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Pov Carolina Voltan

Estou novamente sentada no banco em frente ao estacionamento da escola. Estou no terceiro ano e não vejo a hora de concluir o ensino médio. A única parte ruim é que eu não vou poder ver ela. Quem sou eu? Quem é ela?

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Meu nome é Carolina Voltan, tenho dezessete anos e sou animadora de torcida. E ela é Barbara Passos, a garota mais misteriosa e linda desta escola. Ela tem dezoito anos, ela rodou ano passado, por faltas, pois ela é bem inteligente. Nunca ouvi a voz dela, ela não fala com ninguém, nem nas aulas com os professores, se eles perguntam alguma coisa, ela vai até o quadro e escreve a resposta. Eu já babava por ela desde que bati os olhos nela, no primeiro ano, ela nem nota minha existência, ela não tem amigo nenhum, está sempre escondida pelos cantos desta escola.

Ela participa de rachas, o seu carro é mega tunado, ela ganha todas as corridas e nem assim consegui ver um sorriso dela. Sempre séria. Eu acompanhei alguns rachas dela, fui lá na ilusão de que fora de escola, talvez ela me notasse... Ilusão mesmo, ela, teoricamente, estava fazendo o que gostava e mesmo assim, não expressava emoções.

Ninguém sabe sua orientação, mesmo assim, as meninas tentam flertar com ela, inutilmente, ela nem nota que existem outros seres na terra. Quando no começo do ano, ela entrou na minha sala e eu pude ver como ela era de perto, quase tive um colapso, apesar do moletom com capuz cobrindo o cabelo, seus traços me deixaram de boca aberta, ela sentou na carteira ao lado na minha por ordem da professora de matemática, a quem serei grata eternamente, e Bárbara não senta direito como os outros alunos, ela fica sentada, bom, sentada é modo de dizer, ela fica quase deitada, de lado e virada de frente pra mim. Ou seja, tenho que me policiar para ela não notar o quanto eu babo por ela. Eu fico com alguns meninos às vezes, só para minhas amigas não me encherem o saco, mas a verdade mesmo é que depois que conheci a Passos, não quero outra boca e a dela eu nunca vou ter. Ela também é super-respeitada, o que é mais estranho, pois ela não fala. Nas corridas ela só acena com a cabeça e todo mundo sai correndo como louco.

Eu conversei com minha mãe sobre esse amor platônico, no começo ela soltou "você é lésbica?" eu respondi que não sabia, pois minha atração se limitava a Bárbara. Sempre que eu conto que fiquei com um menino, ela começa, "mas é a Bárbara?" Eu argumento que a menina nem fala, como vou falar com ela? E minha mãe, com aqueles discursos encorajadores diz para arriscar, mas quando vi Gabi, que é a garota mais linda e popular da escola, nossa capitã nas animações de torcida, quase ficar nua, se insinuando para a Passos e ela nem ligar, piso no freio rápido, ela nunca vai me notar mesmo.

Hoje tem aula de literatura, estou sentada no fundo da sala, não quero ficar muito próximo a ela para não vacilar. O professor Joe odeia Bárbara e não faz questão de esconder.

-A atividade desta semana é ler "Cinquenta tons de cinza" - A turma toda riu, mas ele permaneceu sério. - É sério, meus colegas leram e isso gerou uma opinião diferente de cada um. Quero ver o que os adolescentes pensam sobre isso. Já trabalhamos com as principais obras, então não custa descontrair o ambiente. Alguém aqui tem menos de dezesseis anos? - Ninguém levantou a mão. - Bom... Talvez alguns pais fiquem bem irritados comigo, mas essa é classificação indicativa e falei com a diretora antes.

- É só ninguém contar em casa.- um dos garotos do time de futebol falou

- Empolgado com a lição, bradoock?

-Melhor que aqueles livros chatos que dão sono só se ler o nome. - A sala riu.

-Bom... Isso vocês decidem. - Ele sentou e fitou Bárbara. - E você Passos, vai ter que falar o que achou deste livro. - Ela negou. - Vou te deixar com zero. - Ela escreveu alguma coisa no caderno e mostrou para Gabi que senta em sua frente, na verdade essa puta vive cercando ela. Gabi leu o que estava escrito no caderno e virou sua atenção para o professor.

