Era dia quando Jimin saiu de seu apartamento, seu pacote de lixo em mãos e seus pés o encaminhavam até a área de serviço, onde pôde ver seu vizinho indo, aparentemente, fazer o mesmo. Era a primeira vez que se falavam.
- Bom dia... - O loiro Park ouviu o homem pálido dizer.
- Bom dia. - Respondeu educadamente.
- O senhor é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
Ficaram por alguns segundos em silêncio, antes de Jimin voltar a dizer.
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê? - As sombracelhas franzidas do pálido revelavam a confusão.
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu. - O Min disse, coçando a nuca.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- O senhor também...
- Me chame de você. - Park disse, dando o primeiro sorriso do dia.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinho, às vezes sobra...
- O senhor... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- Em Busan. - Yoongi disse, ao analisar seus chinelos azuis.
- Como é que você sabe? - Disse embasbacado
- Vejo uns envelopes no seu lixo. De Busan.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é... - Ele desviou o olhar.
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito. - Park disse, agora se sentindo um pouco mal.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe? - Essa fora a vez do Min ficar surpreso.
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo... - Disse com cuidado.
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou. - A feição do Park se fechou um pouco.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou. - Confessou, passando a ficar vermelho.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo! - Yoongi franziu a testa
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas? - Jimin quase podia sentir vontade de se enfiar no chão.
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. - Min sorriu, e Jimin pôde ver a gengiva fofa do outro - Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos? - Yoongi completou sem pressa.
- É. - Jimin completou o sorriso.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.- No seu lixo ou no meu?
Algumas risadas foram dadas, e o porteiro nunca entendeu o porque de dois homens terem passado tanto tempo jogando apenas o lixo fora e voltando tão sorridentes.
~
Welcome back, little stars.
O que acharam? É um texto simples e bobinho que eu sempre achei muito bonitinho e engraçado e que ninguém que eu conheça sabe da existência, achei a ideia de apresentar pra vocês legal. A literatura brasileira é melhor do que vocês pensam.
Até a nossa próxima vez. Fiquem bem ♡
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O Lixo - PJM + MYG / Yoonmin ONESHOT
FanfictionAlgumas pessoas dizem que nada acontece por acaso, no entanto, outras dizem que tudo se pode ser alterado, o tempo todo, nos levando a crer que nada no universo é premeditado. Mas... conhecer o vizinho que você curiosamente começou a observar o lixo...