CAP 3 - Nem todos estavam dormindo

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Dia 02 de outubro, 04h00min da madrugada.

Mal acordei e minha cabeça já estava pipocando pelo fato de que levantei com tudo porque pensei que continuava naquele corredor, mas como minha visão tinha se acostumado com o escuro eu consegui enxergar que não estava mais lá e sim num quarto - que NÃO era o meu -. Olhei para o lado e o menino que eu acabei me esbarrando estava me observando esperando que eu falasse algo, porém minha reação foi totalmente diferente e como eu estava apavorada dei um murro no seu rosto.

- Ai! Você é louca? Eu te salvo de um assassino e recebo um murro ao invés de um obrigado!

- Ai meu Deus me desculpa, foi reação, sempre fui treinada para fazer isso.

- Acho que essa sua "reação" pode matar alguém um dia. Então, ainda estou esperando o meu obrigado.

- Obrigado? Não vou te agradecer por enquanto, não confio em você, pode ser um assassino também. Falando nisso, como você sabe que tem alguém matando pessoas na nave?

- Porque essa pessoa matou meu irmão enquanto estávamos indo consertar a luz.

Por conta disso as memórias de Lídia voltavam para mim e eu fiquei meio arrependida de ter perguntado, mas ele ainda podia estar mentindo então não falei mais sobre aquilo e resolvi observá-lo.

- Nós nem nos apresentamos, meu nome é Lucas e o seu?

Posso dizer que achei bem estranho ele ter falado que o irmão morreu e logo depois perguntar meu nome. Talvez eu esteja desconfiada demais.

- Meu nome é Charlotte e nós precisamos resolver logo o problema antes que a minha lanterna descarregue.

- Sim Charlotte, mas vamos desprotegidos? Impossível. Primeiro temos que ir à cantina pegar comida e facas caso "a coisa" tente nos atacar.

Não gostei muito da ideia porque a cantina ficava do lado contrário de onde precisávamos ir, mas era melhor do que morrer.

- Eu tenho um estilete e um canivete, podemos usá-los para ir até lá.

Depois que eu disse isso ele me olhou com uma cara de confuso.

- Eu ia até perguntar o porquê de você ter essas coisas, mas prefiro fazer com que não me machuque igual ao seu agradecimento por ter te salvo.

- Olha, eu já disse que foi sem querer, uma reação, agora se você não acredita no que estou falando o problema é único e exclusivamente seu.

- Ótimo.                                                            

- Ótimo.

Após a discussão peguei uma mochila vazia que estava no quarto. Seguimos o caminho em silêncio e eu estava atenta a cada movimento que acontecia no corredor, parecia que só nós dois estávamos acordados naquele horário, mas comecei a sentir que alguém estava andando atrás de nós. Mantive a calma sussurrando para que ele não dissesse nada e me seguisse. Nos escondemos em um banheiro que ficava próximo a cantina.

- O que estamos fazendo aqui? Não era para estarmos na cantina?

- Alguém estava nos seguindo.

- O que?!

- Shhh! Silêncio. Você poderia ser mais atento, mas não vem ao caso agora. Vou ver se tem alguém por aqui.

Quando ia sair ele segurou minha mão.

- Você não vai lá sozinha, não posso perder você, não posso deixar essa "coisa" matar outra pessoa.

- Me perder? Não sou nada sua e a probabilidade de você morrer é muito maior do que a minha, então fica quieto aí enquanto eu vou lá fora.

Ele ficou com raiva, tristeza e medo, eu entendi que ele não queria que eu morresse para não ficar sozinho, já que ele parece meio inútil, mas o que poderia ser feito? Ficar lá até o assassino nos encontrar? Não, essa não era uma opção.

- Olha, eu sei que estou sendo grossa, mas nós realmente precisamos descobrir o que está acontecendo aqui para podermos ir embora.

Depois de falar isso, saí para dar uma olhada e o nosso caminho até a cantina estava livre. Entrei novamente no banheiro para chamar o Lucas e fomos em silêncio, observando tudo a nossa volta.

- Pronto, vamos nos esconder aqui atrás.

- Certo.

Assim que sentei no chão fui olhar o ambiente e me assustei quando o menino me chamou sussurrando e mostrou que perto de onde estávamos tinha uma garota igualmente sentada, era baixa, negra, tinha cabelos escuros e cacheados, mas seu olhar estava distante. Fomos até lá e percebemos que do outro lado de seu rosto tinha sangue e um buraco de tiro. As memórias ressoavam pela minha cabeça, sangue, morte, Lídia, eu não consegui me mexer.

- Precisamos sair daqui agora!

Ele disse isso e coisas do tipo que eu não consegui escutar. Saí do meu estado de choque e corri com ele até onde estávamos anteriormente, pegamos facas, isqueiros, comida enlatada e guardamos tudo na mochila. Com muito desespero conseguimos chegar à sala da energia, mas a porta estava fechada. Por um acaso do destino eu tinha um grampo de cabelo que usei para me arrumar e acabei por conseguir abrir a porta. Assim que entramos tranquei-a e caímos sentados ali mesmo com a respiração ofegante. Pensei que nós estávamos sozinhos lá, mas uma voz confirmou que eu estava errada logo após chegarmos.

- Quem são vocês?!

Tinham pessoas lá, umas nove, todas com algo apontado para nós.





28/11/2020

O mistério da nave Íris-747Onde histórias criam vida. Descubra agora