Last call

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A lua cheia banhava a cidade de Los Angeles. A beleza inigualável fazia com que pessoas parassem durante alguns segundos só para admirá-la. Mas para Sam, essa beleza já não era encantadora.

Tudo parecia sem cor.

O belo sorriso já não estampava o lindo rosto, e os olhos azuis já não possuíam o mesmo brilho de antes.

Duas agitadas crianças esbarraram nela, fazendo com que o copo de café caísse ao chão, manchando um pouco do simples casaco branco.

Ela suspirou com pesar.

As linhas de cansaço se tornaram visíveis quando ela franziu o cenho limpando os respingos da bolsa preta que imitava couro. Se fosse em outro tempo, ela com certeza faria algo a respeito, porém, apenas continuou a andar...sem ver ou ouvir.

nada mais importava. 

A rua movimentada era um completo pesadelo. Houve uma época em que ela amaria a agitação, pediria um belo cachorro quente em uma daquelas barraquinhas de rua, e também abusaria de gostosos bolos gordos. Hoje, ela era apenas os resquícios dessa Samantha.

A vida não foi nenhum pouco boa com ela. Diferente de seus amigos, Sam não entrou para uma faculdade, não cursou o curso dos sonhos, não encontrou outro alguém que lhe chegasse ao coração. Diferente deles, ela já sabia que seu destino não seria bom. Ela havia tentado, Deus era testemunha do quanto ela tinha se esforçado. Sam foi contratada para atendente de um fast food, o dinheiro era pouco, mas dava para se alimentar e pagar algumas contas. Nesse mesmo tempo, Pam ficou doente, câncer, e ela junto da irmã tiveram que se dobrar para o tratamento. Não obtiveram resultado, pois um mês depois, Pam acabou falecendo. Foi um choque para Sam, foi onde tudo terminou de dar errado.

O contato com os amigos diminui conforme o tempo. O trabalho novo exigia muito dela, as contas cresciam cada vez mais, e ela estava prestes a ser chutada da pensão em que morava, já que vendera a casa para pagar dividas atrasadas do hospital.
Mel, sua irmã, não mantinha mais contato com ela depois do ocorrido com a mãe e, honestamente, Sam entendia que não era uma pessoa que alguém gostaria de ter por perto.

A terapia foi esquecida anos atrás. Sam sabia que seu psicológico estava em cacos, como um copo que cai ao chão rompendo-se em vários pequenos pedaços.

Estava cansada.

Hoje, Sam parou para admirar a lua, ela pediu um bom cachorro quente e o banhou com muita mostarda. Hoje, ela observou as pessoas. Respirou o ar frio de Los Angeles, sentindo a brisa gelada bater contra seu rosto. E acima de tudo, lembrou de um antigo amor e amigo.

Em casa, ela buscou o celular em sua pequena bolsa para discar um número tão conhecido.

- Alô! - a voz grossa do outro lado da linha lhe causou uma onda de sentimentos.

- Freddie... - a timidez em sua voz era perceptível. - É a Sam.

- Sammy? Olha quem finalmente resolveu aparecer. - ele sorria. ela sabia apenas pelo modo como a voz soava, era só fechar os olhos e ela seria capaz de ver aquele típico sorriso encantador tão característico dele. - Faz muito tempo desde que nos falamos.

Era a verdade, e a culpa era exclusiva dela.

- Sim, eu andei ocupada... - foi a única resposta que pôde dar.

- Ocupada de mais até para os amigos...para mim?

Ela suspirou.

- Era necessário...

- Eu liguei tantas vezes...até perceber que o número já não pertencia a você. Senti sua falta.

Era algo que ela não precisava ouvir. Ela estava no mais profundo poço, e não levaria mais ninguém com ela.

Páginas Curtas: Oneshots SeddieOnde histórias criam vida. Descubra agora