O corpo de Ray estava curvado, suado e rígido. Seus braços corriam por cada músculo de seu corpo apenas para aperta-los até sentir dor, os olhos arregalados, e lágrimas caindo deliberadamente... Essa era uma madrugada comum para Ray.
Independente do horário, Ray sempre acordaria com uma crise, seja sobre um pesadelo (como era na maioria das vezes) ou não. Ele choraria, se abraçaria até seus músculos doerem e então se permitiria beber água para se acalmar. Ele tateou sua mesinha de cabeceira, onde esperava encontrar sua tão querida água, mas aquele dia ele havia se esquecido graças ao um jogo bobo com seus irmãos.
O moreno se praguejava enquanto se levantava, colocando seus pés nus em contato direto com o carpete vermelho, mas isso não incomodava Ray, nem um pouco. Ele também não se incomodou de acender a luz, nem mesmo a do abajur, afinal, o quarto era totalmente organizado, tudo tinha seu devido lugar, fazendo o moreno reconhecer tudo mesmo no escuro, com a apenas a luz do luar para iluminar seu caminho. Ray ainda esperou alguma magia, como água aparecendo no nada na porta do quarto, mas não funcionou...
Então lá foi ele, em busca da tão valiosa garrafinha de água. O garoto abriu a porta de seu quarto silenciosamente, logo se deparando com a imensa vidraçaria da janela, que lhe fazia contemplar a lua cheia, o garoto também ouvia sons dos mais diversos: Respirações, roncos, arfares, ofegações, suspiros, soluços e etc. Ray sabia que cada uma das crianças tinha um trauma diferente. Ele conhecia cada uma delas, seja Phill e Alicia, seja Hayato e Don, no fundo ele sabia que eles tinham seus próprios traumas, seus próprios demônios, e sabia que apenas eles próprios conseguiam lidar com eles. Ray não os atrapalharia. Passou lentamente pelo corredor, de uma maneira silenciosa, delicada e cuidadosa que só ele fazia. Ele sabia que os mais novos acordariam se ele não fosse cuidadoso, qualquer minimo som, e tudo ia por água a baixo, cada uma das crianças cresceram com os instintos a flor da pele, afinal. O sono das crianças era o motivo para Ray passar tão lentamente pelo corredor, que era iluminado pela lua, fazendo o moreno não se preocupar com as luzes apagadas, afinal ele conhecia cada canto daquele local, então não foi surpresa para ninguém que nenhuma luz foi acesa até que ele chegasse na cozinha.
Assim que chegou na cozinha e acendeu a luz notou o quão belo o cômodo era a noite, com as luzes completamente projetadas para dar aquele detalhe. O garoto sorriu pequeno, orgulhoso de seu trabalho, foi até o armário da cozinha e pegou sua garrafa de lá, indo em seguida até o filtro de água que ficava do outro lado da imensa cozinha. Ray encheu a garrafinha e subiu a grande escadaria de madeira de ágar, com a idéia de ir diretamente para seu quarto e dormir em sua cama macia e quentinha, mas se surpreendeu ao passar por um dos quartos mais silenciosos da casa e ouvir o som dos passos e sussurros de Norman.
O moreno sabia que seria intromisivo se batesse na porta. E se sentia ridículo por ter vergonha de bater na porta de seu amigo. Ele revirou os olhos e parou em frente a porta, ensaiou por vários minutos, e quando se preparou para bater, viu a porta ser aberta por um albino. Norman encarou Ray confuso, e Ray encarou Norman confuso. Ambos se encararam por alguns segundos, até que o moreno entendeu o olhar sombeteiro do branquelo e se arrependeu por tentar ajudar o garoto.
- Por que está aqui?
- Por que está saindo?
Ambas as perguntas foram feitas ao mesmo tempo, mas Ray notou o meio sorriso no rosto do outro. Ele tinha uma ótima visão graças a vidraça que estava ao seu favor. A luz da lua iluminava Norman, tanto que ele podia ver cada detalhe do branquelo, os olhos azuis, o nariz fino e pequeno, a boca fina e delicada, o pescoço nem um pouco fino, os ombros (não tão) largos... Ray sorriu pequeno ao ver cada detalhe do belíssimo rosto do garoto em sua frente, ele sabia que Norman não perceberia, então não custava tentar.
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Bottle of water
FanfictionRay precisa encher de sua garrafinha de água que esqueceu de levar para o quarto, e acaba trombando com um velho amigo... Ou... Onde Ray tem uma recaída, e tudo que precisa é de um abraço aconchegante e uma brincadeira infantil