Prólogo

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UMA VENTANIA COLIDIA violentamente contra as folhas dos carvalhos, e o Tule de Prata já começava a ficar visível no céu noturno. Logo a estação sem folhas chegaria, e nessa época, todos os clãs temem os problemas que ela trás consigo. Em meio ao som de galhos sendo empurrados pelo vento, e de folhas farfalhando umas nas outras, guerreiros se preparavam para irem dormir em suas tocas. Embora o silêncio reinasse pelo território rochoso do clã, ainda era possível ouvir os miados abafados de uma nova ninhada.

Uma rainha, de olhos azuis e pelagem clara, permanecia deitada no meio de uma espécie de círculo, formado por outros gatos. Reunidos no berçário, estavam observando felizes àquelas minúsculas bolinhas de pelo, que a gata aproximava cuidadosamente com a cauda, para perto de sua barriga.

O brilho de seus olhos permanecia vívido em seu semblante cansado. Era a sua primeira ninhada, e ela não tinha noção do quão exaustivo poderia ser dar a luz à filhotes. Mas para ela, todo o seu esforço havia valido a pena, só por poder estar vivendo aquele momento com seus pequenos.

A gata enclinou seu pescoço para ter uma visão melhor daquela imagem diante dela: Aconchegados, no conforto do calor de seu corpo, haviam duas pequenas criaturas, que tateavam a sua barriga, e tremiam, em busca de um lugarzinho onde, então, poderiam beber o seu leite. Uma tinha a pelagem clara, como a da mãe, com as patinhas e o rostinho um pouco mais escuros. O outro, menor que a primeira, possuía uma pelagem totalmente negra, o tornando um pouco parecido com o pai, que de diferente, tinha umas manchas cinza-escuras que nenhum filhote havia herdado.

O guerreiro, agora pai, cuja força e destreza eram invejáveis para muitos, estava sentado de frente para as costinhas peludas, que bebiam o leite da mãe como se não houvesse um amanhã. Mesmo tentando controlar um pouco o orgulho, que o inundava por inteiro naquela noite, a sua cauda, balançando alegre de um lado para o outro, acabava o entregando totalmente, enquanto ele lambia com delicadeza os filhotes. A mãe mesmo sem forças também não pôde conter a sua felicidade, e esquecendo um pouco de sua fraqueza, começou a acariciar as cabeçinhas felpudas com o seu focinho, fazendo com que o guerreiro negro hesitasse por um instante. Não teria coragem de interromper aquele precioso momento entre a mãe e seus tesouros recém nascidos.

Houve um período de silêncio, até que uma gata, magra e sem pelos, finalmente, o quebrou:

- Graças ao Clã das Estrelas! - disse após um longo suspiro de alívio - Nasceram fortes e saudáveis... O parto foi tão difícil que eu temia que algo de errado acontecesse. Fico aliviada, de que tudo tenha corrido bem.

- Não só ao Clã das Estrelas, pois isso é graças à você também - a rainha disse, virando seus belos e brilhantes olhos azuis na direção da pequena gata - Muito obrigada Cauda Lisa, sem você eu não estaria com os meus pequenos. A sua habilidade como curandeira do clã, é algo que ninguém terá o direito de questionar.

Cauda Lisa não conseguiu evitar de abaixar sua cabeça, em uma certa reverência, como forma de agradecimento - Sou eu quem agradece, Brilho de Céu.

- Você deveria ir descansar um pouco, acredito que esteja tão cansada quanto eu agora. - sugeriu Brilho de Céu gentilmente, mesmo sabendo que seu cansaço não poderia ser comparado no momento.

- Farei isso. - afirmou a curandeira, enquanto dava uma última lambida em sua pata nua, e logo após, se levantando silenciosamente.

Os felinos que estavam em volta começaram a se dispersar e sair aos poucos, se despedindo e parabenizando Brilho de Céu. Cauda Lisa, e mais alguns gatos, se mantiveram no mesmo lugar por um tempo, até que todos saíssem, e só então começaram a mexer as patas em direção à entrada, em formato de semi-círculo e repleta de espinhos, do berçário.

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⏰ Última atualização: Mar 11, 2021 ⏰

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