lobo naquele momento, o rabo do Lee estaria entre as pernas.

Doyoung estava sentado sobre seus pés com os olhos fechados e murmúrios de uma oração soando por entre seus lábios, o recipiente com água fervia aos poucos no fogo, as folhas alaranjadas do lado de fora batendo umas contra as outras era o único barulho verdadeiramente audível naquele momento.

Com certo esforço Taeyong conseguiu se levantar mesmo dolorido, sentou-se espalhafatoso ao lado do bruxo e o abraçou com cuidado, fazendo-o gaguejar em meio a oração.

Não falaram nada até que a prece fosse encerrada, até tal não acontecer, o lobo tinha sua cabeça escorada no ombro direito do Kim, o abraçava com cuidado e respirava fundo para sentir o cheiro engraçado de especiarias que ele tinha. Demorou alguns segundos até sentir a mão do rapaz em seus fios, fazendo em si um carinho confortável e ambas as cabeças se encostarem de forma gentil.

— Vou precisar ir embora logo, aparentemente vai chover. – o Lee falou baixinho antes de deixar um selar no ombro de Doyoung.

— Já esperava por isso. Quando virá me visitar novamente? – com o ponto da água, o líquido foi transferido para outro recipiente, exalando uma fragrância forte e desagradável.

Noite com lua claraOnde histórias criam vida. Descubra agora