Capítulo 2/6

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1.151 palavrinhas

          — Joonie, ele tacou uma lata de feijão na minha cabeça — começo a falar assim que consigo tirar o peso do meu corpo de cima do maior, que também mal se aguenta em pé, e me arrasto pelo local para avaliá-lo. — Foi até engraçado depois que tudo se acalmou, mas na minha cara — Ele fez uma expressão de se como tivesse calculado errado. Nossa... ou ele é muito ruim de mira, ou com certeza fez de propósito.

          Na minha cara!

          — Hope, por favor, cuidado com seu tornozelo. — Joonie coloca nossos pertences em um canto e me olha com zelo até me ver sentar, dando continuidade à sua fala. — Ele é muito bom em mira na verdade, mas não gosta de usar armas de fogo, por exemplo. — Observo Namjoon empilhar objetos em locais com mais fragilidades de serem arrombados pelos mortos.

          — Então ele fez de propósito? — Minha indignação é exclamada em baixas lamúrias.

          — Queria que ele fizesse o que, Hope? Ele foi gentil em te devolver uma lata. — O moreno também diz em sussurros, fazendo o máximo de silêncio para não chamar atenção e atrapalhar os dois lá fora.

          — Como assim gentil? Ele nos roubou, mais parecia um selvagem... meu Deus, Joonie, deixamos o Kook sozinho. — Merda, o JungKook está sozinho com o doido.

          — E como você fez esse tempo todo para sobreviver?

          Coisas horríveis que jamais esquecerei.

          Apesar da gravidade da pergunta, ela foi feita com cautela, não afim de machucar ou trazer desrespeito, mas sim ponderação em relação a outros que não estão vivendo na mesma situação que eu e Kook.

[...]

          Faz duas semanas que eu e Jeon saímos de Alexandria para os resgates habituais e em um desses encontramos Namjoon e Seokjin. Pelo o que foi nos contado, eles estavam sobrevivendo ao caos há três meses, chegaram a pertencer a um pequeno grupo, mas que foram massacrados por outros vivos. Infelizmente, não foram só os mortos que voltaram ao seu estado mais primitivo.

          Quando nos encontramos, estávamos a mais que seiscentos quilômetros de distância da nossa comunidade, Jin tinha uma grave ferida no abdômen, provocada por um corte de faca e aparentemente estava assim há alguns dias. Os carros que utilizamos só podem nos levar até duzentos quilômetros de distância, para que outras duplas de resgates possam usufruir do mesmo. Debilitado da forma em que o mais velho estava, levaríamos mais de três dias até o local do automóvel, caso tivéssemos sorte e o carro estivesse em nossa espera, do contrário, seriam mais de seis dias de caminhada.

          Com os suprimentos reservados para aqueles que surgissem em nosso caminho, os alimentamos e cuidamos o possível de seus ferimentos, mas uma horda sem aviso nos pegou.

          Ficamos encurralados quando estávamos em uma pequena cidade, as ruas estavam com todos os seus prédios fechados e com a dificuldade de locomoção do Jin, era quase impossível que escalassem alguma coisa. Foi na tentativa de subir um muro, segurando Seokjin, que Namjoon caiu e fez um rasgo em sua perna, levando-o a torcer seu tornozelo, e os dois foram de encontro ao chão. O mais velho entre nós perdeu a consciência assim que sua cabeça atingiu o solo, Kook o carregou no colo e correu o mais rápido que conseguia e eu ia de auxílio, segurando Joonie.

          Os mortos não paravam de nos cercar, mas a viela que infortunadamente nos levou à graves lesões, nos possibilitou a encontrar num único prédio possível de arrombar a porta. Assim que fizemos, encontramos poucos mortos, em que eu e Kook demos conta de realizar a limpeza da área e esperar o pior passar. O pior não passou, mas sim chegou horas depois, quando Jin abriu os olhos e não era mais ele. Namjoon o libertou e chorou copiosamente aquela noite.

[...]

          — Ei! — Namjoon me chama com cautela. — Precisamos dar uma olhada nesse tornozelo. Logo eles irão entrar, já não escuto mais os barulhos dos caminhantes.

          Afirmo em silêncio, enquanto com dificuldade, Joonie senta de frente a mim, pronto para tocar em minha perna. Fecho os olhos e aperto meus lábios para que nem um lamento de dor passe por eles. Sinto formigamento e um latejar em meu pé, logo após um tecido o abraça fazendo pressão para que ele se mantenha firme e que pelo menos eu consiga mancar.

          — Acho que ainda temos analgésicos. Não usamos todos com o Jin... — Ainda com os olhos fechados, consigo distinguir o tom de melancolia e não preciso abri-los para saber que o mais novo está mirando os meus pés como se precisasse salvá-los a todo custo.

          — Está tudo bem, posso tomar só metade. Consigo aguentar até chegarmos em casa.

          Abro os olhos assim que vejo seu breve manear de cabeça em afirmação.

          Chegaremos em Alexandria e você irá recomeçar, Kim Namjoon, essa é uma promessa a mim mesmo e a Jin.

          Meia hora se passa para o silêncio reinar, o dia já está clareando quando Kook e o arremessador de latas entram.

          — Para uma pessoa magricela, você é bom com a limpeza — Kook começa a falar com o novato.

          — Estou sobrevivendo durante meses sozinho — o platinado o respondeu em tom baixo e grave.

          — No nosso antigo grupo, Yoongi era abatedor e saía para trazer os suprimentos — Namjoon fala com certo saudosismo. — É ótimo no que faz. Sorrateiro que só ele.

          — Eeeei... não entrega meu jogo para esses desconhecidos, Nam... — falou o cara que jogou a lata na minha cara e quase quebrou minha perna.

          Será que ele não está sentindo meus olhos fitar o corpinho pequenininho e branquinho dele? Está parecendo a Branca de Neve, na versão que acabou de matar os sete anões, com essa quantidade de sujeira provocada pela limpeza lá fora. Se bem que por esse biquinho no rosto está mais para Zangado. Que fofo.

          — Não são desconhecidos, eles me salvaram... vou apresentá-los.

          Namjoon nos apresentou ao rapaz que se chama Min Yoongi, informou que ficaram afastados por mais de seis meses e contou tudo o que houve com eles. O Zangado ficou sozinho por todo esse tempo, encontrava pessoas na estrada, mas logo se distanciava, carregava a certeza que sobreviveria melhor só. Namjoon falou de Jin e começou a chorar de novo. Percebemos que Zangado e Nam eram bastante amigos e o Min o confortou no que era possível.

          Mais algumas horas se passaram e começou a bater por meio dia. Jungkook, resolveu montar algumas armadilhas tanto para anunciar caminhantes quanto para caçar algum animal caso ainda existissem pela mata. Resolvemos passar mais aquele dia na cabana, já que eu precisava descansar um pouco e a horda nos tirou de um dia de distância do carro.

          Namjoon junto ao Zangado, que até o momento não dirigiu uma palavra a mim, preparam o local para nos abrigar melhor e agora estavam juntos montando uma simples fogueira para esquentar as latas de feijão.

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SopeWorldPjct

Apocalíptico - Em rumo a Alexandria | SOPE | YOONSEOK [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora