Prólogo

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Se podia resumir aquela ordem de serviço em uma única palavra, de certo seria problemática.

Levou o cigarro à boca com classe, o que era diferente de calma.

Sabendo do que se passava e do que significava para ele, nem mesmo Gai, sempre tão focado em hábitos saudáveis, protestou à atitude que o deixava mais parecido com seu falecido mestre. Lee foi outro a respeitar a única atitude do velho amigo que demonstrava o abalo da notícia recente. À dupla mais nova, restou admirar e ter o exemplo da postura que um Shinobi deveria ter em quaisquer circunstâncias. 

Apesar da tranquilidade invejável com a qual geriu aquela crise pessoal, uma tempestade se abateu em seu peito. Fechou os olhos por três lentos segundos que bastaram para recordar a despedida do último encontro. O último toque, o último beijo e o desesperado e forte último abraço que tanto significaram para o adeus. 

Tal como ele naquela sala, Temari só estava cumprindo com seu dever. Não podia culpá-la por escolher a vila e suas obrigações como irmã de uma figura tão importante quanto Sabaku no Gaara ao amor que por pouco não chegou tão longe quanto o destino da insólita missão. Já era amargo saber do mais recente tratado que garantia a soberania e vida econômica do Estado vizinho, então porque precisava participar diretamente de toda essa palhaçada que só serviu para atrapalhar sua vida? Entreabriu o olhar algumas vezes antes que a doce imagem de sua, agora, ex namorada desse lugar à lágrima solitária que não conseguiu controlar. 

Quando, já com os olhos abertos, encarou Kakashi, foi como se pedisse uma dispensa ou uma boa justificativa que o lembrasse de suas obrigações para com Konoha e não abandonasse o pedido de gente tão poderoso por razões pessoais. O difícil e rígido suspiro do Hokage trouxe a segunda opção, infelizmente.

— É um pedido pessoal de Kazekage-sama que eu mande meu melhor ninja para a proteção de sua irmã. - respondeu seco, porém solidário. 

— E esse sou eu?  - perguntou incrédulo de seu azar. 

Estava grato pelo prestígio, mas essa era uma das horas em que poderia listar vários de seus colegas que poderiam lhe substituir, mas antes que pronunciasse um outro nome de peso, foi interrompido.

— Sakura e Sasuke ainda não voltaram de sua jornada. Naruto se ofereceu para isso, mas não posso tirá-lo da vila agora que Hinata está tão perto de dar à luz. Você é o nome de elite seguinte aos de meus pupilos, Shikamaru. Sinto muito! - informou.

Não era uma consulta, nem um pedido. Ainda que entendesse as ressalvas dele, o Rokudaime ainda prezava pela ordem e a hierarquia. Confiavano garoto justo pela esperança de que ele soubesse separar as coisas, honrando todos os ensinamentos do finado Asuma sobre isso. 

O futuro de todo um povo dependia do sucesso daquela missão e, por consequência, nas mãos dele. Era bom que Shikamaru não se colocasse no caminho.

Piedoso como sempre, Lee se curvou para pedir a palavra. Não como uma solicitação ao soberano, mas como uma desculpa ao colega. 

— Shikamaru-san, eu mesmo me ofereci para ir só ao País da Paz, mas...

— Eu entendo! - o cortou grato pela tentativa.

Lee era forte e em breve seria tão poderoso quando seu mentor em seu auge  a guerra, mas suas limitações quanto às demais técnicas Shinobi poderiam ser um problema e não se perdoaria por deixar a vida de Temari em risco numa travessia perigosa. 

Ainda nervoso, assumiu seu destino e se ateve aos demais colegas de esquadrão com mais incredulidade ainda, rindo de nervoso. Tudo bem que Ino estava em uma missão especial com Sai e que Chouji estava de licença graças ao recente casamento com a simpática Karui, mas aquele era mesmo o melhor time disponível?

— O Lee tudo bem, mas... - apontou para os adolescentes que aproveitavam a distração dos superiores para mostrarem os pingentes de Kunai divertidos que usavam. - Eles? - indagou chamando a atenção da dupla.

Hanabi não gostou do tom. Só porque não vestia coletes cafonas com o resto do grupo tinha que passar por isso? Cruzou os braços, deixando sua apresentação profissional por conta do Hokage.

— Não se engane pelas aparências. Hanabi é jovem, mas é uma ninja de elite tão promissora quando você na idade dela. 

— E também tenho o Byakugan mais puro do meu clã. - interveio orgulhosa. 

— E também tem o Byakugan mais puro de seu clã e, diferente de sua irmã mais velha, não está aos 9 meses de gravidez. - concluiu apesar de também lamentar pelas circunstâncias que o levaram a essa escolha.

Tudo bem. O maior expert em Taijutsu em atividade e uma Hyuuga tinham bastante utilidade, mas e o garoto barulhento?

— E ele? - quis saber porque tinha que levar Konohamaru e, bem mais gentil do que sua parceira, o moleque acenou amigável.

— Eu sei o caminho! - pontuou.

Gai olhou para seu marido como se também quisesse saber porque ele tinha sido escolhido. É que diferente dos outros na sala, Kakashi não subestimava a força do garoto que podia muito mais do que ser o garoto insuportável e entusiasmado de sempre e, já que tinha conseguido sua promoção à jounin tão cedo em comparação com os colegas de time, era hora de valer o novo posto. 

— Sandaime-sama era um grande amigo pessoal do antigo Damyio do País da Paz e a prestígio na ida de seu neto nessa comitiva, além do que Konohamaru é um Naruto que não vai te dar tanto trabalho. - explicou dando um toque de bom humor à fala.

Shikamaru viu todos os possíveis empecilhos para rejeitar ou adiar a viagem de esvairem. Amaldiçoou os demais colegas dos 11 de Konoha por isso e sobrou até para o falecido Neji nessa hora. Tinha que estar todo mundo ocupado justo agora? Acatou as recomendações através de um pesado suspiro, se curvando em seguida.

— É uma honra liderar o esquadrão de guarda da princesa de Suna. Eu mesmo asseguro que esse casamento se realizará com toda a segurança! - se dispôs respeitoso. 

O Hokage ficou feliz de ver que no fim a função prevaleceu, mas nunca se sentiu tão mal por acertar um palpite ou ver um Shinobi aceitar calado todas as recomendações posteriores. 

Partiriam na manhã seguinte até Suna, onde encontrariam a noiva, o Kazekage e a comitiva pessoal da vila d'areia, ou algo assim. O moço não ouviu bem, se concentrando nos próprios devaneios. Foi o primeiro a sair da sala e ninguém pôde julgar quando a porta quase quebrou com a força que foi batida.

O caso dos dois era de conhecimento geral entre os amigos dos dois e até os jovens, mais distantes, sentiram por ele. Empático, Lee segurou sua própria emoção.

— Gaara-kun fez o que pôde, mas não conseguiu evitar. - tentou justificar o Kazekage ao máximo, mesmo sem ser necessário.

Sentido, Kakashi encarou o chão molhado pelas lágrimas que o líder da missão deixou correr enquanto o escutava, porém manteve sua posição.

— Eu imagino o quão bonita tenha sido a relação deles, Lee, mas ela, apesar dos pesares, acaba aqui. Temari será a rainha do País da Paz em poucos dias e injusto é que algo tão trivial quando o que ela e Shikamaru tiveram fique no caminho entre a salvação de Suna. - reforçou querendo findar quaisquer pranto.

Os três entenderam o recado e se foram quietos, percebendo que não haviam mais chance de intervenção. O casal remanescente sentiu pesar nos ombros a responsabilidade. 

Todos foram capazes de escutar o grito choroso e angustiado que o Nara não consegui sufocar por mais confortável que fosse o abraço solidário de Naruto e Hinata. 

As nuvens precisam do ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora