Capítulo Único

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ATENÇÃO, AVISO DE GATILHO, AVISO DE GATILHO.

Olá Midgardianos, tudo bem? O conteúdo a seguir pode ser sensível para algumas pessoas, por isso, se se sentir mal, leia com calma, sua saúde é prioridade.

Espero que gostem, se gostarem, deixem seu favorito e comentem, tenham uma boa leitura ♡

(Obs: Capa provisória pq foi o que deu pra fazer com um celular ruim)
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Kirishima Eijiro se sentia vazio, fazia algum tempo que não se sentia assim mas não podia controlar suas crises, por mais que quisesse se sentir bem consigo mesmo, por mais que sorrisse, por mais que fosse amigável, não podia simplesmente se livrar daquela tristeza silenciosa e solitária que levava embora sua pouca força para sorrir. Um dia, dois, três, ao final de uma semana ninguém tinha reparado ainda mesmo que estranhassem como ele permanecia trancado no quarto a maior parte do tempo. Mais claro, quem repararia? Quem se importaria? Ninguém, não tinha ninguém que o conhecesse de verdade, que notasse sua vontade de gritar por desespero, implorar que qualquer coisa lhe livrasse daquela agonia que o impedia de comer e que o fazia vomitar, só queria, no mínimo, que endurecer sua mão e cortar sua própria carne não fosse tão tentador, porém, fazer isso era a única coisa que lhe livrava do desespero. E não, ele não podia falar, não podia deixar que se preocupassem, não podia ser um peso novamente, e pior, não podia arriscar ser ignorado, afastado.

Deitado em sua cama, chorava a mais de uma hora, não conseguindo conter a vontade de abrir vincos em sua carne ao se arranhar. Os anos, felizmente, o abençoaram com a capacidade de chorar em silêncio mesmo quando se sufocava com a vontade de berrar por toda a dor, física e mental. Não suportando o calor dos lençóis, se jogou no chão e se encolheu no canto entre a parede e a cama, um local deliciosamente gelado, acalmando sua pele que parecia queimar enquanto suor escorria por suas têmporas. Deveria estar com febre.

Inútil.

Fraco.

Covarde.

Burro.

Ignorante.

Tolo.

Inútil.

Inútil.

Fraco.

Deveria morrer, seria melhor que morresse, mas era covarde demais pra se matar.

Fraco.

Queria morrer, queria que a dor parasse. Por que agora? Estava tão bem naquele mês, por que de repente? Ah sim, não conseguiu salvar uma pessoa. Normal, nem sempre os heróis ganham, mas só o provava o quanto ele não merecia o lugar que estava. Merecia morrer, sim. O sentimento que lhe dilacerava a alma era nada mais, nada menos que a verdade que não conseguia aceitar, ele era um peso inútil que não fazia nada direito, que não merecia ser chamado de herói, que não merecia viver.

Morra Eijiro.

Morra, morra de uma maldita vez, é o que você merece, o que deveria ter aceitado desde que nasceu. Acha que pintar o cabelo resolveria? Acha que forçar sorrisos resolveria? Você é o mesmo inútil que merece morrer, apenas com uma máscara diferente.

Morra Kirishima Eijiro, apenas morra.

Endureceu sua mão e a guiou até seu pescoço. Um único golpe, era o que bastava, um golpe e arrancaria a própria cabeça, porém, antes que pudesse terminar o ato, uma mão segurou a sua e depois o seu corpo, o cercando em um abraço apertado. Demorou dez segundos até sua visão se focar que ele reconhecer os cabelos loiros e o embriagante doce cheiro da nitroglicerina que era característico da individualidade do amigo, porém, pelo choque, não se moveu até ouvir o sussurro rente ao seu ouvido.

- Está tudo bem, eu entendo, você não está sozinho, Eijiro.

