Ocean's daughter

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                                                                                                   Primeira Fase


Delfín, América Central.

― Mas nem pensar! ― O tom irritado na voz dela me fez recuar e escolher melhor as palavras.

― Por favor. Eu não posso ir lá sozinha, você sabe disso. E se eu me afogar e não tiver ninguém pra pedir ajuda, você nunca mais vai ter o prazer de usufruir da minha presença. Já pensou que mundo triste seria sem eu pra te estressar? ― Trabalhei na minha melhor cara de pidona, com um bico e tudo, vendo que ela abriu um dos olhos para me encarar.

― Não. Você não precisa ir sozinha, é só não ir e para de drama que medo do mar você não tem. Agora me deixa dormir porque são literalmente seis da manhã de um sábado perfeito para hibernar. Depois do almoço eu vou com você.

― Mas é meu ritual! Você sabe melhor que ninguém. Eu só preciso de alguém pra ficar de olho caso eu não consiga sair, como da outra vez. E ai que todo mundo está se fodendo pra mim no momento, então eu pensei na melhor amiga que eu poderia ter nesse mundo e que me ama muito para fechar a porta na minha cara. ― Minha estratégia de convencimento sempre foi falar até que a pessoa se irritasse o bastante para fazer o que eu queria ou me ignorasse pelo resto do dia. Nunca se sabe. ― Sem falar que o sol está nascendo e faz um tempão que a gente não vai assistir aquela obra de arte aparecer pela água, e eu sei que você
ama o sol, então-...

― Meu pai amado! Cala a boca, Madison. ― Ela levantou de supetão da cama confortável, me encarando como uma psicopata. Me arrastei sorrateiramente pelo quarto, tomando alguma distancia dela. Aquele olhar não é de gente saudável, credo. ― Porra, você ganha na base do cansaço sempre, parabéns. Me dê alguns minutos para que eu volte a ser um ser humano gentil que não joga a amiga pela janela e vai pegar minha prancha.

Ela virou o corpo e seguiu para o banheiro no corredor, fechando a porta. Soltei uma risada baixa, para que ela não escutasse e fui até o jardim da casa para pegar a prancha branca da Gabi. Conheci ela quando estava na quinta série, ela me empurrou no chão sem querer e quando comecei a chorar ela se desesperou, só não me prometeu um unicórnio porque não podia dar, mas fez de tudo para me ajudar. Um ano depois, Alex entrou na escola e sofria bullying porque o aparelho fazia ele falar estranho. Nós o acolhemos em nosso mais novo grupinho que segue firme até hoje. Agora estávamos cada um seguindo seu próprio rumo, aproveitando o restante das férias antes de recomeçar a rotina cansativa da faculdade.

― Bom dia, Madi. ― Fui puxada para um abraço repentino. Gabriela é bastante sentimental, um traço forte de sua personalidade. ― Desculpa se fui grossa, mas em minha defesa, você sabe que meu sono é sagrado.

― Está tudo bem, niña. Podemos ir?

― Sim, claro. Quando voltarmos comemos algo.

Afirmei com a cabeça, entregando a prancha dela e pegando minha mochila azul. Caminhamos em silencio pela casa tentando não acordar ninguém.

― Como você entrou aqui? Meus pais ainda estão dormindo.

― Ah, pulei pela janela do seu quarto. ― Dei de ombros, vendo-a negar com a cabeça, sorrindo.

― Você ainda vai acabar sendo presa um dia por invasão.

― Somente se me pegarem, Gabz. ― Balancei as sobrancelhas para ela.

O caminho até a praia era curto, já que vivíamos de frente para ela, portanto não demorou nada para que pisássemos na areia fofa e gelada. Respirei fundo antes de iniciar minha caminhada até a toalha estendida mais perto da água, que meu amigo havia trazido.

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⏰ Última atualização: Aug 19, 2023 ⏰

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