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Despertamos há cinco dias. Pelo menos parte do meu setor, os primeiros tripulantes já haviam saído da estasis há um mês para desempenhar funções essenciais após a chegada. ARGOS já está orbitando Zarmina a pelo menos um ano, quando os terraformadores foram lançados, e eles ainda trabalharão por um período equivalente até que possamos por os pés na superfície.

De qualquer forma o clima é festivo a cada nova ala despertada da estasis, sabíamos que todos os cálculos foram feitos à perfeição, mesmo assim o natural temor de que talvez nenhum de nós abrissemos os olhos, ou não atingissemos nosso destino, era sempre um pesadelo à espreita. Bem isso é modo de falar, ao contrário do que muitos imaginavam, a estasis não é um sono comum, não nos permite sonhar. A última coisa que lembro foi de deitar em um desses casulos e em seguida acordar sob a luz de um sol vermelho.

Os primeiros dias foram tão fascinantes que em nenhum momento me veio à mente o mundo que deixamos para trás, mas agora que a maioria dos despertos entendeu que seremos os colonizadores de um novo, uma febre de registros pessoais se espalhou à bordo e enquanto organizava o meu próprio, finalmente me lembrei do meu pequeno "experimento". Consegui rapidamente desenvolver uma interface que me permitiu ativar a linha de comando dos satélites, agora posicionados ao redor da Terra. As primeiras transmissões chegaram embora sejam apenas o reflexo de algo ocorrido há 50 anos atrás.

A princípio não parece ser um cenário nada promissor, as imagens não conseguem ultrapassar a nuvem de detritos lançada à atmosfera, e só posso ter a certeza de que violentas tempestades e erupções devastaram a superfície. Porém os rastreadores de padrão genético acusam atividade positiva, mas não seria racional me animar apenas por isso. É bem provável que o impacto tenha causado algum tipo de interferência no sinal e esse seja um resultado incorreto.

Em vista do que observei, só torço que seus últimos momentos tenham sido breves e indolores, certamente seria melhor que suportar o ambiente terrestre pós impacto. E pensar que todos poderiam estar aqui comigo desfrutando de um mundo de novas possibilidades. Algumas famílias têm sofrido à bordo, talvez elas estejam reagindo da forma correta à perda de quase toda a humanidade. Talvez a minha atitude é que seja de tamanha insensibilidade que apesar de lamentar, ainda não verti uma lágrima sequer. Ou terá sido justamente essa diferença de percepção que Cristiane viu em mim, o que os impediu de me acompanhar?

PROTOCOLO: COLOMBOOnde histórias criam vida. Descubra agora