Primavera Doce (#1 Cena ensaio)

Nico saltitava de alegria, enquanto percorria a poeirenta, pedregosa e sinuosa estrada dos salgueiros. Descendo em direção a fazenda de seu avô, ao sul do vilarejo de São Benedito. A primavera finalmente chegara, e sua vó provavelmente já começara a fazer as guloseimas da estação. Os caramelos pegajosos e os doces de leite açucarados, os bombons laranjas de abóboras, os pães trufados de maça e biscoitos polvilhados. Logo ele poderia mordiscar tudo quanto quisesse, até que sua barriga roncasse de rejeição pela avalanche inconcebível de açúcar. Nico estivera ansioso durante o mês inteiro, esperando que a primavera finalmente chegasse e para que finalmente as fazendas ao norte do vilarejo de São benedito, mandassem os frutos de mais uma colheita ao vasto sul.

Nico aprendera ate mesmo a perceber a mudança das estações, de tanta ansiedade. Sua mãe lhe ensinara:

- Quando as árvores ganharem flores e começarem a dar seus primeiros frutos doces e o chão for tomado pela vida nova das flores. Quando os ventos se tornarem mais ousados e os aromas doces das rosas preencherem o ar e os dias se tornarem mais úmidos, frescos e pegajosos, então a primavera finalmente terá chegado.

E foi como ela disse. As planícies que se estendiam além das irregulares cercas e arames farpados que delimitavam a estrada dos salgueiros agora estava tomada por rosas brancas, vermelhas e de todas as cores o mundo. As árvores finalmente davam frutos robustos e o vento soprava sem medo, o pólen, as folhas e a poeira pela estrada. Trazendo frescor e umidade ao campo.

Nico se divertia com tudo aquilo. Ao longe já conseguia avistar a porteira e as cercas da fazenda de seu avô. Já era o final da tarde e o céu estava mergulhado em tonalidades rosadas, avermelhadas e alaranjadas, como leves hematomas no céu outrora azul, características do final da tarde. E de repente o pôr do sol nunca fora tão bonito e doce.