Capítulo único.

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Harry acordou as seis da manhã, como de costume. Sentou-se na cama macia, passou a mão pelo rosto mecanicamente, descobriu-se com o fino lençol de seda e colocou os pés no chão. Havia acordado sem o calor do seu marido contra o seu corpo, o que significava que Louis estava no quarto das crianças, o que confirmou quando a babá eletrônica começou a apitar com a voz fina do marido.

"Eu sei, meu amores, eu também não queria, mas é o trabalho do papai. Amanhã ele vai estar aqui e então poderemos comemorar como a família linda que somos, tudo bem?" a pergunta de Louis ficara no ar, visto que Harry não ouviu a resposta de nenhum dos dois filhos.

Estralou as costas, balançou o pescoço de um lado para o outro. Havia feito um juramento quando entrou nessa profissão, sabia que as coisas não seriam fáceis, porém era recompensado todo o santo dia quando ouvia um obrigado de algum familiar de seus pacientes, ou quando presenciava uma cena de choro de puro alivio e alegria quando anunciava que a cirurgia havia sido bem sucedida. Haviam momentos ruins também, quando era obrigado a colocar seu coração em suas mãos e agir profissionalmente. Em todos os anos de carreira, apenas três pessoas haviam morrido em suas mãos. E cada vez que entrava em uma sala com suas luvas e proteção, Harry dava a sua vida para salvar a vida de outra pessoa.

Então se perguntarem se ele se arrepende do que faz, ele dirá que não. Absolutamente não.

Mesmo que isso signifique deixar seu marido e seus filhos sozinhos na noite de ano novo.

Harry os recompensaria depois.

Levantou-se a contragosto e dirigiu-se para o banheiro. Meia hora depois, estava de banho tomado, calça jeans, blusa preta e sua bolsa pendurada no ombro. Não havia tempo para tomar café. Grinshaw sairia do plantão às oito e Harry precisava estar lá antes de ele ir embora.

"Bom dia." pronunciou, adentrando na cozinha e encontrando sua família.

Louis estava de pé no fogão, preparando o café da manhã das crianças, que estavam sentadas comportadamente ao redor da mesa, trocando segredos e risos. Louis virou-se assim que ouvira a voz do marido, encontrando-o todo arrumado e engoliu em seco, desligando o fogão e colocando a última panqueca no prato junto com as outras e depositando-o na mesa.

"Ao menos vai tomar café?" indagou com a voz um tanto raivosa.

Mas não conseguia aceitar!

Em todos os anos de casado, Harry nunca havia deixado de estar ao seu lado em datas importantes. Em seu aniversário, Natal, ano novo, aniversário das crianças. Estava ciente do ano difícil que tiveram. A morte precoce de Anne havia devastado o marido, e consequentemente a família toda, que sentia a dor do médico de forma real. Louis apenas queria que Harry passasse a noite com eles, que há meia noite eles trocassem um beijo enquanto fogos de artíficio explodiam pelo céu.

Porém o marido havia tomado sua decisão e não havia nada que pudesse fazer diante disso.

"O turno do Nick termina ás oito, tenho que estar lá antes disso." disse, pegando seus óculos escuros preso na gola da camisa e colocando-os na cabeça. Aproximou-se um pouco relutante com o olhar ferido do marido e beijou-o a testa. Depois, virando-se para os filhos, beijou-os e abraçou os dois ao mesmo tempo, antes de bagunçar levemente o cabelo de cada um. "Vejo vocês amanhã, meu amores. Papai ama vocês."

"Amamos você também, papai." o mais velho disse, sorrindo largo enquanto o mais novo balançou suas pequenas mãos no ar. Não entendiam muita coisa ainda para notarem a tensão enorme que pairava sobre a cozinha, entre seus pais.

Louis evitou olhar para o abraço de despedida, não queria brigar de novo, já bastava os horríveis minutos de discussão da noite anterior quando praticamente implorou para Harry não ir e tudo o que ouviu foi um 'sinto muito, eu preciso'.

Violent overnight rush | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora