Mauya nin avánië

1ª Página Solta

        Revirava o objeto sucessivamente nas suas mãos, avaliando de forma minuciosa o seu trabalho. Sentado na rocha fria, os seus cabelos caíam longos e lisos, refletindo o branco do luar; belo, como ele sempre se mostrava.

        Legolas Greenleaf, Príncipe de Woodland Realm, Mirkwood, um dos elfos mais prestigiados do seu povo. “Era tão alto como uma árvore jovem, ágil, imensamente forte, capaz de desenhar um arco de guerra e atingir um Nazgûl, dotado com tremenda vitalidade dos corpos dos elfos, tão difícil e resistente de magoar que ele caminhava em calçado de luz quer sobre rochas quer sobre a neve, o mais incansável de toda a irmandade.” Sentia-se pela primeira vez inseguro…

        Já partira em imensas aventuras e nunca recusava uma nova. Mas esta sua última, chegara inesperada, e apoderara-se dele como uma seta penetrante. O nome dela era Éamanë… Outrora fora Patrícia, pois ela era uma humana, no entanto, criada com os costumes do seu povo. Era adoravelmente pequena, mas de uma força tão grande que movia oceanos. Nunca pensara que outra rapariga teria tanto impacto na sua vida depois de Thauriel, a sua elfa guarda, pela qual daria a vida e pela qual se exilara do seu povo. Com ela era um sentimento certo, não tinha dúvidas do amor que lhe tinha, e, mesmo não sendo correspondido, não se arrependia de nada. Sabia que queria cuidar dela fosse como fosse. Mas Éamanë era diferente, trazia-lhe incerteza. A sua figura aparentemente frágil também apelava ao seu senso de protecção, mas não era essa a sua principal necessidade. Ele necessitava dela, de tê-la a seu lado, da sua companhia revigorante. Éamanë não lhe transmitia aquele romantismo, mas um carinho louco e uma atração que o deixava sem raciocínio.

        Todos estes pensamentos passavam-lhe num turbilhão ao examinar o objeto. E então recordou o momento em que se conheceram, na Floresta de Fangorn, quando se cruzaram com ela e a sua meia-irmã, esta sim, uma elfa de sangue de nome Lassel. Apercebera-se de como era persistente, ao insistir em ajudá-los na sua demanda, - Deixem-nos ir convosco resgatar os vossos amigos! – Pediu, tentando que o seu tom doce fosse convincente - Somos boas guerreiras, seremos uma mais valia. - Também quando desafiou Aragorn na luta contra os orcs. De pernas ligeiramente afastadas e postura direita, elegante, embora esguia, exibia um sorriso tão orgulhoso e alegre pela conquista do seu reconhecimento, que ninguém se opôs ao apoio de ambas para salvar os seus companheiros, Merry e Pippin.

        Surgiu-lhe então a memória da primeira noite em que Éamanë ficara de vigia, mas ele não resistira em espiá-la por ainda não ter total confiança nas capacidades dela. Apanhara-a sonhadora com um livro, deslizando o carvão pelas folhas criando desenhos incríveis. Éamanë captava os detalhes mais imperceptíveis e era capaz de se aperceber da sua beleza, algo que outra pessoa nem daria importância. Recordou com tristeza o secretismo dela, que até aquele dia nunca o deixara ver esse livro.

        A voz dela ecoou na sua mente, frágil e doce, quando cantara debruçada sobre um cavaleiro que encontraram caminhando para as portas da morte, depois da batalha no Abismo de Helm, - Canta para mim, por favor… - Pediu-lhe ele, mesmo não a conhecendo. E Éamanë, na sua pureza, esforçou-se para que o homem morresse com um sorriso desenhado no rosto.

Lay down
Your sweet and weary head
Night is falling
You have come to journeys end

Sleep now and dream
Of the ones who came before
They are calling
From across the distant shore

Why do you weep?
What are these tears upon your face?
Soon you will see
All of your fears will pass away

        Todas as recordações do encanto dela, da forma como o foi conquistando lentamente, de todas as conversas que tiveram, das batalhas que travaram lado a lado, faziam-no sentir que vivera meses ao lado de Éamanë, e não meros dias.