𝗵𝗲𝗮𝘁𝗵𝗲𝗿.

i wish i were...

Eram raras as vezes que Bakugou ouvia música.

Ele tinha algumas playlists de músicas relaxantes que o ajudavam a estudar; outra com algumas músicas aleatórias que ele gostara, mas que pouca gente conhecia; outra com músicas de rock... Ele era eclético. Entretanto, nunca foi muito fã do pop, nunca ficava por dentro das novidades ou dos álbuns novos. Afinal, Bakugou tinha sua meta e era se tornar o herói número 1, ele não poderia perder tempo com essas futilidades.

Porém, numa noite, quando estava se preparando para dormir, uma melodia suave e melancólica preencheu seus ouvidos. Pela primeira vez, ele dormiu tarde. Aquele toque repetindo sem parar em sua cabeça, fazendo sua ansiedade atingir seu limite por não conseguir descobrir o nome da música. No outro dia, no entanto, ouviu a mesma melodia tocar no salão principal do dormitório. Vinha do celular de Uraraka, que conversava com Hagakure sobre algo que Bakugou não prestou atenção, o garoto apenas passou por elas e, sutilmente, viu o nome da música.

Heather, do Conan Gray.

A partir daquele dia, Bakugou ouvia aquela música constantemente: ao acordar, ao escovar os dentes, durante o banho, até mesmo para estudar. Havia algo naquela melodia, na letra, que o atraía, o viciava. Algumas semanas depois, no entanto, ele descobriu o que era. Era inverno, o vento gelado quase cortava seu rosto, e aquele casaco estúpido não ajudava em nada. Bakugou tremia de frio, sua raiva atingindo seu pico, ele odiava o inverno, principalmente por não conseguir usar sua individualidade direito. Por que diabos aceitou sair com aquele pessoal nesse frio? Além do mais, ninguém parecia incomodado com a temperatura, o que apenas enfurecia ainda mais o loiro.

— Bakugou! — A voz de Kirishima preencheu seus ouvidos — Tá tudo bem aí, amigo?

Ah. Era esse o motivo. Ele era o motivo. Normalmente, Bakugou estaria dormindo à essa hora da noite, aproveitando calorzinho de seu cobertor, e não numa praça observando seus colegas de classe patinarem — ou tentarem, pelo menos — num lago congelado. Entretanto, quando viu a expressão animada de Kirishima, ele não conseguiu dizer não. Se viu arrastado por ele, pela sua alegria contagiante.

— Tudo uma merda, né. — Bakugou cruzou os braços e se encolheu em seu casaco — Eu deveria estar dormindo, não perdendo tempo com vocês aqui.

— Ah, que isso, se anima! — O ruivo riu, mostrando seus dentinhos pontiagudos — Você quer patinar?

— Não.

— Por favor?

— Já disse que não!

Kirishima suspirou derrotado, e Bakugou quase se arrependeu por ter usado aquele tom de voz com o garoto, mas o ruivo logo lhe lançou outro sorriso e tirou sua blusa de frio vermelha do Crimson Riot — sua favorita, vale ressaltar.

— Beleza, fica aí, então. — Kirishima lhe entregou seu blusão — Usa isso aqui, essa sua blusinha de frio pelo visto não está te ajudando em nada. Não quero que fique doente.

E correu até o lago. Bakugou ficou parado encarando aquela peça de roupa por longos 5 minutos, seu coração quase saindo pela boca. Desviou seu olhar até o ruivo, que tentava se manter de pé sobre o gelo, e, automaticamente, Heather começou a tocar em sua mente. Bakugou se sentiu sufocado, mas, mesmo assim, colocou a blusa de frio de Kirishima, seu rosto corando ao sentir o cheiro do perfume do ruivo.

Bakugou odiava aquela sensação. Seu corpo, no entanto, se aqueceu por inteiro enquanto se sentava num banco ali perto. Suas mãos tremiam, mas não era de frio, e, naquele momento, ele percebeu. Bakugou estava apaixonado por Kirishima. Não, espera, não podia ser. Amor é inútil! Uma fraqueza! Não é nada mais do que uma pedra no sapato! Bakugou não gostava de Kirishima. De jeito nenhum!