- Como o senhor vai dar zero em uma atividade para "descontrair o ambiente"? E o "descontrair o ambiente" está entre aspas. - Ele cerrou os olhos.

-Escuta aqui Passos, não sei por que desta bobagem de você não falar. Ela fala muito bem, sabia turma? Eu  uma reunião com o conselho de educação para tirar a Bárbara desta escola, já que ela não interage com ninguém, mas ela chegou à reunião, toda falante e sorridente, acompanhado do pai e o conselho acha que eu estou louco. É melhor você me contar o que acha deste livro, Passos. - Eu quase desfaleci de imaginar a Bárbara sorridente, meu senhor, o que essa garota fez comigo?

Quando a noite caiu, Bruno me chamou para acompanhar as corridas, minha animação em ver a Passos já estava se tornando frustração, mas aceitei para retribuir todas as vezes que o convidei. Quando chegamos, um bolo de pessoas estava fazendo apostas, nesse mundo rolava muito dinheiro. Mob se aproximou, ele corria, mas nunca com a Bárbara. Ele dizia que era dinheiro perdido. Eu tenho a leve impressão que Victor se insinua para ele, mas vou esperar ele me contar se está rolando algo.

-A Bárbara falou alguma vez aqui?-Victor perguntou

-Nunca! O que não afeta nenhum um pouco o respeito que todos têm por ela. -Mob  respondeu e ele ficou encarando Victor por um tempo. - Porque não vem ver meu carro?

-Eu adoraria, mas Voltan não pode ficar sozinha...

- Vai lá migo. Vou ficar bem.

-Tem certeza?-perguntou em dúvida

- Sim! - Eles foram e obviamente, vão se pegar muito naquele carro. Fiquei observando, aconteceram duas corridas e eu estava cansada de esperar o Victor. Me escorei em uma parede perto de um beco. Depois de um tempo, gelei quando vi um grupo de homens vindo em minha direção.

-Oi gatinha! O que faz sozinha neste lugar horrível?

- Não estou sozinha! Meu amigo foi ver um carro e já vem.

-Aquele meio loiro? Acho que ele está bem ocupado agora, mas vamos fazer companhia para você.

-Não precisa obrigado.

-Mas nós vamos! - Dois se aproximaram e me pegaram pelo braço, tampando minha boca. Eu tentei morder a mão dele, mas a luva o protegeu, como se ele já estivesse preparado para isso. No fundo do beco escuro, um deles tirou minha jaqueta e rasgou minha blusa e a única coisa que eu fiz foi pedir para deus me ajudar. Quando ouvi uma batida em um latão. Era Bárbara com um taco de beisebol. - Conhece Passos? - Ela assentiu. - Então ande com ela, já sabe que garotas sozinhas são nosso domínio. - Ela assentiu, eu estava chorando desesperadamente e agradecendo a deus por ter escutado meus pedidos. Bárbara andou em minha direção e pegando minha jaqueta. Os homens saíram.

-Muito obrigada. Muito obrigada mesmo! Eu nunca vou poder agra... - Ela simplesmente virou e foi saindo do beco. Quando escuto uma sirene de policia e fora do beco da para ver a movimentação. Ela me olha, olha a saída do beco e me olha de novo. Estendeu à mão, eu levantei correndo e peguei. Corremos até o carro dela, ela abriu a porta pra mim e fez a volta. Saiu dali cantando os pneus. Não sei se meu coração estava acelerado por causa da corrida ou pela proximidade com ela. Ela corria muito e quando perdemos de vista o carro da policia ela estacionou o carro dentro de um beco. Ficamos ali até todos os carros passarem. -Obrigada de novo. - Ela virou o GPS para mim. Apontando o mesmo. - Meu endereço? - Ela assentiu e eu falei meu endereço. Ela saiu com o carro e desta vez não corria. Me ajeitei no banco, de canto de olho a fitei, ela prestava atenção na estrada, mas as vezes, olhava para os meus peitos descobertos por causa do rasgo em minha blusa. Ela parou em frente a minha casa e abri a porta. - Obrigada mesmo! - Falei e sai do carro. Olhei meu celular e havia um monte de ligações do Victor. Liguei dizendo que estava tudo bem e ele estava na casa do Mob. Deitei e pensei no dia intenso que tive.

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⏰ Última atualização: Nov 01, 2020 ⏰

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