The Bride, The Groom

• Capitulo 1 •

Eu nunca tive uma familia estruturada.

Meu pai nunca foi muito de ficar em casa, vivia trabalhando o tempo todo. Quando chegava em casa, estava cansado demais para dar atenção à sua esposa e sua filha.

Apesar de nunca ter deixado nada material faltar, como ele fazia questão de enfatizar para minha mãe milhares de vezes, ele mesmo fazia falta. Sua ausência sempre me deixou um vazio enorme no meu coração.

Às vezes ele voltava entorpecido pela bebida, tropeçando pela casa, derrubando os móveis de minha mãe, quebrando as louças e sendo agressivo conosco.

Isso quando ele não voltava sonante no dia seguinte, à noite, sem dar nenhuma satisfação de onde estava, desprezando a preocupação de minha mãe.

Ver o quanto ele não tinha o menor amor por mim e minha mãe, me trazia sentimentos muito ruins.

Quantas vezes eu desejei sentar no seu colo e falar sobre como foi meu dia?

Quantas vezes eu chorei sozinha por não ter com quem pedir conselhos?

Quantas vezes eu quis sentir ódio dele por me abandonar a cada manhã, dia após dia?

Sinceramente? Perdi as contas.

Minha mãe era uma mulher amorosa quando eu era pequena. Me lembro de dormir ouvindo o som de sua voz, tão calma e melodiosa, me trazia tamanha paz que adormecia rápido e profundamente.

Mas há muito tempo não ouço mais essa voz. Pelo menos, não em tom de amor, mas de acusação.

Depois que meus pais começaram a brigar mais, minha mãe perdeu o brilho de alegria que tinha antes. Consequentemente, eu também perdi o meu.

Qual o sentido de ouvir todos os dias os seus soluços baixos vindos da sala a cada vez que brigavam?

Certa vez até a ouvi acusa-lo de traição. Eu não quis acreditar, mas o perfume diferente nas roupas deles me fizeram questionar minhas convicções.

Quantas vezes eu quis um carinho e não encontrei?

Quantas vezes eu chorei sozinha por querer contar pra alguém sobre meus anseios e pensamentos de menina?

Quantas vezes eu quis sentir ódio dela por me abandonar toda manhã, dia após dia?

Sinceramente? Perdi as contas.

Por causa disso tudo, eu comecei a questionar minha vida.

"Por que tentar se irei falhar? "

"Por que buscar se não irei encontrar?"

"Por que sonhar se vivo em um pesadelo?"

Já não via mais sentido em seguir em frente. Já nem ao menos sabia se vivia ou se apenas existia.

Vejo meus amigos e colegas com suas famílias perfeitas e me pergunto o porquê.

Por que é que tem que ser tão difícil pra mim? Por que parece que é difícil só pra mim?

Foi nesse momento, onde eu estava prestes a me lançar ao grande mar azul do alto daquele precipício, que o Theo me achou.

Sua voz era tão calma como a de minha mãe costumava ser. O carinho em seus olhos era o que eu sempre procurei nos olhos de meu pai e nunca encontrei. Sua preocupação com as minhas lágrimas e com meus problemas refletia o que eu queria que ambos os meus pais perceberem, porém nunca se deram ao trabalho.

Acho que nunca chorei tanto quanto naquela tarde. Minhas lágrimas desciam descontroladamente enquanto eu despejava em seus ouvidos os meus mais profundos traumas e ressentimentos. Lembrava de cada detalhe desde o primeiro desaforo de minha mãe até o último grito de meu pai.

Mas eu nunca senti tanta paz quanto eu senti naquela tarde. Suas íris castanhas me analisavam de forma que eu não vi pena, mas sim compaixão em seu olhar. Suas mãos iam de encontro às minhas e as acariciavam em movimentos circulares, que me transmitiam toda a calma que somente Ele podia me passar.

Me senti como uma criança de novo, pequena e frágil, porém com a sensação boa de proteção. O Theo acabou fazendo um papel de irmão mais velho pra mim, que mais tarde se tornaria o meu amor.

Acabamos dormindo ali mesmo, com as estrelas como teto e o som da maresia como cantiga de ninar. Naquela noite eu não tive pesadelos, mas sim os mais belos sonhos com aquelas íris castanhas.

E Ele acabou se tornando minha paz.

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Oieee!!
Espero que tenha curtido mais um capítulo!
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Beijos de luz✨✨