Sob As Águas

Prólogo

Dizem que amor de verão passa.

Que se esquece.

Que se vai e se retorna anos depois como uma lembrança vaga que nos remete à juventude.

Ninguém avisa sobre as marcas que eles podem deixar e nem sobre as consequências de se jogar de cabeça na paixão tão intensa quanto a força das ondas.

Mas mesmo se tivessem me avisado, eu ainda estaria aqui pois nunca escuto conselhos.

Click, clack. O suor frio escorreu por minha testa para o prazer do cara que me contempla amarrado à essa cadeira.

O cheiro do meu nervosismo se mistura à podridão que enche as paredes desse casebre de mofo e a risada do meu quase a pouco desconhecido rival se misturou às latidas de cão, ao gatilhar da arma e ao que penso ser a tensão que ela exprimiu por meio de um suspiro.

Tonto, vejo pouca luz. Fraco, não tenho mais forças para tentar me desprender e fugir daqui. Dela ou com ela.

O pior é não saber se ela hesita em cumprir as ordens dele ou por saber que será a próxima nessa encenaçâo fajuta de Romeu e Julieta que será mais trágica que o clássico.

Fechei os olhos já que eles não me servem e senti apenas o aroma do ódio e do cigarro que ele fuma enquanto debocha de nosso fim. Os reabri em tempo de vê-lo cansado dessa brincadeira e rosnar sua sentença, olhando para a moça que aponta a pistola a poucos passos de minha nuca e ordenando de uma vez por todas:

— Acabe com isso, Hinata. Acabe com ele!