I Capítulo

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Acredito que toda criança já ouviu a seguinte frase, "o que quer ser quando crescer?", as respostas podem vir de diversas formas, de presidente até a defensor dos bichinhos. Quando entramos na faixa dos quinze, dezesseis anos a coisa começa a ficar séria, e a pergunta mais ainda. Médico, engenheiro, professor, músico? Bom, eu demorei bastante para me decidir, no início queria ser veterinária, amo os animais e essa opção estava no topo da minha lista. Depois eu comecei a me dedicar na escrita, meu diário tinha cada vez mais e mais rascunhos do meu dia-a-dia e alguns versos soltos que eu criava, daí veio a opção de fazer letras e me tornar escritora. Mas, meus pais não aceitaram pelo motivo de falta de reconhecimento dos autores e blá blá blá...

Hoje, tenho 20 anos e pensando no assunto, lendo e pesquisando sobre o que poderia me dá um bom futuro, achei uma matéria sobre Jornalismo e me interessei. Eu tinha garantido uma boa nota no ENEM e todos estavam felizes pela minha pontuação, só faltava agora fazer a minha inscrição.

Olhei o relógio que estava na mesinha ao lado e marcava 7h:05, me levantei da cama e fui em direção a escrivaninha, sabia que o site não estaria tão carregado e acertei, fiz rapidamente duas inscrições sendo uma delas Jornalismo e outra Letras em segredo. Fechei os olhos por um momento e voltei para a cama.

Ao olhar para o lado notei a Bíblia na mesa de cabeceira, coloquei-a em meu colo, e caiu em Felipenses 4:6-7 "Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz que excede todo entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus." Era tudo que precisava ler, acalmei meu coração e cai no sono.

Três horas de um sono bem dormido acordei com um barulho vindo do primeiro andar. Bufei, ao lembrar que meus tios viriam aqui em casa hoje, tia Ana é irmã mais velha da minha mãe, depois que casou com tio Júlio eles se mudaram de Teresópolis  – onde moramos – para Niterói para uma big casa diga-se de passagem e com certeza virão em cia – leia-se meus primos pirralhos Caio e Lucas. Acho melhor levantar logo!

Tomei um banho bem rápido, prendi o cabelo em um coque, coloquei um vestido leve e desci. Minha mãe ou para os meus amigos Dona/Tia Marta estava a mil por hora na cozinha, pelo cheiro tinha bolo de chocolate no forno, enquanto eu a observava da bancada da cozinha indo de um lado para o outro cheia de farinha no avental, pegando o alface, cortando tomate, passando geleia no pão, nem se deu conta de tempo que fiquei olhando, até que  me viu e se assustou, a cena foi bem engraçada.

— Camila, isso são horas de acordar? Pelo visto já se arrumou né... — disse, me tirando de cima embaixo. — Ali na sala, perto do telefone tem uma listinha do que precisarei pro jantar, vá ao Mercado pra mim e compre somente aquilo que pedi. — Senti uma entonação diferente no somente, como se eu fosse comprar o Mercado todo.

— Ok, mãe! — Virei os olhos. — Posso ir de carro? — Dei um sorrisinho.

— Não sei não, seu pai não está em casa.

—por favor, mãaaae! — Pedi com convicção de receber um sim em resposta. Tirou as chaves do bolso de sua bermuda e colocou em cima da bancada.

— Vai e volta rápido!

— Já fui — E sai correndo pela porta da frente.

O carro Fiat Novo Uno vermelho da mamãe estava bem estacionado, sendo assim foi fácil tirá - lo da garagem, fazer o retorno e dar partida. O mercado não fica muito longe, pedi o carro por preguiça de ir andando e também porque queria treinar mais ao volante. Chegando ao mercado estacionei o Fiat em um lugar próximo e confiável. A lista não era muito grande então acharia as coisas bem rapidinho e o quanto antes estaria em casa.

um quilo de arroz, manteiga, salsinha, massa para lasanha, dois sacos de pipoca — com certeza para as crianças, penso — duzentas gramas de queijo e presunto, pão de forma e refrigerante. Ok, com o carrinho cheio e com alguns acréscimos de minha vontade estava indo em direção ao caixa quando vejo o Rodolfo, a pessoa que eu não desejava ver tão cedo hoje e para melhorar era meu namorado. E... ele está acompanhado?

Tirando a mão da cintura da menina loura, corpo perfeito e ainda por cima de olhos azuis percebi que estava vindo em minha direção.

— Oi amor, não esperava te encontrar aqui. Estava pensando em passar na sua casa mais tarde, o que acha? — Disse se aproximando e me dando um beijo na testa.

Eu não estava escutando muito bem o que ele estava dizendo, porque meus olhos ainda estavam na menina. Quem ela era? E porque o Rodolfo estava agarrado a cintura dela?

— O quê? Hm, quem é ela? — Apontei com a cabeça em direção ao projeto de Barbie na minha frente. Literalmente, porque ela estava toda de rosa. 

— Ela, ahn, minha prima Valentina! Está passando um tempo lá em casa, parece que quer visitar todos da família antes de ir pra NY estudar.

— Certo! — Não estava acreditando muito na conversa dele, mas já que ele fez questão de explicar porque não acreditar, não é?

 — E quanto ir à sua casa hoje? —   Tirando minha atenção da garota, olhei para ele pensativa.

 —Tudo bem, meus tios estão chegando hoje! É bom que te apresento a eles. Se quiser levar ela —apontei na direção de sua prima com a cabeça. — fique a vontade! — Mas gostaria profundamente que ela não fosse, pensei.

—Acho que ela não vai querer ir, mas farei o convite! Até as sete horas, então! — Me deu um selinho e partiu, se colocando novamente ao lado da loura e a conduzindo para dentro.

Voltei minha atenção ao caixa e logo em seguida estava dentro do carro, antes de tomar as devidas decisões devo saber que nada disso é certo. Nem sei se ele estava mentindo, questionar parecia estar fora de questão. Com certeza ele viria com desculpas de que não é nada disso que estou pensando. Virei a chave e fui para casa, sabendo que alguma coisa errada tinha nessa história. Ou talvez, seja coisa da minha cabeça.

Aprendendo A EsperarOnde histórias criam vida. Descubra agora