Capítulo 2 - Declínio

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Holla novamente, aqui é RamonaGunderson e  Senza_Ali, desejamos uma boa leitura e agradeçemos pelo feedback do primeiro capítulo.

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Os dias posteriores a chegada de Xue Yang ao apartamento foram de certo modo peculiares, não apenas pelo motivo de ter outra pessoa dividindo o local consigo, mas por pequenos e frequentes acontecimentos esquisitos que se desenrolavam através dos dias.

Xiao Xingchen poderia dizer que era uma pessoa organizada na medida que lhe era permitido. Qualquer coisa que bagunçasse logo era organizado e guardado de forma que soubesse exatamente onde deixava cada um dos pequenos objetos e foi justamente por isso que notará que suas coisas passaram a simplesmente sumir no apartamento. Não eram itens que possuíam alto valor monetário ou simbólico, por isso não era tão problemático, mas mesmo assim incomodava o rapaz.

—Você viu a caneta que estava na mesa?— Fazia alguns dias que havia indagado a Xue Yang, num tom suave. Não era do tipo de pessoa que acusava outra sem provas e não havia pego o colega de quarto furtando nada, pelo contrário, o mesmo até lhe ajudava a encontrar alguns dos objetos desaparecidos quando estava livre.— Acabei dormindo ontem nos livros e quando acordei não encontrei a caneta preta.

— Deve ter rolado para baixo de algum móvel. — A resposta veio após o mais baixo entre ambos apoiar a xícara sobre o tampo da mesa ao lado de alguns papéis. Aquela poderia ser uma resposta plausível, se Xiao já não tivesse revistado cada canto atrás do objeto.

— Procurei em baixo dos armários e não achei nada.— Mesmo que o timbre fosse leve, existia um resquício de dúvida, uma pitada de desconfiança que não passou despercebida pelo "recém-chegado" que o respondeu com um sorriso, deixando as pequenas presas a mostra.

O novo morador se esgueirou para o chão e esticou o braço até a parte traseira da estante, de forma rápida como um felino. Poucos segundos tateando o chão abaixo do móvel e lá estava a caneta preta rodopiando entre os dedos habilidosos do menor. Os lábios curvados para cima em escárnio, quase como em um desafio mudo para que o outro lhe chamasse de mentiroso.

—Obrigado A-Yang...— Com um murmúrio contrariado o chinês maior se retirou da sala, indo até a cozinha.

—Tenha mais cuidado, Xingchen.— Pode ouvir a voz zombeteira misturada a sinos leves. Decidiu que realmente precisaria ter cuidado.

Apesar de suas coisas sumirem hora ou outra, Xiao não se preocupou mais com isso pois coisas piores começaram a acontecer. Copos, pratos, vasos e até mesmo quadros caiam como se impulsionados por forças invisíveis, muitas vezes chegavam a quase atingir o chinês que se via atordoado com tudo que se passava.

Sua paz era quase inexistente, até mesmo na faculdade ou emprego de meio período ouvia os sinos, sentia sua mente exausta pela falta de descanso e suas horas de sono não poderiam estar mais irregulares. As luzes do apartamento mantinham-se acesas durante todo o tempo em que estava no local e não havia um único momento em que não se sentisse observado e oprimido.

Os dias praticamente se arrastavam daquela forma, até o dia específico. O trabalho na loja de discos era de fato bom, recebia o suficiente para manter-se e ainda ter uma pequena sobra, mas ficar só na loja lhe fazia estremecer, ainda mais durante os horários onde o movimento era menor. Fazia algumas noites que perceberá os "sumiços" de seu colega.

Hoje não era uma noite diferente, perceberá assim que entrará no apartamento. Xue Yang já havia saído de casa, e naquela noite não teria que ir até a faculdade. Acendeu o interruptor de força e foi fazendo isso pela casa toda, até chegar ao banheiro. Talvez um banho conseguisse tirar todo o peso que sentia naquele momento e pudesse de fato relaxar, mesmo que temporariamente.

