O BAMBURRISTA

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Selmir ou como era conhecido por sua altura acima da média, "Sumirão" de Olinda assumiu a catra que era de Clarismundo Sérgio e depois de "tirar o cubú", bebendo uma garrafada de Guiné e raiz amarga de Genciana, dormindo com a prostituta Marina "Penteio de Ouro", pegou um diamante do tamanho de ovo de galinha d'Angola. 

Para os novos fãs, interesseiros admiradores de Sumirão de Olinda e os dentro do esquema  de "reclames" para difusão do garimpo, o diamante era do tamanho de um ovo de galinha, de duas gemas, para confundir com o vocábulo gemas de minérios limpos de "urubus" ou
" zinabres" com as gemas dos ovos bivitelinos.

Na natureza, mundo animal as gemas  duplicadas  não chocam, gourando antes dos vinte e um dias, numa defesa das aves e alguns  répteis contra o aumento  repentino do número de filhos, ou para evitar gêmeos siameses rastejando ou voando por aí.

Desde então virou "bamburrista" e "larguinho", nomes dados aos sortudos no garimpo da Boca da Mata. Passou a pagar pinga, canjimbrina, cachaça  de aguardente de cana-de-açúcar para todos nas rodadas ou rodízios  do Canoão, cabaré do povoado.

A frente de "faxiar" ou de pesquisar  diamantes  foi esquecida, os foragidos do regime militar de 1964 passaram a tomar conta do local e a virarem novos ricos e esquecidos do golpe em curso, deixando até de serem "comunistas", no jargão da caserna,  para se tornarem prósperos comerciantes de minérios.

– Vamos tirar o dedo do toba - dizia o Baltimore Bezerra, um garimpeiro do Ceará, que chegou corrido da perseguição do Comando de Caça aos Comunistas.

– Não vai sobrar nenhuma puta pobre no Canoão - completava o garimpeiro Louro da Marica.

Sumirão entrou em falência dois ou três anos depois, e já não podia voltar ao Garimpo de Boca da Mata, devido tal o volume de dívidas feitas em seu nome, nos boliches, bares, cabarés e armazéns.

O lado profano era isso, o lado "cristão" era das dívidas de batizados, casamentos, enterros e a incipiente funerária do Velho Pulu, tudo no caderninho como fosse do Sumirão. 

Mas o Bamburrista também não era pouca coisa. Comprou uma boate "de porteira fechada", para a festança com os sócios, que era como se tratam garimpeiros no dia a dia. Os mais endinheirados, eram assim chamados e saudados, numa espécie de fraternidade, já os que trabalhavam para estes eram chamados de meia-praças ou "curaus", e os pistoleiros tinham como tratamento "Guaxebas", " Orelhas-Secas" e "Olhos Amarelos".

Fazendo em miúdos, todos os seus milhões de cruzeiros nacionais, o garimpeiro antes afortunado depois de se casar com uma professora do primário de nome Creuza Macieira, montou numa D-14 e desapareceu no mundo.

Anos mais tarde, apenas Creuza voltou ao garimpo, montou uma boate de luxo, de nome "Vidrão" e se estabeleceu na vida de tolerância, passando a ministrar outras aulas aos alunos, gerando emprego e renda às alunas, se é que assim pode ser compreendido o ofício mais antigo deste Planeta.

As ruas de Amsterdã se transportavam, por partículas de elétrons, na velocidade  da luz, para as ruas de chão do garimpo, consagrando o espírito do tempo,  de efeito  "zeit geist" naquele abismo entre os Andes e a Serra do Mar.

Mulheres-dama apreciadas como em "garrafa-vitrine", no meio do nada, prontas para serem servidas.

Sumirão acabou com o patrimônio,  desapareceu para sempre do garimpo,  mas deixou muitas prostitutas felizes, algumas até proprietárias de Hotéis de Luxo, como ocorreu a Marina Penteio de Ouro e seu dormitório com nome mais que glamuroso e temático: Fios de Ouro, Park Hotel Out Sider-FOPHO.

Era um soco no estômago do mau senso patronímico da Pensão Seca, Bar Gogó de Ema e na Mercearia Sovaco de Cobra.

Marina, acostumada ao mitiê, era quem recebia os hóspedes, sempre com um sorriso maravilhoso. Se a pessoa demonstrasse desconforto ela logo dizia num gracejo:
– Helke – explicando então entre gargalhadas que " é o que se pôde fazer !" .

O verdadeiro rico não se ocupa em esfregar a sua opulência nas faces oprimidas pela sua avareza, mas se torna também  sábio a ponto de transbordar bênçãos  a todos.

Antônio  Rico dos Pássaros

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