Capítulo 3

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Eu estava correndo.
Não, não apenas correndo, eu estava fugindo.
Estava fugindo por entre as árvores altas de uma mata densa, cheia galhos retorcidos e musgo no tronco das árvores. Grandes pedras e galhos caídos dificultavam minha passagem. Estava dia, mas a mata era tão densa que mal se podia enxergar o céu.
  Eu desconhecia aquele local.
  Mantinha meus braços na minha frente, em uma vã tentativa de me proteger. Eu já estava coberta de arranhões, por onde saiam pequenos filetes de sangue.
  Eu estava com medo, assustada. Sabia que estava sendo perseguida mas não conseguia sentir o cheiro de nada nem de ninguém. Eu, por vezes, olhava para trás, porém o medo de tropeçar e cair e essa coisa que me perseguia me alcançar, me impedia de virar com mais frequência. Cada vez que eu virava, apenas enxergava a mata calma ao meu redor.
  Até que cheguei a um paredão de rochas, trancando meu caminho. Eu não tinha mais para onde correr. Sentia que aquilo estava chegando cada vez mais perto. Quando virei para trás, um enorme lobo castanho escuro, quase preto, estava parado, me encarando. Seus olhos negros me encaravam, como se me reconhecessem. Ele puxou longamente o ar enquanto eu me encostava lentamente nas rochas, esperando.
   Não sei exatamente o quê eu estava esperando. Até que seus olhos mudaram e eu entendi.
   Eu estava esperando a minha morte.
   Num piscar de olhos, o lobo enorme pulou em minha direção, dentes afiados mirando na minha garganta.
   E, com um grito estridente, eu acordei.
   Sentada na cama, com a respiração ofegante. Não haviam completado nem 3 segundos que eu tinha acordado que a porta foi arrombada por Noah, apenas de short e com um olhar, aparentemente, assustado e por Harry, apenas preocupado. Ele já estava acostumado com meus gritos durante a madrugada. Mas ver Noah ali, descabelado e ofegante foi um surpresa.
   Trocamos olhares por alguns segundos, até que ele começou a vasculhar o quarto. Logo em seguida, já haviam alguns outros homens na porta do quarto enquanto Harry vinha sentar do meu lado.
   - O que houve? - perguntou Noah, parando subitamente de vasculhar o quarto e olhando para mim. Eu engoli em seco.
   - Isso é normal. - disse Harry. Noah não tirava os olhos de mim.
   - Então... Não tem ninguém aqui - ele parou ao lado da cama, me olhando - correto?
   - Sim - me levantei, ficando ao lado dele. Passei a mão pelo meu rosto e prendi os meus cabelos, que já estavam longos demais. Quase na altura da cintura. Ele acompanhou o movimento com os olhos, logo em seguida se dirigindo aos homens parados na porta.
   - Dispensados. - eles assentiram e se retiraram. Todos estavam vestidos para o combate.
   Como? Por quê eles estavam lá? Talvez achassem que já havia uma ameaça por perto para estarem na porta tão rápido...
  Noah colocou as mãos sobre os olhos por alguns segundos e, em seguida, abaixou-as e olhou para mim, exasperado.
  - Pode me explicar o que foi isso?
  Abri a boca algumas vezes para falar mas nada saiu. Harry, provavelmente percebendo meu desconforto, falou por mim enquanto eu tantava colocar duas palavras juntas.
  - Ela tem isso desde quando éramos criança - disse, esfregando os olhos. - Hoje nem foi tão ruim, ela só gritou uma vez. - senti seu olhar sobre mim, porém eu estava com os olhos perdidos na noite que quase se transformava em dia na rua. Já deveria ser por volta das 5 horas da manhã. - Tem vezes que ela só para se alguém acordar ela. - senti os olhos de Noah me queimando as costas.
  - Perdi o sono. - proferi, voltando meus olhos para a dupla.
  - Acho que todos nós perdemos. - respondeu Noah.
  - Vou ir tomar banho. - comentei, virando as costas e me trancando no banheiro, não me importando muito com os dois atrás de mim.

Assim que saí do chuveiro, tinha outro conjunto de roupas em cima da cama - agora arrumada -, desse vez um pouco diferentes. Tinha uma legging preta e uma camiseta igualmente preta. Uma calcinha de algodão preta e outro top. Parecia que eu estava me vestindo para o meu funeral, embora minha escolha de roupas habitual não fosse muito diferente.
Um arrepio passou pela minha espinha. Me troquei rapidamente e coloquei meus coturnos - os quais eu tinha dado uma "limpadinha" na pia do banheiro. Verdade seja dita, eles estavam podres.
  Fiz uma trança nos meus cabelos molhados pois não estava mais aguentando rabos de cavalo e não queria deixar secar ao natural. Assim que pus o pé para fora do quarto, percebi que a casa era muito maior do que eu tinha visto ontem.
  E que eu estava sendo vigiada. Haviam dois homens parados no final do corredor à esquerda e mais dois a direita. Os mesmos que estavam na porta antes, percebi.
   Meu quarto ficava em um largo corredor, com portas à minha direita e a minha esquerda. Ignorei-os e quando fui bater na porta de Harry, ela se abriu.
  - Preparada para a batalha? - ele me perguntou, olhando para um dos homens, que agora se aproximava de nós.
  - Sempre. - respondi, cúmplice.
  - Bom dia, me chamo Alberto e acompanharei vocês até o senhor Viper.
  Olher para Harry confusa. Senhor Viper? Vi a mesma confusão estampada nos olhos dele, mas demos de ombros e seguimos o homem.
  Viramos para a esquerda e descemos a escadaria que levava ao primeiro andar.
  Virando para a direita, havia uma grande sala de estar com uma lareira, um sofá grande e duas poltronas, com uma pequena mesa de centro. Um tapete branco e felpudo ocupava todo o lugar. Sem televisão. À esquerda, havia outro largo corredor, pelo qual eu e Harry fomos conduzidos. Haviam duas portas fechadas à esquerda e grandes janelas que nos mostravam a rua à direita.
  No final do corredor, uma grande e espaçosa cozinha se postava, com uma mesa grande mais ao canto, com diferentes pães, salgados e frutas e dois tipos de sucos. Atrás da mesa, grandes portas francesas nos levavam a um jardim dos fundos. O dia já estava clareando.
  Noah estava sentado na ponta da mesa, nos encarando enquanto eu e Harry examinávamos o ambiente que ontem não tivemos tempo de ver. Haviam mais duas pessoas com ele, o feiticeiro e o mesmo outro homem de ontem. "Quem será o senhor Viper?", eu pensava.
  - Sentem-se. - disse Noah. - Podem comer, mas temos que conversar. - eu e Harry nos entreolhamos e sentamos, um ao lado do outro. Noah apontou para a mesa, como num incentivo silencioso para comermos. Não pensamos duas vezes. Lentamente, começamos a comer. - Esse é Jaden - apontou para o homem ao seu lado, o mesmo de ontem. Ele era alto e tinha pele escura e incríveis olhos esverdeados. Ele foi o mesmo homem que estava ontem na clareira e nos chamou para vir para cá. Ele exalava poder. - E este é Salem - apontou para o feiticeiro. Salem. Que ironia, pensei. - Então... - continuou Noah.
  - Iremos responder todas as suas perguntas - cortei Noah - porém queremos respostas também - ele ergueu as sobrancelhas. Um desafio mudo a eu continuar, eu senti. - Por que toda essa "gentileza" com dois estranhos? - nesse momento eu já estava debruçada sobre a mesa, na direção de Noah.
  - Vocês atiçaram nossa curiosidade - confessou, se debruçando também. - um feiticeiro jovem e uma aparente híbrida - ele tombou a cabeça para o lado - eu, honestamente, não sei o que você é - falou virado para mim e depois voltou a sentar ereto na cadeira, fechei a cara - sendo caçados por assassinos de aluguel da alcateia Dark Moon... E ainda por cima, você conseguiu, de alguma maneira, matar um deles... Impressionante.
  E então me deu um estalo: eu não tinha sentido o cheiro deles até eles estarem muito perto de nós. E nem os assassinos. O feiticeiro... virei a cabeça para ele. Ele deve ser muito poderoso. E perigoso. Olhei para Harry, que já me olhava. Vi que nosso cérebro tinha chego ao mesmo lugar. Continuei quieta.
  - E então? - inquiriu Noah, alternando o olhar entre eu e Harry.
  - Somos treinados desde muito pequenos - respondeu Harry, atraindo a atenção de Noah. - Sempre estivemos na mira de alguém.
  - Por quê nos trouxeram para cá? - perguntei. Noah voltou seus olhos para mim.
  - Por que não trazer? Vocês estavam precisando de ajuda. - Touché.
   Mas eu não daria meu braço à torcer tão fácil.
   - Por quê trazer? Somos estranhos. Poderíamos ser assassinos ou sei lá o que! - eu estava ficando irritada.
   - Vocês não são. - atestou Noah - São?
   - Não faz sentido. - continuei discutindo.
   - Preferia que tivéssemos deixado vocês lá? - perguntou ele.
   - Não, não foi isso que quis dizer. - baixei a cabeça, sentei reta e respirei fundo, voltando meus olhos para Noah. - Escute, sou... - me corrigi, olhando rapidamente para Harry - Somos muito gratos por terem nos salvo. Se vocês não tivessem chego, eles teriam nos matado e...
   - Não concordo com isso. - retrucou - Vocês estavam realmente se saindo bem, apesar de toda a situação. - respirei fundo.
   - Muito prazer - estendi a mão para Noah, por sobre a mesa - meu nome é Sabrina Valdez. Tenho 20 anos e eu também não sei o que eu sou. - falei séria. Noah deu uma pequena risada e estendeu a mão para pegar a minha. Quando nossas mãos se encontraram, senti um pequeno choque, mas não larguei.
   - Prazer, sou Noah Viper, tenho 21 anos e eu sou um lobisomem.

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⏰ Última atualização: Oct 29, 2020 ⏰

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