o universo tende ao caos e é em meio ao caos que a vida acontece

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   Alguns humanos são realmente estranhos, sabe. Meu palpite é que eles pensam tanto, que passam a se preocupar com coisas cada vez mais esquisitas, como a juventude e vida eterna.

   Se gabarem por serem esquisitos é uma característica marcante deles, diga-se de passagem.

   É claro, coisas como eternidade poderão ser obtidas na sociedade capitalista deles, não por pessoas pobres claro. Com fórmulas que rejuvenescem células, conchas artificiais, robôs, reconstrução de órgãos em laboratório. Essas coisas.

    Entrando numa concepção cristã e hegemonista, talvez eles tenham dentro de si a vontade de ser como o Criador: eternos, imutáveis e capazes de invenções perfeitas.

   Algo a ver com "imagem e semelhança", vocês devem estar familiarizados com isso. Alguns mortais se sentem satisfeitos com a ideia de serem uma das obras divinas, mas não pensam duas vezes antes de destruí-la ou sentir repulsa ao ser comparados com outras supostas criações do deus deles.

   Eles pregam evolução, mas sua utopia se progresso só se tornou viável a partir de uma visão binarista de Bem e Mal, Rico e Pobre, Homem e Mulher, Mérito e Fracasso, Honra e Vergonha, Amor e Ódio, Vida e Morte, Preto e Branco, Escuridão e Luz. Há quem diga que funciona.

   Novamente, só são alguns mortais tentando enganar a si mesmos com a ideia de que são superiores por viverem um contexto que os fazem acreditar que essa divisão existe, não são privilegiados.

    São atormentados. Como mencionei antes, eles pensam demais, se assustam com o desconhecido, é essa fragilidade diante do que desconhecem que os movimentam, mas para ser mais sincero humanos são acidentes.

   São produtos da sua insignificância na natureza, felizmente eles acharam uma explicação para isso, chamaram de seleção natural. Para se protegerem criaram armas, a demanda por novas formas de se protegerem propiciou o desenvolvimento das suas mentes.

    Não é algo exclusivo dos humanos, deixando claro, características positivas para a sobrevivência são hereditárias e moldam comportamentos e sociedades. Eles acreditam que são especiais por isso, mas abandonar o instinto e para se tornarem pensantes foi seu maior erro.

     Não é irônico? Parece aquela velha história que alguns deles gostam, de que foram expulsos do paraíso, se tornaram pecadores e adquiriram o livre arbítrio.

    Talvez ela tenha um fundo de verdade.  No entanto, não foi culpa de um Deus, nem de uma serpente, mas deles mesmos. Engraçado, verem a si mesmos como pecadores, mas serem incapazes de reconhecer como falhos.

     É sempre culpa de um anjo desobediente, de uma cobra falante, de alguém que fugiu do que eles consideram normal dentro de seu mundinho hegemônico. Nunca deles.

     Peço perdão, esse narrador não sabe a hora de parar. Ele é humano também, nenhum pouco confiável, mas com toda propriedade para falar mal dos seus semelhantes.

   A utopia binarista talvez seja produto dessa falha. Humanos ainda são animais, animais que evoluíram ou falharam demais, como você preferir acreditar. Dentro de seus corpos ainda existe o instinto, atrofiado, inútil e quem sabe, danoso, que os fazem corrererem do que acreditam ser uma ameaça é  permanecerem quando se sentem confortáveis.

   Se antes corriam do predador, hoje correm da dor, das responsabilidades, dos problemas, da tristeza, da morte, da falta. As vezes, não conseguem e são devorados por todos eles. Então, como tudo que consideram negativo, alocam isso no canto do Mal, da Escuridão e da Morte.

  Certo, A Morte.

    Houve um tempo que os protagonistas dessa história acreditaram que a sabedoria era como a luz, afastaria as trevas, a ignorância e o sofrimento. A forma de pensar é bonita não é? Mas para seres tão inteligentes, era de se esperar que aprendessem a lidar com a morte.

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