Prólogo

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1715 – Pollo Dommeus

O brilho das chamas no Palácio Vermelho acordou parte dos moradores de Pollo Dommeus, que preocupados, se indagavam se os rebeldes haviam chegado até a Capital. O palácio era a principal construção na cidade, era um prédio comprido e simétrico, construído com tijolos levemente avermelhados, com uma grandiosa cúpula se estendendo no encontro das alas principais. A entrada era decorada com grossas colunas redondas que sustentavam uma marquise decorada com diversas estátuas. De seu topo, flamulavam grandes faixas vermelhas que brandiam o lírio dourado, símbolo do império. As janelas negras se estendiam por todos os andares, suas molduras decoradas por todos os lados, e as telhas esverdeadas do telhado podiam ser vistas em toda a cidade. Nas casas mais próximas à praça que o palácio se situava, várias pessoas se amontoavam nas varandas, tentado entender o que estava acontecendo naquela madrugada. "Não, isso seria impossível, guerra está acontecendo no Norte, a centenas de quilômetros daqui", alguns justificavam. Alguns, mais preocupados, tinham a certeza de que o poder do Império corria risco, e que os republicanos poderiam chegar a suas casas a qualquer instante. Outros cultivavam certa esperança, e comemoravam em segredo o que poderia ser o último dia do grandioso Império do Oeste.


Algum tempo antes, no salão principal do palácio, encontravam-se seis pessoas. Todas vestidas com armaduras douradas, como se fossem cavaleiros, sendo diferenciados apenas por alguns pequenos detalhes. Cada um deles possuía um pequeno colar ornado com uma joia, cada uma com uma cor e forma específica. Aqueles cavaleiros eram conhecidos apenas como "O Conselho", as seis pessoas mais temidas em todo o Império. Existiam rumores que eles possuíam poderes que nenhum ser humano deveria ser capaz de ter, eram responsáveis por fazer a vontade da Coroa em todos os territórios conquistados.

O salão principal era diretamente abaixo da cúpula. No fundo, havia um grande trono, feito de pedra lisa. O trono era a única mobília em todo o salão, alto e pouco decorado, ele era constantemente iluminado por uma grande janela posicionada na fronte da cúpula. O chão era igualmente liso, mas muito decorado. No seu centro, o desenho de um lírio dourado era cercado por diversas representações de importantes momentos da história do Império. O entorno do salão era composto por diversas colunas como as da entrada, igualmente grossas e imponentes, que iam até a altura do teto, de onde davam espaço para as sustentações menos detalhadas da abóboda.

Um dos cavaleiros, com a joia vermelha em formato de hexágono, estava sentado ao trono, diretamente em frente ao cavaleiro que portava uma joia de cor verde vivo, e parecia implorar a compreensão de seus companheiros enquanto falava. Os outros quatro se encontravam à esquerda do trono, todos com os olhares fixos no que estava sentado, como se pudessem sentir a raiva dele emanado através dos dois únicos orifícios daquele capacete inexpressivo.
"Estão loucos! Estão TODOS loucos!". Essa frase pareceu atingir pessoalmente um dos presentes, que estava com a joia lilás. Ela tirou seu capacete, revelando uma mulher com uma longa cabeleira negra, presa para trás em uma trança, sem muita preocupação, visto que alguns cachos fugiam do penteado. "Nós já perdemos quatro províncias no Norte, e as revoltas aqui na capital estão cada vez piores. Ainda assim vocês se recusam a me ouvir!" O cavaleiro continuou a implorar, mas nenhuma de suas palavras parecia surtir efeito naquele que sentava ao trono, que continuava o encarando completamente imóvel, exceção apenas para sua perna, que tremia inquieta como se estivesse prestes a sair dando pontapés por conta própria.
"VOCÊS SE RECUSAM A FAZER A ÚNICA COISA QUE PODE GARANTIR O CONTROLE DO NORTE! VOCÊ ESTÁ DISPOSTO A SACRIFICAR AINDA MAIS TROPAS NUMA GUERRA QUE PODE ACABAR AGORA MESMO, RUBRUM?", vociferou o cavaleiro, desesperado, enquanto Rubrum se mexia pela primeira vez, repousando a cabeça sobre uma de suas mãos, como se o toque metálico entre a manopla e o capacete pudessem disfarçar a o que o sua perna deixava escapar.
Com um movimento rápido de sua mão, o outro paralisou, calando-se. Com calma, Rubrum se levantou e se dirigiu em direção a ele. Cada passo que ele dava emanava medo nos outros presentes. Uma grande capa vermelha se arrastava atrás dele no chão liso, seu som se misturando com o tintilar da armadura enquanto ecoava pelos corredores. Ninguém além dele se mexia. Rubrum era o mais alto dentre os seis, e cada movimento que ele fazia deixava um sentimento de medo flutuando no ar.

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