A voz

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Eu tinha apenas 10 anos quando meus pais morreram. Era meu aniversário, dia 20 de Fevereiro. Lembro-me de acordar com uma sensação estranha. Sabe, sempre tive sonhos muito criativos, e costumava lembrar deles e contar para as pessoas ao meu redor, era sempre muito engraçado, meus pais diziam que um dia eu seria cineasta.

Mas bem, naquele dia não, eu não conseguia lembrar do meu sonho, mas sabia, eu sentia que ele era extremamente importante, é como quando você esquece o que iria falar, está ali, em algum lugar na sua mente, está por perto, mas não dá pra enxergar, nem se voltar os pensamentos. É simplesmente horrível.

Eu, minha mãe e meu pai, estávamos dentro do carro, e estávamos fazendo uma viagem para comemorar meu aniversário, a chuva estava cada vez mais forte.

-Ele acordou, César! - disse minha mãe para o meu pai, com um feliz sorriso no rosto, quando eu abri os olhos. Minha mãe era assim, muito feliz. Tinha cabelos curtos, olhos brilhantes e um cheiro de... bem, aquele confortável cheiro de mãe, tão confortável quanto um moletom no frio.

-Feliz aniversário, campeão - respondeu meu pai, também com um enorme sorriso no rosto, tirando rapidamente os olhos da estrada e olhando para mim pelo espelho do carro, em seguida, os voltou para a estrada. Meu pai também não era muito diferente da minha mãe, ele tinha olhos alegres, esperançosos, era um homem alto, adorava esportes, qualquer um, seu passa tempo favorito era sentar no sofá e vê algum jogo comigo futebol. Eu nunca fui chegado nos esportes, mas pode se dizer que meu passa tempo favorito era sentar perto dele e vê o quão incrível era meu pai.

-Helena - falou meu pai - a estrada parece não acabar nunca, tem certeza que estamos indo na direção correta? - pergunta enquanto a chuva ficava cada vez mais forte.

-Olha, o mapa diz que sim - respondeu ela - já viemos por aqui várias vezes e sinceramente, eu não consigo me lembrar de ficar tanto tempo seguindo esse caminho - encerrou. Recordo-me muito bem que nesse momento, uma forte névoa começou a nos cercar, e me recordo muito bem porquê sempre fui fã de chuva, névoa, frio... mas não ali, algo estava muito errado, tinha a ver com o meu sonho, se ao menos eu pudesse me lembrar, poderia evitar todo o desastre que iria acontecer; mas eu era uma criança, não entendia nada, já conseguia sentir vários tipos sensibus (depois eu explico o significado desse termo, embora seja basicamente, sensações), só que não era possível explicá-las ou entende-las por completo.

-Merda - falou meu pai - assim não vai dar para continuar, será que não tem nenhum lugar onde possamos parar e esperar o tempo melhorar? - perguntou. E com o que parecia ser uma enorme coincidência, uma casa de grande apareceu na nossa visão, do lado direito da estrada. O que achei mais curioso é que a névoa não cercava a casa, como se temesse a própria energia que a residência transmitia.

-Essa casa não deveria estar aqui - falou minha mãe - eu nunca tinha visto. Por aqui só tem mato- e por um estante cheguei a achar que passaríamos direto, mas meu pai resolveu parar o carro na frente da casa.

-Vocês ficam aqui. Eu vou descer e falar com o dono da casa - disse meu pai descendo do carro e indo em correndo em direção à porta. Naquele momento, senti um calafrio percorrer meu corpo, e uma frieza emanar de dentro de mim. Senti que estávamos sendo observados, alguém estava nos caçando. Fiquei inquieto. Olhei pela janela esquerda e não vi nada, olhei na direita, nada também. Mas quando sentei e olhei para a casa, vi alguém debaixo da chuva, olhando na minha direção. Meus pais nunca tinham me falado com detalhes sobre o que era a morte, talvez, se o tivessem feito, estaríamos todos vivos hoje, mas não fizeram. Enfim, mesmo ainda não entendendo muitos detalhes sobre a morte, podia sentir que, quem quer que fosse, não estava vivo, embora estivesse longe de estar morto.

-Noah? - perguntou minha mãe olhando preocupada para mim - você está bem?

-Sim - respondi. E quando voltei os olhos, pessoa tinha sumido - é que eu acho essa casa muito estranha - acrescentei.

Filhos da MadrugadaOnde histórias criam vida. Descubra agora