O homem da minha memória

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I.

Acordei em um quarto no hospital St. Edwiges. A cama era muito confortável, tinha lençóis brancos, paredes com a cor azul ciano, uma televisão, e me lembro de ver a chuva caindo pela janela; era um ótimo hospital que tinha na minha cidade natal, eu adorava ficar doente, só para que os meus pais me levassem pra lá, porquê eles tinham a melhor gelatina de morango da cidade inteira. Ainda sinto muita falta daqueles tempos, mas ainda tenho muito o que contar, então não vou me prolongar mais nesse assunto.

Quando abri os olhos, minha tia Emily estava sentada ao meu lado, segurando minha mão (que estava fechada segurando a pedra que ganhei) e cheia de lágrimas em  seus pequenos olhinhos. Ela chorava tanto. Viu que eu tinha acordado e esboçou um pequeno sorriso de felicidade, pequeno mas verdadeiro. Tia Emily não aguentou por muito mais tempo, caiu aos prantos novamente, e foi naquele momento que eu lembrei, lembrei tudo o que tinha acontecido.

-Tia, eles morreram mesmo? - perguntei mesmo sabendo a resposta. Eu precisava, eu desejava mais que tudo que aquilo fosse um sonho.

-Ah, pequeno... - ela fez uma pausa para tentar controlar suas lágrimas - sim, eles faleceram - eu perdi o fôlego. Não podia ser real, aquilo era um sonho, um pesadelo horrível.

-Acharam o carro capotado na estrada que leva para fora da cidade. Você foi o único que conseguiu sobreviver ao acidente, e graças ao meu bom Deus - falou ela segurando um pingente de crucifixo que ficava em seu pescoço - sem nenhum arranhão.

-Acidente? - eu disse em choque - aquilo não foi um acidente! foi o homem daquela casa preta que assassinou eles - naquele momento, o médico entrou na sala e me olhou com uma cara de tristeza. 

-Calma, Noah - ele olhou para a minha tia - isso é um sintoma comum em pacientes que passaram por essas situações, principalmente jovens.

-Não, vocês não estão me ouvindo porquê sou criança - respondi chorando - mas se os adultos me ouvissem, meus pais não teriam sido mortos na minha frente! Por quê não me escutam nunca? - e essa é última coisa que me lembro do hospital. Um desabafo, um sentimento de raiva e muita saudades, mal sabia eu que esses sentimentos iriam me acompanhar durante toda a minha vida.

II.

Agora, vou contar como vim parar nesse mundo realmente. Tudo começa 8 anos depois do ocorrido que acabei de vos contar. Eu estava morando em uma cidade no interior com a minha tia Emily e meu primo Douglas. Eles eram incríveis, pessoas extremamente bondosas. Meu primo, que era apenas um ano mais velho que eu, adorava minhas histórias de terror, assim como várias pessoas na internet, e aliás, foi assim que consegui uma bolsa no curso de letras para a faculdade Machado de Azevedo, que ficava na minha cidade natal, Palmares, eu ia para lá na semana seguinte. Mas enfim, eu já tinha meus 18 anos, entretanto, era um dia especial, 17 anos de Douglas.  Acordei tarde, como sempre, toquei no meu bolso e senti a pedra que sempre carregava comigo, e vi que meu primo já tinha levantado, como de costume. Dormíamos em uma beliche. Quando eu fui morar com a minha tia, Douglas dormia na cama de cima, mas vendo que quando chegava a noite, eu não conseguia fechar os olhos por conta do meu medo, ele trocou comigo. Embora eu fosse o mais velho, ele é quem sempre cuidou de mim e me apoiou nos meus sonhos. Foi uma pena ter que deixa-lo. Pretendo um dia lhe rever. Nosso quarto era pequeno, tinha uma pequena mesa onde eu estudava e escrevia, uma grande janela de vidro por onde os raios de luz entravam e iluminavam o quarto todo, um guarda-roupa grande e velho e um pôster de um filme nerd de fantasia medieval que Douglas amava. Levantei da cama e desci para ir de encontro com eles. 

Apesar de não ter muitos quartos, a casa era grande, então não vou detalhar muito mais que isso. Desci rapidamente as escadas de madeira e fui até a cozinha.

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⏰ Última atualização: Nov 27, 2020 ⏰

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