Entrou no cômodo despindo-se do uniforme da loja, antes de encostar a porta e adentrar o box, ligando o registro de água. As gotas mornas de água desciam pelo corpo magro e pouco definido de Xiao Xingchen, seus músculos estavam tensos pelos últimos acontecimentos e o insuportável som de sinos tilintava constantemente em seus ouvidos, badalando como avisos constantes de que algo iria acontecer. Aquele som incessante atraía uma dor irritante nas têmporas do rapaz de fios escuros, dor essa que as aspirinas não faziam passar de modo algum e o distraiam dos livros acadêmicos.

O estudante suspirou, pegando um pouco de shampoo e despejando nas mãos enquanto via as pequenos gotas condensadas escorrerem no vidro do box, apertando o registro para não desperdiçar água. Fechou lentamente os orbes abandonando a visão por alguns segundos enquanto esfregava os fios com a espuma formada, sua pele se arrepiou levemente pela brisa fria que varreu o banheiro... Todas as janelas estavam fechadas e Xingchen tinha certeza que a porta também. Um leve desespero cresceu em seu âmago, não havia entrada de ar possível, levou as mãos em busca do registro e encontrou apenas a parede fria.

Receio fez com que a respiração de Xiao ficasse pesada, a mente já parecia lhe pregar peças enquanto tateava cegamente a parede e nada achava. Queria abrir os olhos, mas o produto em seus cabelos caia sobre seu rosto como uma ameaça silenciosa de que caso o fizesse iria sentir uma ardência absurda queimar a visão. Sentia-se observado e os sons de sino abafaram completamente qualquer barulho externo, afogando Xingchen em uma aflição crescente.

Tateava com desespero e nada achava, apenas o azulejo gelado do box. As mãos de dedos delicados sentiram a textura lisa, uma mistura de frustração e agonia explodiu na mente do moreno enquanto perguntas e pensamentos absurdos vagavam lhe atordoando. Xiao estava quase desistindo quando suas mãos se enroscaram em fios de cabelo.

Estranhamente lisos e molhados agarrando-se nos dedos e fixaram-se nos pulsos magros do chinês. Xiao Xingchen queria gritar, seus movimentos de puro pânico eram brutos, se debatendo contra oque quer que fosse aquilo. O corpo foi empurrado contra a parede e a água caiu finalmente, levando embora a espuma do shampoo. No ralo era possível ver uma coloração vermelha e longos fios negros.

Loucura, só podia estar enlouquecendo. Lágrimas grossas enchiam os belos olhos do chinês, mas ele firmemente se segurou no restante de sanidade e caminhou para fora do box, amarrando uma toalha na cintura e fitando o espelho da pia... Grotesco.

Xiao Xingchen queria vomitar todo almoço, queria gritar e correr também. Fixamente refletido, aquele era seu reflexo após morrer? Ou talvez fosse a forma como iria morrer. Os globos oculares pareciam estar furados e escorriam uma gosma podre e escura, a pele enrugada com queimaduras, a mandíbula torta em um sorriso quebrado... Ah, não queria morrer daquela forma.

Os pés deslizaram no chão úmido e os joelhos fracos cederam levando o corpo para baixo. A cabeça do jovem de fios escuros foi atingida, turvando a visão e despertando uma forte dor pela pancada. Sua voz estava entalada na garganta, os gritos de dor e socorro morreram nas cordas vocais, Xiao sentia-se despencar em uma letargia feroz abandonando a sanidade temporariamente para se apertar contra o próprio corpo alimentando os demônios com o puro medo que emanava. 

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Teorias sobre...? o que acham do menino Xue Yang sumindo no meio da noite??

Muitas coisas ainda estão para acontecer e esperamos que tenham gostado da leitura.

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⏰ Última atualização: Nov 05, 2020 ⏰

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