Capítulo Único

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Bakugo estava despindo-se da regata preta quando ouviu as primeiras batidas. Ignorou-as, obviamente, colando seus lábios aos de Kirishima enquanto deitava-o contra sua cama. As batidas continuaram conforme posicionou-se acima dele, esfregando a frente de sua calça larga contra a bermuda do namorado. Afastou-se do beijo para reclamar, e Kirishima ocupou a boca com a pele de seu pescoço. Gritou para a porta.

Hm- Vai embora, porra!

Mas a maldita pessoa insistiu, batendo os punhos contra a madeira quando tudo que Bakugo mais queria naquele momento era se livrar das poucas roupas que havia entre ele e Kirishima. Incomodado com o ruído insustentável, grunhiu ao afastar-se do namorado, e pisando com força, foi abrir a porta, reclamando a plenos pulmões:

― Já não deu pra ouvir que eu tô ocupado, caralho-

Todoroki o encarou com aquela familiar inexpressividade.

― Bakugo, eu preciso da sua ajuda.

― Mas que porra, Todoroki?

― É com Inasa ― disse ele como se explicasse tudo.

― Eu não faço idéia de quem seja esse filho da puta. ― Já estava a meio caminho de fechar a porta. ― Me deixa transar.

― Eu só posso contar com a ajuda de vocês ― interrompeu Todoroki, e parecia bem sério.

― Katsuki, pelo menos ouve o que ele quer ― Kirishima pediu, sentando-se na cama. Bakugo encarou-o com incredulidade.

― Foi você que começou... ― Cedeu ao biquinho de Kirishima. ― Ah, esquece! Entra.

― Muito obrigado.

Felizmente o sorvete napolitano não fez nenhum comentário sobre a ausência de blusas dos dois garotos quando entrou no quarto, porque Bakugo já estava estressado o suficiente com a interrupção.

― Fala logo antes que eu mude de idéia!

― Eu e Inasa estamos em um relacionamento.

Wow, ninguém nunca ia adivinhar.

― Namorando...? ― Kirishima tentou traduzir.

― Sim, é uma definição ― Todoroki assentiu. ― Mas nós ainda não avançamos em... contatos físicos. Já demos as mãos-

― Merda, vocês pelo menos já se pegaram?

― Não. É esse o problema. ― Ele olhou brevemente para baixo antes de prosseguir. ― Nenhum de nós sabe. Nem eu nem ele temos... experiência.

Ah, mas ele estava de brincadeira. Todos eles já tinham passado dos dezoito e já namoravam há no mínimo meses ― aquela situação era ridícula, ao menos na cabeça de Bakugo.

― Tu quer o quê, amostra grátis de beijo? ― Bakugo apontou para o namorado. ― Nem pensar, pizza mista, a única boca que eu beijo é aquela ali.

― Desculpa, Todoroki, mas eu também não beijo ninguém além do Katsuki. ― Kirishima sorriu para amenizar o que dissera.

― Eu não quero beijar nenhum de vocês ― negou Todoroki, e o alívio dos dois foi imediato. ― Só queria ver como é. Já li muito sobre a teoria, mas-

― Tsc, isso você aprende na marra.

― Eu quero ver na prática ― concluiu, olhando para eles com expectativa.

― Deixa eu ver se eu entendi ― apontou Bakugo, naquele tom sério e perigoso antes de uma explosão de raiva. ― Você parou nossos amassos no meio, igual um filho da puta empata foda, só pra assistir a gente continuar o que já tava fazendo sem você?

― Sim.

― Puta que me pariu...!

― Ei, ei, Katsuki. ― E foi só de ouvir a voz do namorado que o rapaz se acalmou. ― A gente já deixou o Denki ser nosso voyeur, lembra? Não custa nada deixar ele também. ― Kirishima olhou então para Todoroki. ― E você quer aprender como se beija, não é?

― Sim, isso é o suficiente por enquanto.

― Ok, cacete ― cedeu ele pela segunda vez. Sentado na cama, virou-se na direção de Kirishima para que Todoroki pudesse observá-los. ― Vê se presta atenção, então.

***

Da próxima vez que encontrou Inasa, Todoroki sentia-se mais preparado. Não sabia se conseguiria ser tão bom quanto Bakugo e Kirishima –– porque pelos ruídos que eles faziam, deveria ser algo bastante prazeroso. Mas ao menos ele já imaginava o que esperar.

Ei, Shoto! ― ouviu a voz do aluno da Shiketsu ao mesmo tempo em que enxergou seu corpo grande a acenar à distância. Caminharam um para o outro. ― Eu demorei muito?

― Não, eu acabei de chegar também. ― Olhou para cima, porque era impossível conversar com Inasa à mesma altura. Havia algo estranho com seu rosto, ainda que não soubesse distinguir exatamente o quê. ― E eu... aprendi sobre como fazer. O tal do beijo.

Eu também!

― Por que seus lábios estão brilhantes? ― percebeu a camada que cobria a boca dele.

Camie me disse que brilho labial deixa o beijo com gosto doce! ― Inasa sorriu abertamente como se aquele fosse o melhor conselho do mundo. ― E todo mundo gosta de doce! Você gosta de doce?

― Eu- Eu não tenho nada contra ― respondeu com sinceridade.

Ótimo, então! Vamos nos beijar agora?

As mãos pesadas de Inasa cobriram seus ombros, e ele estava somente esperando o seu sinal para abaixar a cabeça. No entanto, isso ia contra o que Bakugo reforçara na aula improvisada ― alguma coisa sobre clima apropriado.

― Um momento. ― Todoroki olhou em volta, confirmando que estavam ambos sozinhos na quadra onde haviam treinado para conquistar a licença provisória. ― Nossa diferença de altura... Fique sentado ― Acenou para a arquibancada. ― Agora acho que tenho que me encaixar assim.

Escalou o colo dele, como vira Bakugo fazer, ainda que se mantivesse de joelhos, só para que as alturas fossem equivalentes. Não chegava a ser íntimo ― talvez um pouco intimidante e estranho. Mas eles iriam aprender um dia, e ele usaria o que havia aprendido a seu favor.

Precisamos de tanta proximidade? ― Desta vez, o grito de Inasa parecia ligeiramente exasperado.

― Sim ― concordou, e era difícil manter-se indiferente quando conseguia sentir a respiração de Inasa a misturar-se com a sua. ― Nossos rostos, eles têm que estar perto um do outro.

A-assim?

Definitivamente ele estava envergonhado, a vermelhidão espalhada por seu rosto. Não sabia se estava corando também, mas a expectativa o deixava ansioso.

― Incline a cabeça. Bem pouco. ― Fez o gesto para que ele repetisse. ― Abra a sua boca, mas não muito, e eu-

― Shoto.

Ouvir seu nome dito tão baixo, de maneira tão confusa e ao mesmo tempo tão apaixonada, fez com que Todoroki avançasse de uma vez. Esqueceu até de avisar sobre a respiração, sobre os olhos fechados, mas não conseguiu resistir.

E Camie estava certa. O beijo foi doce.

Beijos com sabor de aprendizado | InaTodoOnde histórias criam vida. Descubra agora