▫️▪️DOZE▪️▫️

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E percorreu as direções desconhecidas, avistou à terra desabar sobre os seus pés e mergulhou, perdendo o fôlego, já não podia mais respirar…

Sólon me conduz, mesmo sem enxergar nada, por corredores imensos e curvas que jamais recordaria o retorno. Caminhamos com certa pressão, os nossos passos ecoando por todo o espaço, embora, em certos instantes, precisemos parar para não cair com os constantes tremores de terra. Chegamos a um dos pátios que abriga árvores e mais dos seres que vejo desde que cheguei, todos polidos e luzentes. Os acompanho, com o olhar, em seus afazeres; o cuidado afetuoso com meia dúzia de cavalos alourados que jazem em raias abertas.

— Hila, traga Quênia para mim! — Sólon ordena, embora pareça mais uma solicitação gentil, enquanto tateia a parede adjacente a das raias.

Hila encaminha uma égua que aparenta ser calma, de pelagem impecável e rutilante, de corpo robusto, pernas longas e fortes. Olhos tenazes na cor de argan que simula decifrar a alma de alguém.

— Essa é a minha égua mais veloz e inteligente, saberá guiá-la sem necessário dar-lhe quaisquer comandos. Já montou antes? — inquire, a sensação que tenho é de que ele a qualquer instante franzirá o cenho para mim e olhará em meus olhos enxergando as minhas fraquezas.

Faço que não meneando a cabeça em negativa, porém me recordo de que Sólon não pode ver e digo um não marcescível, ainda impressionada pela beleza do animal a minha frente e a crina penteada com uma trança em forma de rede.

— Vou te ajudar com isso — diz ele, enquanto inala o ar profundamente e segue um rastro oculto, encontrando rapidamente o animal que prossegue em um trotar sem sair do lugar.

As rédeas surgem assim que Sólon acaricia o pelo de Quênia, a égua parece compreender tudo ao redor e ouço o seu relinchar imponente. Sólon volta o seu olhar em minha direção, embora não olhe diretamente para a minha face e Hila inspeciona a minha vestimenta, como se o vestido florido não fosse apropriado para uma cavalgada.

— A magia se encontra muito oscilante, querida, me empreste as suas penas para que eu possa vesti-la apropriadamente — diz ela para minha surpresa. A voz melodiosa e aprazível.

Faço o que me pede e lhe entrego as penas que não me desaparto. As íris douradas admiram a mochila que carrego nas costas e apenas dou de ombros, sem desejar explicar — visto que ela não me entenderia de qualquer modo —, mas sabendo que não deve alterar o que nela há.

Hila une as penas formando-as em uma nova, porém em um tom morno de amarelo, no qual ela verte as partículas em minha direção. O vestido florido da lugar a túnica leve de cetim, coberta por desenhos de raios solares e flores, e um manto macio sobre os meus ombros; aparenta que visto pedaços de nuvens sobre o corpo e que as mangas largas acariciam a minha pele a cada resvalar. Sapatos de seda cobrem os meus pés, para que os estribos de metal não os machuque, e os meus fios desgrenhados foram trançados nas laterais e presos por prendedores de metal.

Mais um tremor nos acomete e de imediato pego a nova pena em sua mão e a ponho dentro da mochila, junto a bitty, para não carregar a caixa amadeirada no lombo do animal.

Com ajuda de Hila, ponho um dos pés no estribo e me impulsiono para montar na égua sem que a machuque, percebendo que as laterais da túnica se abrem para que não me sinta presa ou desconfortável. Calças, do que aparentam ser de elastano, cobrem até meados de minhas coxas e sinto que, por conta disso, o atrito da corrida até o fim da cidade não será um incômodo.

 A cidade das Crianças Perdidas (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora