CAPITULO 1: casamento e vida perfeita part 2
Ao entrar no edifício fechei o guarda-chuva chacoalhando-o ao lado de fora. Observei a água escorrer formando uma poça ao meu redor.
- Droga, estou molhando tudo! - reclamei baixo.
Olhei perdida pelo hall de entrada pensando no que fazer com ele, nunca tive um guarda-chuva antes, mas sabia que deveria ter algum lugar para guardá-lo, limpá-lo, ou então, em dias como esse, em uma cidade que chove constantemente, esse piso limpo e brilhante não seriam brancos, mas conteria uma bela obra abstrata de barro e lama.
- Senhora? – Uma voz grossa e encorpada surgiu atrás de mim.
- Oi? - Meu rosto deve ter se contorcido em uma expressão engraçada, pois sentia minha franja molhada grudar em meu rosto e alguns fios queriam entrar nos meus olhos. Estava coçando.
O homem que me chamara conteve uma risada e apontou para uma máquina ao lado da porta. Tinha um desenho de guarda chuva e uma placa apontando para um buraco com a ponta de uma sacola saindo para fora.
- Há! Sacolas! Isso, uma sacola! - pensei rápido.
- Muito obrigada. - Disse sorrindo e caminhando até a máquina pegando uma e colocando o objeto encharcado dentro.
٭٭٭
Depois de passar tantos dados para os arquivos no computador meus olhos que já doíam agora estavam dormentes.
- Está caindo meio mundo lá fora! – Rebeca apareceu já pronta para ir embora. Seu cabelo que antes estava preso agora caiam como uma cascata negra pelos seus ombros. - Seu marido vem buscá-la?
Rafael vir me buscar? Ele com certeza deve estar em casa essas horas, pensei. Antigamente nossas rotinas eram mais preenchidas um pelo outro. Mandavamos mensagens direto. Coisas como: “estou saindo do serviço”, “quer que eu passe para busca-la”, “já está vindo?”. Mesmo que pareça bobo, eu sentia falta dessas atenções que tínhamos. Com o tempo, Rafael passou a me responder menos, até que ele deixou de avisar. No final, essas pequenas coisas também se foram.
Até que ponto tais mudanças são só o motivo do amadurecimento ou longo tempo de relacionamento? Até que ponto as coisas ficaram nas entrelinhas sem precisar de serem ditas? Até que ponto eu sei que ainda estamos bem?
Esfreguei meus olhos com as mãos antes de olhar para fora da janela atrás de mim e respondê-la.
- A coisa está bem feia – Olhei para o pequeno guarda-chuva em pé ao lado da mesa, será que ele aguentaria essa chuva? – Meu marido eu não sei, mas hoje eu tenho um guarda-chuva – Levantei o objeto para mostrá-lo a ela.
- Camila Pinheiros gastou seu sagrado dinheiro em um guarda-chuva? – Sua voz saiu exagerada a ponto de se tornar engraçada, fazendo-me soltar uma gargalhada.
- Eu não comprei, peguei emprestado. Vou devolver amanhã - Um bico descontente surgiu nos lábios da mulher à minha frente.
- Óbvio. Como pude pensar que VOCÊ gastaria dinheiro com algo assim. Enfim, eu preciso ir, tenho que buscar as crianças na escola. Até amanhã, Camila!
- Até!
Assisti Rebeca caminhar para fora do escritório antes de começar a juntar as minhas coisas para sair também.
A alguns anos atrás em dias como esse eu não precisava de um guarda-chuva. Por um lado nem se quer me importava em me molhar um pouco. A sensação de correr até o carro, que me esperava na entrada do prédio, era emocionante e nos renderam boas risadas.
“- Venha! Corra rápido! – Rafael gritava com a porta do nosso carro aberta me esperando.
Olhei em volta e com a bolsa entre os braços corri em direção ao automóvel. A chuva pesada não demorou para encharcar meu cabelo e o casaco. Meu tênis também logo se tornou 7ma barca de água enquanto pisava nas poças às espalhando.
Entrei no carro e em um gesto rápido fechei a porta. Soltei a bolsa no meu colo antes de me virar para o homem ao meu lado e o cumprimenta-lo com um beijo rápido.
- Oi. – Rafael me olhava com um sorriso largo.
- Oi. – Soltei uma risada. - Isso foi refrescante - enquanto tirava o casaco molhado Rafa ligou a carro e começou a dirigir.
- Como foi hoje? – perguntou e me olhou pelos cantos dos olhos me analisando.
- Do mesmo jeito que todos os outros dias. Gosto de organizar as coisas e garantir que todos tenham tudo o que precisam. Só... é um pouco cansativo. – Soltei um suspiro. Tentei me olhar pelo espelho do retrovisor para arrumar o cabelo – Mas veja pelo lado bom, posso tomar café de graça o dia todo.
Rafael soltou uma gargalhada.
Aquele sorriso preenchia meu coração, esquentando todo o meu corpo. Involuntariamente comecei a rir também.
- Só você para pensar assim, Camila. Fico feliz então.
- Como foi o seu dia? Alguma novidade? – ele me entregou uma sacola que estava no banco de trás, com uma toalha e uma blusa seca e agradeci – Obrigada.
Rafa entrou na faculdade no mesmo ano que eu, mas ao contrário de mim, ele ainda estava procurando por um emprego.
- Me chamaram para uma entrevista amanhã cedo. Se tudo der certo, nós podemos vir e voltar juntos todos os dias – Rafa tirou a mão do câmbio e a usou para segurar uma das minhas mãos ainda com um sorriso no rosto todo animado."
Uma das coisas que tinham feito me apaixonar por ele era seu sorriso. Após começarmos a namorar, era agraciada com este sorriso sempre que possuía seus olhos sobre mim. Não tinha como me sentir menos satisfeita e realizada. Ser o motivo do sorriso de alguém é uma sensação única e satisfatória que já não conseguia mais viver sem. Mais especificamente: ser o motivo dos sorrisos dele.
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Este Final Feliz Foi Eu Quem Escreveu
Teen FictionUma vida perfeita. Um relacionamento perfeito. Era o que todos achavam, até mesmo Camila. Surpreendida pelo repentinao término de seu relacionamento de 8 anos, Camila vai precisar se encontrar de novo, descobrir o que realmente quer para sua vida. ...