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8 de Setembro de 2018 - Distrito Comercial "Moonlight Club" - Teishi's P.O.V.

Senti as mãos cálidas daquela mulher tocarem sensualmente meu abdômen. O quarto estava em um breu quase total, me impedindo de notar a expressão, provavelmente forçada, dela. Não esperava que fosse genuína, de qualquer maneira: eu era apenas um mero cliente naquele lugar imundo nos subúrbios. Talvez quisesse apenas que eu terminasse logo para seguir ao próximo parceiro. Eu era um adolescente, então era justificável não querer perder tempo.

As carícias eram agressivas, evoluindo cada vez mais conforme o clima ia esquentando. Ainda que aquela prostituta tivesse uma beleza estonteante e uma experiência capaz de tirar os melhores gemidos, minha atenção estava longe daqueles seios e coxas fartas ou daqueles longos cabelos negros.

Alheio a todas as sensações exceto o êxtase do toque nas minha virilha, navegava por entre o mar de memórias em meu coração. Que irônico, havia ido àquela espelunca apenas para me desvencilhar delas, mas ainda ali elas seguiam-me e atormentavam-me. O chuvisco de meus sentimentos deu lugar rapidamente um tsunami de lembranças, tanto calorosas quanto doídas. Lembranças da época que a janela do quinto andar daquele quarto e o corpo magro vestido em uma roupa hospitalar eram as únicas coisas às quais eu me agarrava.

Apressei a situação para fugir de qualquer divagação, tomando a liderança de súbito. Ela deveria ter ficado chocada com a repentina mudança de comportamento, mas não expressou qualquer reação sem ser um gemido baixo. Meus pensamentos nublaram-se como o céu pronto para derramar suas lágrimas.

Não lembro de quanto tempo se passou até eu retornar à consciência de meus atos, largado naquela cama suja de fluídos corporais tanto meus quanto da mulher anterior. Como ela não estava mais no quarto, deduzi que já deveríamos ter acabado há algum tempo o breve momento de prazer.

Sem me demorar, vesti minhas roupas jogadas sob um armário próximo. Estavam com um perfume bem forte, provavelmente teria que colocá-las pra lavar quando chegasse em casa. Notei então manchas de algo molhado na camiseta que segurava, as gotas caindo suavemente sobre o tecido vermelho, confuso de onde vinham. Momentos depois apenas foi quando percebi que chorava copiosamente.

Eram lágrimas finas, que escorriam pelos cantos do rosto com a serenidade de um rio. Olhando no vidro do armário, pude ver meu rosto: os cabelos negros, espinhosos e desgrenhados pela ferocidade do sexo, cobriam parcialmente meus olhos castanhos com a franja longa e pontuda. Abaixo deles, as claras olheiras de alguém que não dormia direito há pelo menos algumas semanas. Realmente, estava um caco, mas aquilo não importava no momento.

Observei o relógio de meu celular, já que aquele quarto claustrofóbico sem janelas não me permitia ver a situação do lado de fora. 18:03 era o horário marcado na tela de acrílico; me permiti suspirar. O horário que meu "turno de trabalho" acabava, segundo o que tinha contado aos meus pais, era 19:00, então ainda tinha tempo pra matar de alguma forma.

Coloquei o resto das minhas coisas na pequena mochila, ajeitei meu casaco e sai do cômodo mal-cheiroso, pensando no que fazer para enrolar pelos próximos 55 minutos. Do bolso da calça, tirei um maço de cigarros e um isqueiro vermelho. Era melhor fumar agora, ou só teria a oportunidade amanhã após o almoço.

Andar pelos corredores daquele lugar era como ver a própria visão da decadência: por ser em um bairro de baixa classe, a maioria dos visitantes trajava roupas esfarrapadas, o cheiro de álcool e drogas ilícitas me inebriava de maneira crítica. Apesar de ser um fumante, odiava qualquer coisa do tipo, chegava a ser cômico. Várias das garotas de programa tentaram uma aproximação, mas as recusei pontualmente, me direcionando a um espaço menos frequentado.

Um lugar para chamar de "Lar"Onde histórias criam vida. Descubra agora