Finalmente, após anos, um soluço alto rasgou sua garganta e ele abraçou o amigo com força, com medo de ser sua imaginação, medo de ter ansiado tanto por uma salvação que agora enlouqueceu, mas não, era palpável, firme, seu amigo estava ali, a pessoa que amava em segredo estava ali, Katsuki. Com a compreensão e o alívio, ele gritou para se livrar da dor, ao passo que enterrava o rosto do peito do loiro e o segurava como se sua vida dependesse disso, e levando em conta o que quase fez a minutos atrás, dependia, no momento realmente dependia, como jamais dependeu de ninguém.

Katsuki não falou mais nada pela hora seguinte, apenas gritou uma ameaça quando tentaram entrar no quarto, de resto, trocou de posição com o ruivo e o puxou para seu colo, acalentando sua dor, acariciando seus fios, beijando as feridas nos braços com lentidão e cuidado, para em fim, quando Kirishima parou de tremer e gritar, ele sussurrar novamente que estava tudo bem e que estava ali por ele.

- Eu notei, Eijiro, estou aqui, eu notei e entendo - Seus murmúrios acalmaram a dor latejante do ruivo, mas ele ainda permaneceu agarrado a ele - Vai ficar tudo bem, estou com você, você não está sozinho, eu notei, Eijiro - Beijou o rosto do amigo que também amava silenciosamente, beijou várias e várias vezes, beijos caloroso que limpavam as lágrimas que o outro deixava cair - Eu notei, calma agora, pode chorar, pode gritar, mas calma, estou aqui agora, perdão por não vir antes, shiiii.

Eijiro não reconhecia aquele Katsuki, seu amigo explosivo e estressado nunca agiu com tanto cuidado, porém, ao voltar suas orbes para os olhos vermelhos sangue, ele viu ali sua dor refletida, um espelho de sua própria agonia, então soube que Bakugou realmente entendia, mais do que deixava qualquer um saber, ele entendia, e aquela simples compreensão bastou para que ele apertasse ainda mais o abraço e sussurrasse de volta.

- Você também não está sozinho, pode chorar também - Katsuki sorriu quando lágrimas escorreram por seu rosto.

- Antes de cuidar de mim, se foque em você.

Eijiro não queria saber como o outro sabia ou porquê foi ali naquele momento, e nem Bakugou estava disposto a contar que tinha ido buscar ajuda e ajudar, ambos apenas apreciavam o apoio que nunca tiveram, principalmente o ruivo, por ser seus pensamentos mórbidos sufocados pelo cheiro doce e pelo abraço de urso. Estava bem, estava protegido, ao menos daquela fez podia chorar, soluçar e gritar o quanto quisesse, pois Katsuki estava ali, beijando seus fios, fazendo cafune, sussurrando que ele jamais estaria sozinho novamente. Podia ser mentira, ele achava que era, mas se apegou aquelas palavras que formavam sua âncora, e ansiou que aquele momento de proteção durasse para sempre, mas se satisfazendo por durar o resto da noite.

Na manhã seguinte, Eijiro não queria sair da cama, estava exausto demais para se erguer. Por outro lado, Katsuki tinha energia suficiente para descer e avisar que ambos não iriam para o treinamento, então pegar uma bandeja e subir para cuidar do amigo... Amigo... Depois daquela noite não tinha mais certeza do que eram, estavam tão frágeis que admitiram um para o outro que se amavam e prometeram que estariam ali um para o outro. Com um carinho não natural, mas necessário, acariciou os fios vermelhos e deu-lhe a bandeja com comida, está que foi bem aceita depois de muito insistir. Eijiro comeu, ou melhor, foi alimentado, mas o alimento só permaneceu em seu estômago por Katsuki ter permanecido ali.

Ambos estavam confusos sobre o que ocorreria, sobre o que seriam, porém, era gratificante e bom não ter pensamentos ruins logo ao acordar, e no momento, a paz silenciosa da presença um do outro era tudo o que importava, era tudo o que queriam.

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