Capítulo 2

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— Você está atrasada! — Shaun exclamou assim que entrou no carro.

— Mas são sete horas, é o tempo exato.

— São 19:07h — Ele olhou o relógio novamente antes de se virar para mim.

— Tranquilo — Balançei a cabeça — Na próxima eu tento chegar mais cedo, ok?

Dei um sorriso e ele me devolve, assentindo. Pela primeira vez, pude ver as profundas covinhas que enfeitavam seu rosto.

Hoje em dia, eu me culpo de não ter percebido inicialmente que havia algo diferente nele, mas naquela época eu só conseguia prestar atenção no seu jeitinho.

— E então... Shaun — Olhei para ele assim que pronunciei seu nome. A viagem estava silenciosa de novo e isso estava começando a ser constrangedor — Você não fala muito não é?

— Às vezes.

— Entendi.

Eu não costumava ter amizade com vizinhos. Sempre os cumprimentava, mas isso era tudo. Então essa foi a maior interação que eu já tive com um vizinho, que mais tarde se tornaria meu amigo. Me mudei poucos meses antes de Shaun, então ambos não conhecíamos o pessoal direito.

— Em que departamento você trabalha? A vida no hospital deve ser bem corrida, imagino.

Percebi que Shaun estava agora analisando meu carro. Seus olhos ágeis moviam de direção rapidamente conforme o barulho da chuva aumentava. Eu estava tentando prestar atenção nele, ao mesmo tempo que na estrada. Por mais que a chuva aumentasse, o movimento na rua também, estavam todos querendo chegar em casa o mais rápido possível para fugir da tempestade.

— É sim, mas é bom — Ele percebeu que eu trocava olhares com ele e a estrada e se virou para mim — Sou residente de cirurgia. Residente. E pretendo me tornar cirurgião. Talvez na área se cardiologia ou emergência, é interessante.

Ele desviou o olhar logo depois de começar a falar. Eu sorri, pois ele parecia falar com orgulho da própria profissão.

— Uau. É a maior combinação de palavras que você já me disse até agora, estou surpresa. — ironizei, querendo que ele continue.

— Combinação de palavras é uma escolha interessante de termos. Eu normalmente chamo de frase.

— Até que você não é tão quieto afinal, ainda tenho muito a descobrir sobre você doutor.

Ele ficou calado, pensando no que deveria dizer. Fiquei com a impressão de que ele estava em dúvida se deveria falar o que queria ou não. No final ele falou.

— Eu... Não sou quieto. Tenho autismo. É por isso.

— Eu não sabia. Mas tudo bem. Isso não é ruim.

— Não é ruim — ele repetiu com cautela. E até o final da estrada, o silêncio ressurgiu.

[...]

Meu Extraordinário DoutorWhere stories live. Discover now