Prólogo

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A luz do sol já adentrara pela janela há pelo menos uma hora e meia, mas aquilo não importava tanto para Alexa. Já estava acostumada a passar noites em claro jogando vídeo game e sempre conseguia deixar tudo muito bem disfarçado para parecer que esteve dormindo pelas mesmas oito horas que toda a sua família.

— Filha? — Meire chamou, dando três toques na porta — hora de acordar, já passa das seis e meia.

Rapidamente, Alexa fechou a tela do computador e fez a melhor voz de sono que conseguiu.

— C-claro, já estou indo — murmurou, enquanto se levantava da cadeira que ficava em frente à escrivaninha tentando fazer o mínimo de barulho possível — daqui a pouco desço para tomar o café.

A garota ouviu os passos da mãe se afastando da porta de seu quarto e suspirou aliviada. Por mais que sempre conseguia fingir o sono, uma hora iria ter que dormir de verdade e naquele momento se sentia exausta por ter passado a segunda noite da semana acordada.

"Eu prometo recuperar o sono perdido no fim de semana" pensou, pegando as partes do uniforme da escola "preciso parar de começar lives às duas da manhã".

Quando conseguiu terminar de se arrumar, pegou sua mochila e desceu veloz pelas escadarias. Pode ver seus irmãos Andy e Hannah quase terminando o café e Tadeo, seu pai, lendo o jornal virtual e murmurando alguma coisa inaudível.

Meire era uma mulher que sentia muita necessidade de ter horários fixos e pontualidade. Não gosta de atrasos e se descobrisse o motivo pelo qual Alexa andava sonolenta ficaria furiosa e decepcionada, afinal, onde já se viu trocar o precioso sono por horas em um jogo de computador?

O que sua mãe não sabia é que Z€R0 era uma mulher forte. Uma lutadora que sabe o que quer e não deixa ninguém mandar nela. Que forma a dupla perfeita com seu corvo Atticus, e juntos salvam o mundo de ataques monstruosos e alienígenas mas que, longe do computador, tudo o que resta é Alexa. A garota que gostaria de ter ao menos um terço da coragem da player para ser forte o suficiente e conseguir falar em público sem ter um mini-ataque-cardíaco toda vez que precisava apresentar um trabalho. Poderia querer ser ao menos o corvo, que mesmo sendo apenas um pet virtual ajuda com informações sobre os inimigos com sua habilidade especial de espionagem.

Mas não era.

— Mãe, são sete horas — falou, enquanto terminava de enfiar um pedaço do pão na boca — vou andando hoje para a escola, certo? Quero respirar um pouco de ar puro.

Meire olhou confusa.

— Ar puro? — perguntou de forma irônica — nós moramos em New York, você só conseguiria ar puro por aqui se andasse com uma máscara acoplada em um filtro de ar.

Todos riram da piada da mulher, enquanto Alexa apenas sorriu com o canto da boca e levou o prato até a pia.

- Pode até ser, mas acordei com vontade de caminhar um pouco.

"Bobagem. Caminhar? Todo mundo sabe que eu detesto ir andando até a escola. Mas hoje eu preciso me mover pelo menos um pouco, se não quiser dormir logo na primeira aula" Pensou, enquanto pegava a mochila e passava pela porta.

A escola não era, de fato, muito distante da casa onde Alexa vivia. Depois de passar por quatro casas, virava à esquerda e atravessava uma rua bastante movimentada, logo seguindo reto e parando na escola depois de não muito tempo.

A mente da garota estava sempre muito ocupada dentre lives, jogos, atividades da escola e o desejo quase que inalcançável de ter amigos e se tornar extremamente popular. Depois de viver uma vida inteira nas sombras, Alexa sentia que estava cada vez mais perto de ter cinco minutos de loucura e revelar para o mundo a verdadeira identidade da Z€R0.

Ao longo da cidade o que não faltava eram cartazes anunciando o lançamento do jogo Soul Fate. Todos os comentários relacionados à jogos virtuais e coisas relacionadas mencionavam o jogo. A empresa veio diretamente convidar Alexa — ou melhor, Z€R0 — para participar do desafio de lançamento do jogo, onde ela só poderia sair quando terminasse a última fase.

O que a garota não percebeu foi um homem encapuzado e com uma roupa completamente preta, que vinha andando em sua direção e seguindo seus passos há alguns minutos. Quando finalmente conseguiu se aproximar, colocou discretamente uma caixinha pequena no bolso da mochila sem que Alexa percebesse e, rapidamente, foi embora.

A garota seguiu seu rumo para a escola, e assim que sentou em sua mesa percebeu que seria muito complicado passar a manhã toda sem dormir pelo menos uma vez, mas que tentaria ser forte.

Ergueu um pouco sua mochila para pegar um livro, dando de cara com um objeto estranho que não estava lá antes. Enfiou sua mão no bolso onde aquela coisinha estava localizada, e se deparou com uma pequena caixa preta de formato hexagonal.

Quando estava prestes a abrir, a professora adentrou a sala.

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