sᴇ ᴇssᴀ ʀᴜᴀ ғᴏssᴇ ᴍɪɴʜᴀ... | 心肠 | Do Kyungsoo

Why Did You Steal My Heart?

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— Ω —

| 心肠 |
Coração

14 de agosto de 2017
— Terça- feira.

Era noite de outono, o ar frio que passava curiosamente pela pequena janela nas extremidades daquela parede úmida que revestia parte do atual buraco – que poderia ser intitulado, também, como porão – fazia Do Kyungsoo tremer por inteiro, o espaço era pequeno, do tamanho de duas camas de casal enfileiradas. Tudo estava escuro sendo iluminado pela pouca luz da lua cheia que começava de fato o seu reinado no céu. Barulhos de batidas no teto sendo acompanhados de risadas histéricas e descontroladas eram motivos dos sentimentos mais recorrentes que o garoto tinha: medo e tensão. Seu corpo escorado em um dos cantos daquele local era adornado por uma regata cinza fina e um short avermelhado do mesmo tecido, ambos rasgados e extremamente sujos, os cabelos ralos como se tivessem sido raspados de mal jeito em conjunto com a pele pálida sem o amaciar da luz do sol… Apenas um de seus olhos enxergava, pois o outro era somente um globo ocular carbonizado, a função do piscar de olhos às vezes machucava este ferimento brutal no olho esquerdo, com isso restava apenas a visão da direita que mirava as escadas receando qualquer movimentação brusca vinda das pessoas do andar de cima da casa, que no caso eram duas… Mas a brutalidade com o que conviviam, pareciam ter uma família inteira na superfície.

Ele tinha apenas 17 anos... Não deveria estar ali trancado contra sua vontade por aqueles que deveriam amá-lo com todo o coração, por aqueles que deveriam ensiná-lo sobre o mundo e principalmente sobre o bem e o mal, contudo em toda sua vida a dor dominou cada segundo e eles eram os causadores destes tormentos.

— AMANHÃ É O ANIVERSÁRIO DAQUELE VAGABUNDO! DIA DE DESESTRESSAR! – um homem, aparentemente bêbado, gritou tais palavras assustando Kyungsoo que se encolheu mais tentando ao máximo se esconder no que quer que fosse. Os próximos segundos se seguiram com risadas altas e mais balbúrdias incompreensíveis sobre si e sobre sua data comemorativa que coincidentemente era o início do Chuseok: 15 de agosto... Ele pensava que era ironia do destino quando havia tempo de raciocinar sem sentir um dos piores sofrimentos do ano.

Kyungsoo ficou parado tentando ao máximo não se permitir chorar de medo, ele não teria coragem de deixar todas as dores voltarem novamente por mais que este ato seja inevitável, porém o cansaço vencia ao que, após três dias direto acordado sendo ameaçado de diversas formas, todas com a típica frase: "seu aniversário está chegando", ele sente seu corpo ceder ao sono lentamente.

Esta data o causava gatilhos para memórias indesejáveis que o matavam friamente sempre que relapses passavam diante de sua imaginação. No entanto, Kyungsoo era um humano e estava exausto, sem nem perceber e já acostumado com a gritaria em excesso naquela casa, ele dormiu e teve de presenciar um filme inteiro dos piores momentos de sua vida:

"15 de agosto de 2014
— Sexta-feira.

— ME DEIXA SAIR! SOCORRO ALGUÉM ME AJUDA! - esperneava Kyungsoo, no auge de seus recentes 13 anos. Ele estava dentro de uma caixa de madeira que se encaixava perfeitamente em sua estatura, o ar começava a lhe faltar após longos minutos sendo preso a força, enquanto se debatia no pouco espaço que lhe sobrava, de fundo ele podia ouvir as mesmas risadas histéricas das pessoas que o estragavam aos poucos, em torno eram duas: sua mãe e seu pai... adotivos. – ME DEIXA SAIR, POR FAVOR! POR FAVOR! EU NÃO CONSIGO RESPIRAR! – gritava com a voz rouca e com os olhos banhados em lágrimas, clamava por ajuda, porém ninguém o ouvia...

— Não, não, tradição é tradição! – cantarolava uma deformada voz feminina pelo álcool ingerido. – Temos que tirar as ervas daninhas, ervas daninhas, tirando, tirando... – cantava em meio a risadas enquanto pulava em cima da caixa.