O CÉU CINZENTO cobre toda Southern Hills escoltado pelo princípio da tarde úmida. Por entre a janela Emma observa as pessoas caminhando na calçada de tijolos lá embaixo, onde uma fina camada de bruma camufla os corpos alheios e os edifícios à volta. O farfalhar das folhas secas, que caem das árvores ante o sopro do vento, adentra seus ouvidos lhe concedendo a tranquilidade que o atual cenário gris proporciona.
Seu semblante pálido reflete no espelho clássico pendurado em uma parede próxima. Em algumas partes de sua pele ainda estão presentes os rastros dos desagradáveis hematomas em seu corpo. Observar seu próprio reflexo se tornou um ato desconfortável pois em seus olhos já não se encontram o mesmo brilho de antes. Os verdes que outrora carregavam uma luz encantadora, agora estão inexpressivos, quase sem vida.
Há cerca de uma hora Emma está de pé em frente à grande janela. Quieta, imóvel e com a cabeça abarrotada de pensamentos nos quais a mesma não tem certeza das respostas. Tudo que ela vem guardando dentro de si, parece ser muito para o seu próprio raciocínio.
— Emma, já estamos nessa há uma hora. Com você ficando quieta ou não, eu irei receber do mesmo jeito. — a psicóloga, uma mulher preta muito formosa, na casa dos trinta anos, suspira em exaustão. — Lembre-se: estou aqui para te ajudar, se eu não quisesse, eu simplesmente deixaria as coisas do jeito que estão.
Ainda que as palavras sejam francas, a voz da profissional não tem nenhum resquício de ignorância. A garota, até mesmo, tem certeza de ter ouvido certa compaixão transparecer delas.
— Você não é obrigada a dizer nada que não queira e, aqui não existe certo ou errado. — Srt. Bennet, a psicóloga, levanta da poltrona bege em que estava sentada e dá pequenos passos em direção a sua paciente. Tomando o devido cuidado para manter uma distância adequada e não invadir a zona de conforto da jovem à sua frente. — Me veja como um diário, onde você pode colocar tudo que está dentro de si para fora. Não vou fazer anotações, não por agora. Estou aqui para lhe ouvir.
Emma sente uma parte da tensão em seu corpo se dissipar após ouvir as palavras que lhe trouxeram certo conforto. Depois que a pressão em seu peito diminui, ela inspira com calma e coloca alguns fios de seu cabelo castanho para trás de suas orelhas. Com passos incertos, Emma vira em direção a psicóloga e a encara nos olhos pela primeira vez.
O alívio na face da Srt. Bennet é notório e o traço de um pequeno sorriso é visível em seus lábios carnudos. A profissional sinaliza para que Emma se acomode na cadeira acolchoada em frente à sua mesa, antes de retornar para o assento no qual estava outrora. A cadeira voltada para a psicóloga ainda aparenta ser intimidante de mais, portanto, a garota permanece no mesmo lugar.
— Tudo bem, você pode ficar em pé se preferir. — o tom de voz da mulher mais velha é gentil. — Tem algo que queira me dizer?
Outra vez os olhos de Emma voltam a encarar qualquer coisa que não seja a Srt. Bennet. Seu olhar percorre pelo ambiente que dispõe de uma arquitetura clássica. O consultório pintado em tons de branco e azul traz um ar de tranquilidade e amplitude para o local que, na verdade, é relativamente pequeno. Um leve aroma de lavanda paira no lugar, trazendo um clima mais aconchegante ao ambiente.
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BLACKOUT | Lapsos de Lembranças
Mystery / ThrillerQuem está em suas sombras? Ao acordar em meio a um ermo bosque, Emma Montgomery percebe que a escuridão ocupa grande parte de suas lembranças, visto que a mesma não se recorda do porquê de sua atual condição. O medo e o desespero anda...