Chapter 1

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Lily estava caminhando há horas quando decidiu dar um descanso para suas pernas e se sentou ao pé de uma grande árvore. Enquanto respirava fundo, desfrutando da tranquilidade da floresta, a garota levantou os olhos até o céu, procurando o sol através das copas das árvores que o cobriam quase por inteiro.

Ela visualizou laranja e rosa, e chegou a conclusão de que o sol já estava prestes a se pôr. Precisava se apressar.

Sua barriga roncava de fome, então ela levou as mãos até a pequena bolsa que carregava nos ombros e tirou um sanduíche, feito com muito carinho pela senhora Bagshot, de lá de dentro. Ela sorriu ao se lembrar da mulher que cuidou dela por tantos anos. Lily não se lembrava exatamente quando chegou ao orfanato, pois era muito nova, mas sabia que a senhora havia cuidado dela desde sempre. A idosa parecia fria e severa para muitos, e para Lily por muito tempo, mas a garota sabia que seu coração era enorme. Ela é a governanta do orfanato onde a garota crescera, e também a única figura materna que Lily teve durante toda a sua vida. Quando contou à senhora Bagshot que partiria de Atria, Lily pôde ver as lágrimas escorrendo pela bochecha da governanta, mesmo que a mesma tentasse escondê-las. Lily nem tentou. Abraçou a mulher enquanto chorava e dizia que sentiria saudades. Então, antes de partir nesta manhã, Lily a abraçou mais uma vez, se surpreendendo quando a senhora não reclamou do abraço, mas a abraçou fortemente também. Senhora Bagshot lhe entregou o sanduíche e algumas moedas, que Lily tentou recusar, mas a mulher insistiu. Então Lily partiu, virando-se para acenar um último 'tchau' para a governanta e as demais crianças do orfanato. Sua família, por todos esses anos.

Mas ela precisava ir.

Lily decidiu sair de Atria, que sempre lhe pareceu muito sombria e sem energia, quando tinha apenas quinze anos. Ela trabalhou, desde então, na padaria dos Diggory a fim de juntar dinheiro o suficiente para partir. Não conseguiu muito, é claro, mas poderia pagar uma passagem de navio para Oakland. Isto é, se encontrasse algum.

Enquanto mastigava o delicioso sanduíche de frango, Lily pensou nas pessoas que deixara para trás. Senhora Bagshot, as crianças, Amos (seu ex-namorado e amigo próximo), Severus...

Ao se lembrar do último, Lily sentiu o estômago revirar.

Severus era seu melhor amigo desde sempre, já que ambos cresceram juntos no orfanato e se davam bem. É, na medida do possível. Severus sempre foi um tanto quanto difícil, e Lily já discutiu com ele diversas vezes por conta de piadas sem graça que o garoto contava. Mas ela o amava, apesar das discussões. No entanto, uma semana antes de Lily partir, Severus foi admitido na guarda do rei. Ela não gostou da ideia.

Lily sempre foi contra a forma que as coisas eram regidas em Atria. Os guardas do rei sempre lidavam com os comerciantes com arrogância e grosseria, ameaçando-os juntamente com suas famílias caso não pagassem os impostos absurdos que eles cobravam. Nas poucas vezes que Lily viu a passeata do rei passar pela vila, ela sentiu raiva. O monarca não olhava ninguém no rosto, apenas estampava uma expressão enojada, como se fosse tão superior ao seu povo que não conseguisse estar no mesmo lugar do que eles. Seus guardas agrediam as pessoas que tentavam se aproximar da carruagem para falar com o rei, e o homem não movia um dedo para impedi-los. Lily tentou ajudar uma moça que havia sido ferida por um dos guardas, porém o mesmo lhe deu um chute nas costelas quando ela se abaixou para socorrer a mulher. Lily se revoltou, gritando com o homem, e em um segundo estava no chão. O guarda havia socado seu rosto. Ela e a mulher ferida foram ajudadas por um grupo de pessoas que estava ali perto.

Lily os odiava. Odiava todos naquele imenso palácio que era visto por toda Atria. Odiava o rei, sua herdeira (que desfilava ao seu lado com a mesma expressão de nojo que o pai) e todos os guardas.

Por isso, quando Severus lhe disse, com orgulho, que seria parte da guarda do rei, Lily não soube o que responder. O garoto deve ter percebido, então, o desgosto da ruiva porque disse: " Sabe, Lily, você precisa superar esse seu ódio pelo governo. Afinal, eles só prezam pelo bem do reino e do povo, e estão certos em punir aqueles que-". Severus não terminou, no entanto, já que Lily o interrompeu com um belo soco em seu nariz. Ele ficou paralisado, ódio fervendo nos olhos de ambos, e Lily mandou-o sair de seu quarto. Ela lhe disse, com toda a sua raiva e decepção escorrendo por cada palavra, que não tinha interesse algum em ser amiga de alguém que concordava com ideais tão opressores e nojentos. E então fechou a porta com força, e a mesma bateu no nariz já ferido de Snape. Ele foi para o palácio do mesmo jeito, e Lily teve apenas o prazer de ver que seu nariz estava claramente quebrado antes do garoto partir no dia seguinte.

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