Obs¹: A música linkada na capa é a referente a citada no meio do texto, é Stigma do V, sugiro lerem a tradução dela para entenderem melhor, mas também não faz tanta falta.
Obs²: Contém linguagem ofensiva, cenas de violência e abuso que podem ser gatilho para quem passa por esse tipo de situação. Prossiga com responsabilidade.
Boa leitura!
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– Eu tô falando, Joyce, eu tenho certeza que vi o V aqui em casa de novo. – Falo pela milésima vez na chamada.
Quando começamos, era para ela me entrevistar para o trabalho de faculdade de psicologia dela e agora voltamos ao tópico de que eu continuo tentando desenvolver. Sei que eu não estou louca, mas não sei explicar.
– Samantha, presta atenção, não existe a possibilidade do Vante estar na sua casa. – Ela começa. – Ele é razoavelmente conhecido, tem canal no youtube e até uma fanbase, por que ele invadiria sua casa?
– E se ele for um fantasma? – Pergunto. – Eu tava pesquisando sobre isso, talvez ele seja um tipo de fantasma ou demônio, ou tem super poderes e se teleporta...
– E por que ele iria para a sua casa? – Devolve eu fico em silêncio. – Viu? Provavelmente, você está vendo ele porque está cansada e gosta dele, isso acalma seu cérebro. Nós duas sabemos que você precisa de conforto.
– É, talvez seja. – Concordo. – Mas eu vou pegar ele de surpresa da próxima vez, vou provar que ele vem aqui.
– Tá. – Ela suspira. – Mas se não conseguir pegá-lo essa semana, você desiste, okay? Tenta dormir um pouco.
– Okay. – Digo e sorrio. – Acho melhor desligar porque meu pai chega daqui a pouco.
– Certo, toma cuidado e não discute com ele. – Aconselha enquanto eu aceno e desligo a chamada.
Suspiro me jogando para trás, batendo a cabeça na cabeceira e choramingando baixinho. Deveria existir um limite para o azar... Vejo os pequenos quadrados grudados no teto, que um dia foram os responsáveis por manter estrelas fluorescentes lá e sorrio sentindo falta daquilo, era legal ter algo para me distrair. Levanto e passo pela porta vendo a fechadura quebrada que me lembra que agora ela não pode mais o impedir de chegar a mim e suspiro novamente. Ando suspirando bastante.
Vejo que são quinze pras cinco e ponho a água para ferver, preciso de café. Joyce diz que eu não devia consumir isso de tarde, porque eu sou muito ansiosa e isso me tira o sono, mas esse é o objetivo. A madrugada é a hora em que eu consigo por meus ralos neurônios para funcionar e monto meu TCC. Não gosto da minha área e não tenho grandes aspirações nela, porém ela é minha passagem de libertação pra tudo isso aqui. A minha carreira vai me libertar desse inferno.
Corto um pão e tempero com azeite, orégano e sal, porque eu gosto assim. Também pego o coador e coloco a minha medida de café para uma caneca. Eu tenho meia hora de paz até que meu pai chegue às cinco e meia, depois eu preciso tomar o devido cuidado. Quando tudo fica pronto, eu volto ao quarto e abro o notebook assistindo aos vlogs do V para ter certeza de que é ele mesmo quem eu vi, não há dúvidas.
Não percebo quando minha vó acorda, e nem quando meu pai chega, fico imersa naqueles vídeos, aquela voz, o sorriso. Talvez Joyce esteja certa e eu só esteja buscando consolo, ele me consola de uma forma que eu não explicar... As lives dele tocando e compondo são as únicas que eu realmente assisto ao vivo, porque sentir que estamos dividindo o mesmo sentimento, ao mesmo tempo, realmente me consola.
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Demônio Familiar (Fic)
Short StoryExistem inúmeros contos que nos apresentam forças místicas através de nomes como "demônio" a questão é que nomes são apenas junções de signos usados para definir algo diante daquilo que vivemos. O natal já foi um festival pagão, e demônios já foram...