O primeiro passo (Cap.6)

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Depois de dois dias chegou o dia do enterro da Teresa, ela era um doce, era muito amada no seu bairro, o funeral estava cheio, eu não aguentei ao ver a mãe da Teresa a chorar tanto, ela que já não tinha forças para trabalhar, como é que será a vida dela daqui para frente.

Subi numa das cadeiras e gritei:
-Até quando?! Até quando vamos ser perseguidos e mortos em qualquer esquina?!
Até quando vamos ser menosprezados?! Até quando vamos ser tratados como lixo?!
Tudo tem um limite, e o limite disso já chegou, nós também somos seres-humanos, nós sentimos dor, nós queremos viver sem ter medo de ser confundido/a com um traficante, com uma prostituta, o limite chegou ao fim.

Depois desci da cadeira, o pessoal começou a aplaudir. Foi nesse exato momento que vi, que algo deve ser feito, convoquei todos para uma manifestação em frente à delegacia, todos concordaram.
Então terminou o funeral da Teresa com muitos choros, depois cada um foi para casa, a mãe da Teresa para não ficar sozinha, ela foi para Los Angeles, na casa de uma irmã.
Passou-se um mês, começamos a fazer as placas para a manifestação, todos contribuíram para a causa, trabalhamos duro, e já faz dias que não vejo o Jack, ele se esqueceu de mim tão facilmente, eu queria que ele estivesse aqui ao pé de mim, a vida é mesmo assim "Não se deve esperar o apoio de alguém que hesitou logo na primeira oportunidade."

Chegou a hora da manifestação e devo me concentrar nela, fomos a caminhar com os nossos cartazes escritos (Nós também somos humanos), (Direitos iguais não custa nada), (O negro também chora e sente dor).
Alguns brancos olhavam-nos com desdém, outros negros começaram a juntar-se, enfim chegamos à delegacia.

Um grupo de policiais saíram e fizeram uma barreira, nós parámos, fiquei na fila da frente peguei no altifalante e comecei a falar.
-Nós não representamos perigo nenhum, nós queremos ser aceite nessa sociedade como gente normal, nós não queremos andar com medo de ser preso ou morto por um policial por causa do seu racismo, o vosso serviço é trazer a segurança, mas nós estamos sempre inseguros porque somos negros. Me dizem quem é que não tem coração afinal de contas? Se vocês atacam inocentes!
Em seguida começamos a gritar "queremos direitos iguais".

Logo saiu mais um grupo de policiais, mas começaram a disparar balas de borrachas e a jogar gás pimenta, nós nos metemos em fuga, corremos logo daí, alguns foram atingidos mas, conseguiram escapar, o irmão da Monalisa foi agarrado e espancado, mas com a ajuda dos outros que estavam a jogar pedras, ele conseguiu fugir também.
Nos espalhamos, cada um foi para a casa, foi uma experiência muito louca, mas valeu a pena, algo tinha que ser feito.

Negritude - A Estória De Nia Sankofa. Onde histórias criam vida. Descubra agora