◈ •══─━━─𝕮𝖆𝖕 𝟏─━━─══• ◈

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        Ragnar olhava o relógio esporadicamente, sem qualquer pressa, só para ver quanto o tempo estava passando enquanto aproveitava mais uma fria noite de outubro com sua família, que hoje ele sabe que foi a última. 

        Enquanto ria das piadas velhas e empoeiradas do seu pai que sempre insistia em contá-las, sua irmã Lucca e ele riam e imitavam o mais velho, repetindo as tão velhas histórias, já gravadas na mente mas que ainda, só Odin sabe como – se é que ele existe -, nunca perdiam a graça. 

      Sua mãe, Charlotte, embora quisesse manter a pose de séria e recatada, sempre deixava um risinho ou um lindo sorriso por entre os lábios enquanto lançava olhares ternos para sua amada família e assim ia mais uma noite feliz e que hoje Ragnar se arrependia de não ter a aproveitado com mais afinco. 

       Não muito longe dali, alheios a felicidade que reinava na família, os moradores dum pequeno vilarejo se uniram para exterminar uma família, na qual era rondada por rumores e especulações. Alguns acreditavam que era adeptos á bruxaria ou seguidores do próprio mal, outros mais extremos os enxergavam como os próprios demônios na terra e se viam no direito de erradica-los de suas vidas. O que eles não sabiam, o que eu não sabia, era que essa família era a MINHA família.

      O ataque começou enquanto novamente Ragnar encarava o relógio e sorria, a hora marcada era 23:40, sua mãe esquecera de por os irmãos para dormir e enquanto ria dessa observando sua visão periférica notou a crescente chama que agora queimava e engolia a cozinha, agora já começando a avançar sobre eles e seu sorriso morre enquanto o desespero crescia. Seus pais já gritavam ordens um para o outro enquanto tentavam, sem muita sorte, apagar o fogo deixando a pequena Lucca nos braços do trêmulo garoto para que a protegesse. Enquanto um caos ocorria dentro da casa, outro também o acompanhava do lado de fora. No início o jovenzinho não era capaz de discernir barulho, mas movido pelo seu desejo de tentar entender o que era o garoto se esforçou e percebeu que o irritante tumulto se tratavam de gritos, gritos que feriam mais que qualquer lâmina o fazendo sangrar de uma forma que nenhum outro machucado conseguiria o mesmo efeito. 

         - SEUS MOSTROS!!!...ASSASINOS!!!...MATEM OS DEMÔNIOS!!! MATEM TODOS!!! –Gritavam os aldeões com o máximo de ódio e rancor que poderia haver em uma alma. 

          Arthur, o patriarca da família, gritava ordens de forma desesperada tentando em vão controlar o fogo que teimava queimar a nossa casa, conosco dentro.

        - Amor, por favor apague as chamas da sala, eu cuido da cozinha! VAI RÁPIDO !... - Sua voz morre ao começar o árduo trabalho totalmente em vão, mas sem perder as forças, tentando de tudo para salvar sua amada família. 

        - Tudo bem, mas por favor, por Odin...Não morra – Exclamou a recatada Charlotte enquanto se aproximava do já cansado Arthur e lhe dava um beijo rápido e cheio de esperanças não cumpridas. 

        Na sala em chamas a irmã chorava e suplicava nos braços de seu irmão clamando pelo bem da família e pela sua própria vida que acabará de começar. 

        - IRMÃO, POR FAVOR...eu estou com medo... – A voz da jovenzinha se alternava em gritos desesperados e em sussurros tristes e conformistas – I-irmão...Eu não quero morrer...NOS SALVE IRMÃO. VOCÊ É FORTE!!! – Pobre garotinha que tinha a doce visão que seu irmão podia tudo e conseguiria achar a melhor solução para a situação os tirando dali sãos e salvos, como sempre ocorriam nas infantis brincadeiras de tardes agora esquecidas pelo terror das chamas. 

        Ragnar não sabia o que fazer para ajudar e não queria desacreditar a amada irmã com a sua inutilidade na situação e só a abraça tentando em vão confortá-la enquanto se agachavam para desviar da saraivada de balas e projéteis que zuniam e passavam por si deles provocadas pelos verdadeiros monstros lá fora, que tentavam atrair por força a pobre família que insistia em continuar no abrigo da sua casa em chamas. 

       A saraivada de tiros recusava-se a cessar e assim a pobre Charlotte tomada pelo instinto de proteger seus amados filhos se aventura pela sala, nesse exato momento em meio a inundação de tiros na qual ela desviava por sorte emergiu através da já estralhaçada porta uma única bala a atingiu em cheio, se isso já não bastasse para encher os olhos dos pequenos que assistiam aquela brutalidade com os olhos descobertos, outros projéteistambém seguiram o primeiro e perfuraram o corpo da pobre senhora, que teve seu fim antes mesmo de poder repousar sua cabeça no chão gélido , agora já manchado de um vermelho escarlate em grande contraste com o corpo que já esfriava e se tornava plácido e sombrio. 

      - MAMÃEEEE!!! - os irmãos que perceberem a triste realidade que recairá por eles gritaram em uníssono tomados pelo desespero e pela angústia. 

       Ragnar xingava e murmurava expondo sua fúria por meio de palavras e bramidos de dor. Seu coração estava banhado em dor e angústia, seu coração dois como se mil farpas o tivesse perfurado e ele não conseguia fazer parar...ele não queria, pois essa dor era a prova viva da sua insuficiência. 

       Perdidos em seu estupor, os irmãos não perceberam a aproximação do pai até este se estira-se no chão ao lados deles para escapar das balas que ainda cantavam e zuniam pelo ar, embora mais esparsas. Arthur tentava a todo custo não olhar para o corpo de sua tão amada esposa mantendo-se firme e racional naquela tão estressante situação. Mas ao se estirar no chão ao lado de suas temerosas crianças sua mão acaba por tocar a fina e branca mão de Charlotte fazendo sua resolução se esvair como o vento permitindo que ele tenha um vislumbre de sua amada já morta de forma tão brutal e pelo que se parecem horas, não passando de meros segundos, Arthur lembra de todas as promessas que agora se tornaram impossíveis de cumprir restando apenas a desilusão. 

        - Espero estar logo com você... – Foi sua despedida sussurrada ao vento antes de se virar para seus filhos e ordenar sem deixar outra escolha – Crianças, para os fundos,AGORA!!! Vamos fugir pelos fundo, vai, vai, vai ! 

        As crianças, ao comando do pai se levantam assim que a saraivada cessa e correm passando pelas incessantes chamas, finalmente alcançando a porta a forçando a abri-la. Mas ao ouvir as tentativas de arrombar a porta da frente, Arthur toma a dianteira e se joga na porta com força a abrindo e deixando a família exposta ao céu noturno pontilhado de estrelas ironizando com o caos que ocorria na terra. 

       Seus filhos, embora bem treinadas na furtividade necessária para a caça – ramo da família – Não conseguiram deixar de serem vistas por um dos aldeões que ficou a paisanaque avisou o restante de seus companheiros dando inicio a uma caçada humana pela densa floresta divida em sobreviver e matar

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Revisado...(1169 palavras)
Data de publicação: 30 de Maio de 2022

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⏰ Última atualização: May 30, 2022 ⏰

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Ragnar e as experiências dos corvosOnde histórias criam vida. Descubra agora